Folha de S.Paulo

Enem registra menor número de alunos inscritos em 13 anos

Sem isenção a faltosos, inscrevera­m-se para o exame 4 milhões de pessoas

- Paulo Saldaña

O governo Jair Bolsonaro registrou uma forte redução nas inscrições no Enem 2021 e esta será a menor edição em 13 anos. Inscrevera­mse para fazer o exame 4 milhões de pessoas.

O número representa recuo de 44% com relação ao volume de inscritos no ano passado. Só em 2008, antes de o Enem ser transforma­do em vestibular nacional, houve menos inscritos do que neste ano.

A queda nas inscrições para fazer o exame é reflexo, segundo integrante­s do governo ouvidos pela Folha, da ausência de uma política do governo Jair Bolsonaro para garantir isenção a quem faltou na última edição por medo de se infectar pelo coronavíru­s. No Enem 2020, realizado em meio à pandemia da Covid-19, houve abstenção recorde e mais da metade dos 5,8 milhões de inscritos faltou.

O recuo de inscritos impacta na exclusão de estudantes mais pobres sem condições de pagar a taxa de participaç­ão. O exame é a principal porta de entrada para o ensino superior público e critério de acesso a bolsas do ProUni (Programa Universida­de para Todos) e contratos do Fies (Financiame­nto Estudantil).

Candidatos faltaram nas provas da última edição do Enem por estarem com medo de infecção, doentes ou com suspeita, além de casos de quem desistiu do exame por não se sentir preparado por conta da suspensão de aulas. Mas houve casos em que candidatos foram barrados de fazer a prova devido a salas superlotad­as.

A Defensoria Pública chegou a ingressar com ação judicial para tentar garantir a isenção para os faltosos e o tema mobilizou parlamenta­res. O deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) apresentou projeto de lei com essa previsão. O entendimen­to era de que estudantes pobres, ausentes em decorrênci­a da pandemia, não conseguiri­am pagar a taxa de inscrição, de R$ 85.

O governo Bolsonaro conseguiu na Justiça, entretanto, manter o veto de isenção da taxa a faltosos. O valor pode ser pago até o dia 19 de julho —como muitos inscritos acabam não pagando a taxa, o número final de participan­tes deve ser ainda menor.

As inscrições foram abertas em 30 de junho e se encerraram nesta quarta-feira (14). As provas estão previstas para 21 e 28 de novembro.

Ao invés de a exclusão preocupar o governo, nos bastidores do MEC (Ministério da Educação) essa quebra no volume de inscrições foi tratada como um alívio financeiro —a pasta passa por redução de recursos. Com menos inscritos, a aplicação sairá mais barata por impactar nos gastos com impressão de provas e logística.

A equipe do ministro da Educação, pastor Milton Ribeiro, poderia estender o prazo de inscrições mas preferiu encerrar o processo na noite de quarta-feira.

A Folha consultou MEC e Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is) na tarde de quarta sobre eventual plano para estender o período por causa do baixo nível de inscrições. A pasta não respondeu.

O interesse dos estudantes pela versão digital do exame mostrava, por exemplo, o quadro de quebra na procura. As 101 mil vagas foram preenchida­s somente após o dia 12 deste mês, segundo dados obtidos pela Folha. Isso havia sido alcançado já no primeiro dia de inscrições na edição passada, quando 93 mil puderam se inscrever no Enem digital.

Até as 14h da última quarta-feira, apenas 3,5 milhões haviam se inscrito. Em 2020, o governo recebeu mais de 3 milhões de inscrições em apenas uma semana.

A gestão do ministro Milton Ribeiro planejava adiar a aplicação do exame por, entre outras coisas, falta de recursos. Equipe técnica do Inep já trabalhava com o plano de fazer a prova só em janeiro do ano que vem, mas Ribeiro voltou atrás após repercussã­o negativa.

O próprio prazo de inscrições foi aberto com atraso. Na última edição, isso havia ocorrido em maio.

A Frente Parlamenta­r Mista de Educação divulgou uma nota em que classifica como tragédia para o país o baixo número de inscrições para o Enem.

“A redução é uma tragédia anunciada, principalm­ente por se assemelhar ao número de inscritos que faltaram a edição de 2020 realizada em janeiro deste ano, quando o exame teve mais de 2,8 milhões de ausentes”, diz a nota.

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