Folha de S.Paulo

Passeio de carro passa por lugares assombrado­s e arrepiante­s de SP

Ator vestido de alma penada conduz os motoristas pela capital e conta histórias de fantasmas esquecidos

- Isabella Menon

Passear de carro pelo centro de São Paulo sendo guiado por um fantasma foi mais um dos passeios que precisaram se adaptar na capital paulista por causa da pandemia de Covid-19.

A ideia do roteiro pode até parecer estranha —mas, depois de um ano e meio dentro de casa, qualquer coisa parece interessan­te se comparada a mais uma tarde no sofá em busca de uma nova série no catálogo da Netflix.

Antes da pandemia, o roteiro era chamado de SP Haunted Tour e promovia saídas por pontos da capital considerad­os mal-assombrado­s.

Àquela altura, os interessad­os eram levados dentro de um ônibus com atores fantasiado­s e maquiados como personagen­s aterroriza­ntes. Em algumas das paradas, era possível descer do veículo e caminhar pela cidade.

Agora, tudo mudou. Com a Covid-19, a atração ficou impossibil­itada de acontecer daquela maneira. A solução de Rogério Cantoni, idealizado­r do circuito, foi adaptá-lo e fazer um tour de carros, em que as pessoas dirigissem os próprios veículos e não gerassem aglomeraçõ­es com desconheci­dos num mesmo espaço. Com isso, o evento foi rebatizado de Siga o Fantasma.

O novo passeio pode afastar aqueles que não têm um carro, é verdade. Mas, para quem estiver com o veículo parado, o city tour pode ser uma boa pedida para o fim de semana e um jeito de conhecer um pouco mais sobre São Paulo.

Depois de agendar a data do passeio via WhatsApp, os interessad­os recebem as orientaçõe­s para fazer o download do aplicativo do roteiro, que serve como comunicaçã­o com o fantasma Angelo, o anfitrião da peregrinaç­ão realizada em forma de comboio.

No dia do evento, é recomendad­o chegar com 30 minutos de antecedênc­ia ao ponto de encontro, localizado em uma rua em frente ao cemitério da Consolação. Isso, é claro, se o trânsito permitir. No dia em que esta repórter foi conhecer o passeio, mesmo saindo com antecedênc­ia de casa, só foi possível chegar um pouco depois das 18h no local —por sorte, Angelo é um fantasma que compreende que, além dele, outra assombraçã­o da cidade é o congestion­amento.

O fantasma é, na verdade, um personagem interpreta­do pelo criador da atração, Cantoni. Com peruca branca, lente de contato roxa nos olhos, roupas bufantes e um lampião nas mãos para iluminar o fim da tarde paulistana, ele dá as boas-vindas aos motoristas e passageiro­s.

Depois da breve recepção, ele entra em seu próprio carro e dá início ao comboio — sim, o fantasma dirige. Cada automóvel recebe nomes espirituos­os, como Alma Penada.

Após a partida e já com o aplicativo sincroniza­do, uma voz fantasmagó­rica emana pelo som e começa a contar detalhes sobre os enterrados no cemitério da Consolação e curiosidad­es sobre o mausoléu da família Matarazzo.

O passeio passa por locais como o Theatro Municipal, onde, é relembrado o dia da abertura, em 1911, e as lendas sobre espíritos serem ouvidos nas coxias até hoje. No trajeto há ainda espaços que não são tão conhecidos, como o prédio que abrigou, nos anos 1930, o restaurant­e chinês Órion, palco de um assassinat­o.

Em alguns dos locais, é possível encostar o carro para ver melhor o espaço e absorver as histórias que são contadas. É o caso da Casa de Dona Yayá, na Bela Vista, batizada em homenagem a uma mulher que vivia na alta sociedade paulistana e foi mantida reclusa em sua residência entre os anos 1920 e a sua morte, em 1961.

Outros pontos só são vistos de longe enquanto o carro se move, como os antigos edifícios Joelma e Andraus, que foram palcos de incêndios nos anos 1970. O comboio também passa pela praça da Sé, mas o fantasma diz preferir que os carros não parem por lá por questão de segurança.

O passeio também esmiúça questões históricas que costumam passar batidas quando andamos em alguns lugares famosos da cidade —é o caso da Liberdade, hoje tomado pela cultura oriental, mas que foi palco do enforcamen­to de escravos e tem um importante passado negro.

Ao todo, são cerca de 15 endereços da capital, vistos em uma rota que leva duas horas. Caso o carro acabe se perdendo do veículo dirigido pelo fantasma Angelo, basta avisar o personagem pelo celular que ele logo dá um jeito de resgatar quem se desviou.

Uma vez de volta à rota, é só olhar pelas janelas e conhecer outros fantasmas esquecidos de São Paulo. Bu!

Siga o Fantasma Aos sábados, até 25 de setembro. Ingr.: R$ 180 (duas pessoas) a R$ 325 (cinco pessoas). Reservas pelo WhatsApp (11) 95651-2412

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil