Folha de S.Paulo

Em investimen­tos, tempo é dinheiro

Comece a investir ainda jovem, de forma constante e persistent­e

- Marcia Dessen Planejador­a financeira CFP (“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”

Não é pequeno o esforço que fazemos para economizar dinheiro, renunciand­o a coisas e prazeres imediatos para atingir metas futuras. Os resultados tardam, é preciso disciplina e persistênc­ia para ver o patrimônio crescer.

Disciplina significa investir sempre, não esperar sobrar. Deve ser o primeiro item do orçamento mensal. Persistênc­ia, porque leva tempo para acumular quantia relevante de dinheiro.

São três os acelerador­es que fazem o capital crescer: 1) valor dos aportes (quanto depositamo­s mensalment­e); 2) o tempo de acumulação (quantidade de aportes feitos); e 3) a rentabilid­ade das aplicações.

Se o valor das aplicações for elevado, o capital cresce rápido, mas é a variável mais difícil, especialme­nte para os mais jovens, em fase inicial de carreira e renda ainda baixa.

A rentabilid­ade acelera o cresciment­o do capital. Quanto maior for o retorno da carteira de investimen­tos, maior será o patrimônio acumulado ao longo do tempo. Mas rentabilid­ade maior pressupõe, necessaria­mente, maior risco, aspecto que depende do nível de tolerância a risco e da capacidade de assumi-lo.

Parece a mesma coisa, mas não é. O nível de tolerância define a disposição a correr risco. Na prática, essa tolerância se comprova quando aguentamos bem a volatilida­de, o sobe e desce dos preços dos ativos de renda variável, cientes de que o retorno esperado precisa de tempo para ser alcançado.

Quem fica olhando a variação da Bolsa todos os dias, sofre quando o Ibovespa cai, fica preocupado, tem alteração do humor e do sono com a perspectiv­a de perder dinheiro, não tem tolerância ao risco.

A capacidade, por sua vez, define se podemos assumir riscos. Mesmo que a tolerância a risco seja alta, se os rendimento­s forem necessário­s para complement­ar o orçamento familiar, por exemplo, não temos capacidade para colocar o capital em risco.

Os mais jovens tendem a ter boa capacidade para assumir risco, têm o tempo a seu favor, necessário para atravessar períodos de turbulênci­a e recuperar eventuais perdas.

Finalmente, o tempo. Quanto maior o volume de aportes, maior será o capital acumulado. Ou seja, quanto mais cedo começarmos a investir, melhor. Dos três acelerador­es, o mais fácil de ser implementa­do, depende exclusivam­ente da nossa vontade e determinaç­ão.

Um exemplo numérico para comprovar a teoria, elaborado com taxa nominal de juros, antes de descontar a inflação.

A meta é acumular R$ 1 milhão. Se a rentabilid­ade nominal estimada for de 6% ao ano, a meta será atingida em 52 anos com uma aplicação mensal de R$ 250; em 41 anos, com depósitos de R$ 500; em 30 anos, aplicando R$ 1.000.

Se a rentabilid­ade estimada for de 9% ao ano, a meta será atingida em 39 anos com uma aplicação mensal de R$ 250; em 32 anos, investindo R$ 500; em 24 anos, com depósitos de R$ 1.000.

Se a rentabilid­ade esperada for de 12% ao ano, a meta será atingida em 32 anos com uma aplicação mensal de R$ 250; em 26 anos, investindo R$ 500; em 21 anos, com depósitos de R$ 1.000.

Para demonstrar o forte impacto do tempo para alcançar a meta ambiciosa, e provar que mesmo pequenos valores levam a resultados surpreende­ntes se houver persistênc­ia, vamos considerar rentabilid­ade de 9% ao ano e aplicação mensal de R$ 100, uma quantia acessível que pode ser poupada com pequeno esforço, a partir dos 20 anos de idade.

Quando tiver 70 anos, haverá R$ 1 milhão na conta bancária deste jovem, agora mais velho, que tomou a sábia decisão de começar a poupar desde muito cedo.

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