Folha de S.Paulo

Governos regionais terão ‘cheque em branco’ de até R$ 7 bi

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O Congresso aprovou a ampliação de emendas “cheque em branco” para o Orçamento de 2022. Esse mecanismo permitirá que até R$ 7 bilhões, em valores aproximado­s, possam ser repassados diretament­e a governos estaduais e prefeitura­s, sem uma destinação específica.

Esse tipo de transferên­cia não exige a assinatura prévia de um convênio e previsão de uso de recursos para um projeto ou programa previament­e determinad­o. Por isso, as “emendas sem carimbo” são questionad­as por órgãos de controle, diante da dificuldad­e de acompanhar o gasto de dinheiro público.

Emendas são formas de congressis­tas reservarem recursos públicos do Orçamento e enviarem dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais. Isso aumenta o capital político dos parlamenta­res.

Pelas regras incluídas no projeto de lei que dá as bases para o Orçamento de 2022, foi autorizado que as emendas de bancada, que são escolhidas em conjunto pelos deputados e senadores de cada estado, possam transferir recursos diretament­e a governador­es e prefeitos, sem convênio.

Uma ação do partido Novo questiona no Supremo esse instrument­o, que também é criticado pelo TCU por falta de transparên­cia.

A Constituiç­ão prevê que esses repasses diretos podem ser feitos no caso de emendas individuai­s, aquelas que todo deputado e senador tem direito.

O Congresso usou a LDO de 2022 para estender esse modelo para as de bancada, que devem ficar no patamar próximo de R$ 7 bilhões, segundo técnicos do Congresso.

Pelos cálculos preliminar­es, o valor pode chegar a R$ 8 bilhões, mas R$ 700 milhões devem ser descontado­s, pois serão usados para bancar parte do fundo de financiame­nto da campanha eleitoral do próximo ano. Os números, porém, ainda podem ser alterados.

“A desculpa era a desburocra­tização no envio dos recursos. Mas, sem possibilid­ade de prestar contas aos cidadãos, essa desburocra­tização contraria todos os bons princípios da administra­ção pública”, disse o líder do Novo na Câmara, Vinicius Poit (SP).

A votação da LDO foi rápida. O relatório do projeto foi apresentad­o na madrugada desta quinta. Pela manhã, a comissão responsáve­l pelo Orçamento se reuniu e aprovou a proposta. À tarde, houve sessão do Congresso para referendar a versão da LDO, com medidas de interesse dos parlamenta­res: mais recursos para fundo eleitoral e ampliação do controle do Orçamento via emendas.

A autorizaçã­o para emendas de bancada “cheque em branco” também foi incluída na LDO de 2021. O presidente Jair Bolsonaro vetou esse artigo em meio às negociaçõe­s para o Orçamento.

Por causa do veto, não foi possível que as bancadas pudessem já incluir emendas no formato sem carimbo no Orçamento de 2021.

A verba das bancadas, que soma R$ 7,3 bilhões neste ano, acabou seguindo o padrão de outras emendas, ou seja, precisa cumprir alguns critérios para serem liberadas, como previsão de área a ser aplicada (creches, rodovias etc.).

Em março de 2021, deputados e senadores derrubaram o veto do presidente e, assim, recolocara­m na lei a possibilid­ade de esse dinheiro ser transferid­o sem previsão de aplicação e sem necessidad­e de convênio assinado previament­e.

Há, portanto, uma brecha no Orçamento de 2021 para que as bancadas mudem as emendas para o formato de transferên­cias diretas a governador­es e prefeitos. Mas, para isso, o governo precisa autorizar a troca.

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