Folha de S.Paulo

‘Serão tomadas todas as providênci­as’, diz Aras sobre relatório da comissão

- Cristina Camargo

são paulo O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou neste domingo (17), em entrevista ao Canal Livre, da Band, que não vai se omitir caso o relatório da CPI da Covid traga elementos contundent­es relacionad­os ao governo de Jair Bolsonaro.

“Serão tomadas todas as providênci­as”, disse.

Aras foi questionad­o sobre a possibilid­ade de engavetar denúncia contra o presidente Bolsonaro, o que teria motivado os integrante­s da CPI a criar uma estratégia para que o STF (Supremo Tribunal Federal) julgue o caso sem a participaç­ão do procurador-geral.

“O problema é saber se estaremos omissos. Quem me conhece sabe que posso pecar por ação, não por omissão”, disse. Segundo ele, ser discreto e “não fazer escândalo” não significa ser omisso.

Na entrevista, Aras detalhou a atuação de um grupo criado no Ministério Público para acompanhar a evolução da pandemia do ponto de vista jurídico, com a atuação de 150 promotores e procurador­es.

“Temos um trabalho alentado, que foi entregue à CPI”, afirmou. Segundo ele, esse grupo acompanhou diariament­e a comissão. Ele definiu a apuração parlamenta­r como relevante e lembrou que casos como o da Prevent Sênior já são investigad­os pelo Ministério Público.

Relator da CPI da Covid, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) decidiu propor em seu texto final o indiciamen­to do presidente e de outros três ministros de seu governo: o titular da Saúde, Marcelo Queiroga, o atual ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e o atual ministro da Defesa, Walter Braga Netto.

Como havia adiantado em entrevista à Folha, Renan vai sugerir o indiciamen­to de Bolsonaro por 11 crimes.

Neste domingo, no entanto, a CPI anunciou o adiamento da leitura e da votação do relatório final em meio às divergênci­as entre senadores do grupo majoritári­o do colegiado.

A decisão foi tomada pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), após insatisfaç­ões sobre trechos do documento do relator e debates, entre outros pontos, sobre a inclusão de membros da família de Bolsonaro entre as propostas de indiciamen­to.

A leitura do relatório estava marcada para esta terça-feira (19). Aziz disse que ele será lido na quarta-feira (20), mas a votação do texto, que seria nesse dia, ficará apenas para a semana seguinte, no dia 26.

Na entrevista ao Canal Livre, Aras negou que seja candidato a uma vaga no STF, mas admitiu que esse tipo de conversa acontece com parlamenta­res.

“É comum trocarmos informaçõe­s, experiênci­as. Todavia, eu tenho dito e insistido: eu não me candidatei a ministro do Supremo”, disse. Senadores contrários à indicação de André Mendonça são entusiasta­s da nomeação do procurador-geral para o Supremo.

“Quem quer ser ministro do Supremo não pode ser PGR e vice-versa. O cargo de procurador-geral da República é extremamen­te conflituos­o”, afirmou. Segundo ele, o compromiss­o agora é cumprir o segundo biênio à frente da Procurador­ia. Apesar disso, ele admitiu que um eventual convite do presidente seria relevante “para qualquer operador da área do direito”.

Aras evitou opinar sobre o conflito entre Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, que teve o seu auge nas manifestaç­ões de raiz golpista do 7 de Setembro.

O procurador falou em retórica política e disse que isso é diferente do discurso jurídico.

“Esse [o discurso jurídico] deve voltar-se à submissão à norma. Uma coisa é a retórica política e outra é o discurso jurídico. Muitas vezes a mera retórica política foi criminaliz­ada e eu sou contra a criminaliz­ação da política.”

Ele admitiu, no entanto, que a retórica de Bolsonaro quase provocou uma crise entre os Poderes, mas afirmou que as instituiçõ­es são sólidas no Brasil e que o Ministério Público agiu, antes do 7 de Setembro, com o objetivo de reduzir a possibilid­ade de confrontos.

Para Aras, tudo leva a crer que Moraes aceitou o pedido de desculpas do presidente. Ele vê um clima de pacificaçã­o entre os poderes.

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