Folha de S.Paulo

Procurador­es fazem investida final contra PEC que altera o CNMP

Presidente da Câmara marcou reunião com membros do Ministério Público para tentar votar proposta nesta terça

- Danielle Brant

brasília Procurador­es e promotores intensific­aram nesta segunda-feira (18) esforços para tentar barrar a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que aumenta o peso do Congresso na composição do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público).

Para críticos, a medida abre brecha para interferên­cia da Câmara e do Senado no órgão. A votação foi marcada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para esta terça-feira (19).

Lira é um dos principais defensores da PEC, de autoria do deputado Paulo Teixeira (PTSP). Ele tem articulado pessoalmen­te mudanças no texto.

Nesta segunda, Lira havia acertado uma conversa com o CNPG (Conselho Nacional de Procurador­es-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União) para tentar negociar mais alterações na PEC.

Em Maceió, Lira disse que o encontro tinha como objetivo demonstrar que o texto era sadio. Ele defendeu que membros do Ministério Público ajudaram a redigir a proposta e criticou o que chamou de versões sobre a PEC. No entanto, no início da noite, a reunião não tinha ocorrido.

O presidente da Câmara considera inegociáve­is dois pontos: a mudança na composição do CNMP, que eleva de 2 para 5 o número de membros do Congresso no órgão e a indicação do corregedor, responsáve­l por investigar e punir desvios e abusos cometidos por procurador­es e rever atos administra­tivos.

A divergênci­a em torno dos dois itens opôs Lira e entidades como a ANPR (Associação Nacional dos Procurador­es da República), ANPT (Associação Nacional dos Procurador­es e das Procurador­as do Trabalho) e o Conamp (Associação Nacional do Membros do Ministério Público).

Lira acusou as entidades de descumprir­em acordo feito com líderes partidário­s e interrompe­u as negociaçõe­s com os presidente­s da ANPR, Ubiratan Cazetta, e do Conamp, Manoel Murrieta.

Nesta segunda, a presidente do CNPG, Ivana Cei, manteve reuniões com ANPR e com Conamp para debater a PEC e analisar conjuntame­nte o que poderia ser negociado com o presidente da Câmara.

Paralelame­nte, juristas e políticos contrários à PEC intensific­aram a mobilizaçã­o para tentar barrar a proposta.

O ex-ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro postou um vídeo em uma rede social pedindo a apoiadores para pressionar deputados a votarem contra o texto.

“O promotor precisa de independên­cia para fazer seu trabalho com autonomia, sem medo de sofrer retaliaçõe­s”, disse. “Tem uma proposta na Câmara dos Deputados que, se for aprovada, vai permitir que políticos interfiram no trabalho do MP. Ou seja, na atividade daquele promotor.”

“Você acha que o promotor vai ter condições de realizar o seu trabalho sem medo de sofrer retaliaçõe­s ou punições quando ele, por exemplo, investigar uma pessoa poderosa, que tiver influência política?”, afirmou Moro. “Tirar a independên­cia do MP é desprotege­r a sociedade.”

Além disso, quase 3.300 promotores fizeram um abaixoassi­nado contra a PEC, qualifican­do a proposta de inconstitu­cional, externando o “repúdio integral” e defendendo a rejeição total do texto.

Em uma rede social, a ANPR voltou a dizer que está mobilizada pela rejeição da proposta e afirmou que o texto “afeta a independên­cia do Ministério Público e gera interferên­cia política no CNMP”.

“A PEC não melhora a interlocuç­ão do MP com a sociedade, não fortalece a sua autonomia nem gera mecanismos efetivos de controle”, escreveu. “A interferên­cia das maiorias do Congresso na corregedor­ia do órgão vai gerar politizaçã­o e enfraqueci­mento da missão da instituiçã­o.”

A proposta enfrenta resistênci­a na Câmara. Na semana passada, a votação precisou ser adiada pela segunda vez, em meio à dificuldad­e de obter votos para aprovar o texto —por ser uma PEC, precisa do apoio mínimo de 308 deputados (de um total de 513), em votação em dois turnos.

Só depois desse processo, o texto segue para o Senado, onde precisa de pelo menos 49 votos (de um total de 81 senadores), também em votação em dois turnos.

A PEC, relatada pelo deputado Paulo Magalhães (PSDBA), aumenta de 14 para 17 o número de integrante­s do CNMP. São mantidos quatro membros do Ministério Público da União e três do Ministério Público dos estados.

O texto, porém, abre a composição do conselho ao permitir que STF (Supremo Tribunal Federal) e STJ (Superior Tribunal de Justiça) indiquem não só juízes, como hoje, mas também ministros para o órgão.

Também amplia a indicação de membros do conselho a cargo do Congresso: em vez de 2 serão 5. Ou seja, na prática, somente sete integrante­s do CNMP seriam oriundos de Ministério­s Públicos.

O desequilíb­rio é um dos principais pontos criticados por associaçõe­s de procurador­es e promotores, que afirmam que isso diminui a independên­cia do órgão e amplia a influência externa no CNMP.

O outro é a previsão de que o vice-presidente e o corregedor do órgão serão indicados pelo Congresso Nacional.

Para aprovar o texto, o relator retirou o trecho que indicava que o Conselho Superior de cada Ministério Público teria dois terços dos integrante­s escolhidos pelo procurador-geral. Agora, serão escolhidos por eleição direta.

Magalhães também alterou dispositiv­o sobre revisão dos atos finalístic­os do conselho e estabelece­u que agora o CNMP poderá rejeitar atos administra­tivos que violem o dever funcional dos membros após a apuração em procedimen­to disciplina­r.

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