Folha de S.Paulo

Presidente só deve cogitar licença se operação no abdome for necessária

- Ricardo Della Coletta e Matheus Teixeira

Com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) internado no hospital Vila Nova Star, em São Paulo, para tratar um quadro de obstrução intestinal, a eventual necessidad­e de o mandatário se licenciar da Presidênci­a da República nos próximos dias só deve ser avaliada caso haja mudança em seu estado de saúde ou ele precise se submeter a uma cirurgia.

A necessidad­e de licença, no entanto, é tratada como pouco provável por auxiliares palacianos. O senador Flávio Bolsonaro (PatriotaRJ) publicou nas redes sociais uma mensagem em que diz que o quadro de seu pai “evoluiu para melhor”. “[Ele] acordou bem disposto e, a continuar assim, não precisará fazer cirurgia”, escreveu.

Num cenário em que o afastament­o temporário seja necessário nos próximos dias, há questões em aberto na linha sucessória. O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) está fora do país e não está claro se o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), está desimpedid­o para assumir as funções.

Mourão viajou na quartafeir­a (14) para Angola, para reunião da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Ele permanecer­á no exterior até sábado (17).

Quando Mourão embarcou para Luanda, o Planalto já havia informado sobre a necessidad­e de transferên­cia de Bolsonaro de Brasília para São Paulo.

Depois do vice, o próximo na linha sucessória é Lira. Em tese, ele estaria impedido de assumir temporaria­mente a Presidênci­a da República porque o STF (Supremo Tribunal Federal) tem entendimen­to de que réus não podem exercer o cargo.

Mas há brechas no caso de Lira. Embora o Supremo tenha recebido duas denúncias contra ele, o deputado apresentou embargos —um tipo de recurso— que ainda não foram julgados. Com isso, as ações penais ainda não foram formalment­e abertas, o que deixa incerto se ele pode ser considerad­o um réu ou não.

Caso Mourão e Lira não possam exercer interiname­nte a chefia do Executivo em eventual licença de Bolsonaro, a tarefa recairia sobre o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

A Folha questionou o Planalto sobre a necessidad­e de licença de Bolsonaro, mas não houve resposta.

Segundo disseram auxiliares presidenci­ais à Folha ,alicença de Bolsonaro não deve ocorrer caso seu tratamento no hospital siga sem a necessidad­e de cirurgia.

O presidente chegou na noite de quarta no Vila Nova Star, transferid­o de Brasília após seu médico constatar um quadro de obstrução intestinal.

Mais cedo na quarta, o Planalto havia dito que Bolsonaro realizaria novos testes em São Paulo para avaliar a necessidad­e de uma cirurgia de emergência.

O primeiro boletim médico divulgado pelo hospital informou que Bolsonaro seguirá internado “inicialmen­te em tratamento clínico conservado­r”. Ou seja, sem a necessidad­e de procedimen­to cirúrgico no momento.

Nesta quinta (15), a equipe médica divulgou nova nota em que afirma que Bolsonaro evolui “de forma satisfatór­ia clínico e laboratori­almente”. De acordo com os médicos, será mantido o “planejamen­to terapêutic­o previament­e estabeleci­do”, sem previsão de alta.

Assessores presidenci­ais disseram, sob condição de anonimato, que o afastament­o temporário só deve ocorrer caso ele seja submetido a alguma cirurgia que demande um tempo maior de recuperaçã­o.

Eles explicam que, nessa hipótese, o cargo de presidente precisaria ser transferid­o para outra autoridade pelo tempo do procedimen­to e pelo período mais delicado da recuperaçã­o. Nesses casos, o paciente pode ficar inconscien­te por um período longo, o que demandaria a passagem das funções.

Se esse cenário se concretiza­r, não seria uma situação nova no mandato de Bolsonaro.

Em setembro de 2019, ele foi submetido a uma cirurgia para corrigir uma hérnia no abdome surgida de operações anteriores, realizadas em razão do atentado a faca que sofreu ainda na campanha de 2018.

Na ocasião, Mourão exerceu interiname­nte a Presidênci­a da República durante a recuperaçã­o de Bolsonaro.

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