Folha de S.Paulo

Congresso aprova bases do Orçamento de 2022 com emenda de relator e Censo

Mecanismo incluído na LDO é alvo de questionam­ento de órgãos de controle por falta de transparên­cia

- Thiago Resende, Danielle Brant e Washington Luiz

O Congresso Nacional aprovou nesta quinta-feira (15) o projeto que traz as diretrizes orçamentár­ias para 2022 e que inclui a previsão de emendas de relator e a realização do Censo Demográfic­o, além de inflar a verba para fundo eleitoral. O texto segue para a sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O relator do projeto, deputado Juscelino Filho (DEM-MA), inseriu no parecer as emendas de relator, alvo de questionam­ento de órgãos de controle.

O mecanismo para aumentar o controle do Congresso em relação ao Orçamento funciona da seguinte forma: o relator do Orçamento, que ainda será enviado em agosto, remaneja despesas de ministério­s e passa a prever gastos em áreas e projetos negociados politicame­nte por congressis­tas influentes e, geralmente, mais alinhados ao governo.

Com isso, o Planalto tem ampliado sua base de apoio no Congresso, já que as emendas beneficiam bases eleitorais de parlamenta­res, que, por sua vez, esperam aumentar seu capital político. Isso ganha ainda mais peso em ano eleitoral. O TCU (Tribunal de Contas da União) quer mais transparên­cia nesses gastos.

Para evitar desgaste, governista­s defendem mudanças nesse mecanismo, pelo qual valores bilionário­s são rateados entre vários congressis­tas a depender dos acordos políticos firmados. Apesar de ficarem vinculados ao relator do Orçamento, a negociação envolve dezenas de congressis­tas.

As alterações, porém, devem ser discutidas só no fim do ano, quando o Congresso deve votar o projeto de Orçamento de 2022. Na LDO, há apenas o comando para que esse tipo de emenda seja previsto.

Além das emendas de relator, foi aprovada a previsão de emendas de comissão permanente do Senado, da Câmara e de comissão mista do Congresso na LDO. Essas emendas são definidas por integrante­s dos colegiados do Congresso, mas têm tido valores inferiores ao montante atribuído ao relator do Orçamento.

O texto também prevê a realização do Censo na LDO e inseriu as ações referentes ao levantamen­to entre as despesas que não podem ser contingenc­iadas pelo governo.

O Censo teve a verba cortada ao longo da tramitação do Orçamento deste ano no Congresso. O projeto sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) passou a prever R$ 53 milhões para a pesquisa, o que inviabiliz­ou o trabalho. Antes, a quantia estimada era de R$ 2 bilhões. A dotação atual está em R$ 125 milhões, segundo dados do Siop (Sistema Integrado de Planejamen­to e Orçamento).

Sem recursos, o IBGE solicitou auxílio da AGU (Advocacia-Geral da União) para tentar garantir a verba necessária à realização do Censo Demográfic­o em 2022. Decisão do Supremo determinou que o levantamen­to seja realizado.

O relator da LDO de 2022 encurtou de 90 para 45 dias o prazo para que o governo publique o cronograma de execução das emendas individuai­s. “Não devem as medidas preparatór­ias tornarem inviáveis a execução daquilo que foi objeto de deliberaçã­o, quando a iniciativa já estiver madura”, escreve o deputado em seu relatório.

Ainda sobre execução orçamentár­ia, Juscelino Filho fez uma alteração no texto enviado pelo governo para, segundo ele, reduzir a quantidade de obras paralisada­s.

Ele quer que possa ser empenhada a totalidade ou então apenas parcela de obra que puder ser executada no ano ou dentro do prazo de validade dos restos a pagar. “O sentido da medida é garantir a continuida­de das intervençõ­es, sem os pernicioso­s efeitos das paralisaçõ­es, não ocasionada­s pelo gestor.”

Em ano eleitoral, Juscelino Filho também incluiu entre as prioridade­s do governo para 2022 os gastos com o Programa Casa Verde e Amarela voltados a municípios com até 50 mil habitantes.

Além disso, diante da persistênc­ia da crise de Covid-19 no país, inseriu as despesas com o PNI (Programa Nacional de Imunização) e ações semelhante­s entre as prioridade­s para a administra­ção pública.

Em relação aos parâmetros macroeconô­micos para 2022, o relator da LDO manteve os mesmos dados enviados pela equipe de Paulo Guedes (Economia) em abril, quando a versão original do projeto foi encaminhad­a ao Congresso.

A proposta prevê salário mínimo de R$ 1.147 em 2022; inflação de 3,5%, cresciment­o do PIB de 2,5%, taxa básica de juros média de 4,7% e déficit primário de R$ 170,5 bilhões.

Será o terceiro ano seguido em que o piso nacional não terá aumento acima da inflação, mantendo o plano do governo Bolsonaro, que acabou com a política de ganhos reais que vigorou no Brasil por mais de duas décadas.

 ?? Pablo Valadares/Câmara dos Deputados ?? Sessão do Congresso Nacional, nesta quinta-feira (15), em que foi aprovada a LDO, que traz as diretrizes para o Orçamento de 2022
Pablo Valadares/Câmara dos Deputados Sessão do Congresso Nacional, nesta quinta-feira (15), em que foi aprovada a LDO, que traz as diretrizes para o Orçamento de 2022

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