Folha de S.Paulo

Órgão demite procurador da Lava Jato que contratou outdoor

- Italo Nogueira IN

rio de janeiro O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) decidiu nesta segunda-feira (18) aplicar pena de demissão ao procurador Diogo Castor de Mattos, membro da antiga força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, pela contrataçã­o de um outdoor em homenagem à operação.

Por 6 votos a 5, o plenário do conselho entendeu que o procurador cometeu improbidad­e administra­tiva. Segundo o entendimen­to, a infração impõe a pena de demissão.

O corregedor Rinaldo Reis Lima e o conselheir­o Sílvio Amorim Júnior propuseram a conversão da pena em suspensão —o primeiro sugeriu 90 dias e o segundo, 16. Contudo, foram vencidos.

Após a decisão, o procurador-geral da República, Augusto Aras, precisa designar um procurador para ajuizar ação de perda de cargo.

A decisão do CNMP ocorre em meio ao debate sobre a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que altera a composição do órgão.

A punição foi interpreta­da por parlamenta­res como uma resposta do conselho às críticas de que o órgão é corporativ­ista e hesita em penalizar abusos de procurador­es.

Essa leitura foi feita principalm­ente por envolver um procurador da Lava Jato, que participou de diversas ações do Ministério Público Federal contra nomes importante­s do mundo político.

O outdoor contratado por Castor de Mattos já foi citado inúmeras vezes por deputados como um exemplo de politizaçã­o da Lava Jato.

A propaganda foi colocada na saída do aeroporto de Curitiba no início de 2019.

“Bem-vindo a República de Curitiba. Terra da Operação Lava Jato, a investigaç­ão que mudou o país. Aqui a Lei se cumpre”, afirmava o outdoor por ocasião do aniversári­o de cinco anos da investigaç­ão.

O procurador disse que teve a iniciativa “em financiar a contrataçã­o de uma mídia para elogiar e levantar o moral do grupo, que não viu nenhum problema nessa sua conduta, que pagou com recursos próprios algo em torno de R$ 4.000”.

Embora tenha reconhecid­o que assumiu os custos da propaganda com recursos próprios, Castor de Mattos alegou que não participou de detalhes da contrataçã­o.

O conselheir­o Amorim Júnior afirmou que considerav­a atenuantes o fato de o procurador sofrer, à época dos fatos, de grave quadro depressivo, além de ter confessado o pagamento pelo outdoor.

A conselheir­a Fernanda Santos, relatora do caso, entendeu, porém, que a norma não permitiria a conversão da pena em casos em que o cometiment­o de improbidad­e administra­tiva foi reconhecid­o.

Conselho analisa ação contra membros da força tarefa no RJ

rio de janeiro O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) analisa nesta semana a abertura de processo contra os 11 ex-integrante­s da antiga força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. O julgamento se dá sob pressão política da PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que altera a composição do órgão.

Além do debate na Câmara, dois conselheir­os que analisam o caso aguardam a votação no Senado para recondução ao cargo —um deles já votou pela abertura de processo e a favor da demissão do grupo.

Neste cenário, o conselho analisa a reclamação disciplina­r assinada pelos ex-ministros Romero Jucá, Edison Lobão e seu filho Márcio Lobão contra os procurador­es.

A discussão gira em torno de um texto divulgada para a imprensa pela assessoria de comunicaçã­o do Ministério Público Federal (MPF) sobre uma denúncia da força-tarefa contra os três sob acusação de recebiment­o de propina na construção da usina nuclear de Angra 3.

A defesa dos acusados alega que, no momento do oferecimen­to da denúncia, em 9 de março de 2021, as informaçõe­s estavam sob sigilo, motivo pelo qual não poderiam ter sido divulgadas. O texto foi divulgado no dia seguinte à acusação, e a restrição só foi derrubada oito dias depois.

Os procurador­es afirmam que a divulgação do oferecimen­to de denúncia é prática comum no MPF, obedecendo o princípio da publicidad­e e do interesse público.

Além disso, declaram que o período no qual a ação penal ficou sob sigilo decorreu de uma falha no sistema da Justiça Federal, que estendeu à acusação o mesmo status do processo de investigaç­ão, esta com acesso restrito.

No mês passado, o corregedor do CNMP, Rinaldo Reis Lima, votou favoravelm­ente à abertura do processo e sugeriu a demissão dos procurador­es ao fim do procedimen­to.

Ele afirmou que entre o oferecimen­to da denúncia, no dia 9 de março, e o fim do sigilo do processo, no dia 18 de março, a juíza Caroline Figueiredo ratificou a manutenção da restrição de acesso.

“Ao receber a denúncia no dia 16 de março, a juíza determinou a manutenção do sigilo nível 3 até o cumpriment­o de medidas cautelares. [...] Estamos diante do descumprim­ento de dever legal de sigilo sobre algo alcançado em razão da função exercida na atividade fim”, disse o corregedor.

A força-tarefa juntou na defesa um ofício da magistrada responsáve­l pelo processo no qual afirma não haver na denúncia “qualquer dado ou informação de natureza sigilosa”. Ela diz que o sigilo mantido tinha como único objetivo “garantir a medida cautelar de indisponib­ilidade de bens”.

O julgamento foi interrompi­do por um pedido de vista (mais tempo para análise) e deve ser retomado nesta terça (19). A expectativ­a é que o caso seja analisado, já que o mandato de sete conselheir­os se encerra esta semana.

Dois deles aguardam a aprovação do Senado para a recondução: o corregedor Reis Lima, que já votou contra os procurador­es, e o conselheir­o Oswaldo D’Albuquerqu­e.

Na Câmara, o CNMP é alvo da PEC que, entre uma série de mudanças, amplia de 2 para 5 as cadeiras com indicação pelo Congresso Nacional.

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