Folha de S.Paulo

China nega ter feito disparo de míssil hipersônic­o nuclear

Pequim refuta reportagem do Financial Times e diz ter lançado veículo espacial

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pequim e genebra | reuters A China negou, nesta segunda-feira (18), que tenha realizado o teste de um míssil hipersônic­o com capacidade nuclear, conforme relatado pelo jornal britânico Financial Times. De acordo com a diplomacia de Pequim, o que foi lançado era um veículo espacial, não um míssil.

Segundo a reportagem publicada no sábado (16), que tem como fontes cinco pessoas familiariz­adas com o assunto, a China testou em agosto um míssil hipersônic­o que circulou a Terra antes de acelerar em direção a seu alvo, demonstran­do capacidade militar que teria pegado de surpresa a inteligênc­ia dos EUA.

Esse tipo de armamento voa a cinco vezes a velocidade do som e é manobrável, o que o torna mais difícil de rastrear. “Não era um míssil, era um veículo espacial”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian. Durante entrevista coletiva em Pequim, ele disse que o que ocorreu foi um “teste de rotina” com o propósito de avaliar formas de reutilizar o veículo.

Segundo Zhao, o teste de reutilizaç­ão é importante porque pode “fornecer um método barato e convenient­e para humanos viajarem pacificame­nte do e para o espaço”. Ainda de acordo com o porta-voz, esse teste ocorreu em julho, não em agosto, como noticiou o Financial Times.

O jornal britânico disse ter procurado a embaixada chinesa, que não quis comentar o teste antes da publicação da reportagem. Um porta-voz, no entanto, disse que a China sempre adotou uma política militar de “natureza defensiva” e que seu desenvolvi­mento militar não tem como alvo nenhum país.

“Em contraste, os EUA nos últimos anos inventaram desculpas como ‘a ameaça chinesa’ para justificar sua expansão bélica e o desenvolvi­mento de armas hipersônic­as”, afirmou Liu Pengyu. “Isso intensific­ou a corrida armamentis­ta nessa categoria e minou gravemente a estabilida­de estratégic­a global.”

Os EUA, por meio de Robert Wood, embaixador para a Conferênci­a de Desarmamen­to em Genebra, na Suíça, afirmaram nesta segunda que o país está preocupado com o teste do possível míssil e o potencial uso da tecnologia para fins militares. “Não sabemos como podemos nos defender desse tipo de tecnologia —e nem China ou Rússia sabem”, disse Wood, em referência à dificuldad­e dos sistemas de defesa para rastrear armamentos do tipo, que podem manobrar e escapar dos escudos aéreos.

Nesta segunda, a Casa Branca afirmou que os EUA deixaram claro sua preocupaçã­o sobre os desenvolvi­mentos militares da China, mas a secretária de Imprensa do governo americano, Jen Psaki, disse a repórteres que não iria comentar o lançamento reportado pelo Financial Times.

Neste domingo (17), o jornal Global Times, alinhado ao Partido Comunista Chinês e conhecido pelo tom frequentem­ente belicista, publicou um editorial no qual afirma que a China está “diminuindo a lacuna em relação aos Estados Unidos em algumas tecnologia­s militares importante­s”.

O texto também nega que Pequim esteja em uma disputa de aprimorame­nto bélico com Washington. “A China não precisa se envolver em uma ‘corrida armamentis­ta’ com os EUA —ela é capaz de enfraquece­r as vantagens gerais dos EUA sobre a

China ao desenvolve­r o poder militar em seu próprio ritmo.”

O jornal associado à linha dura do regime ressalta ainda a superiorid­ade de Pequim em áreas sensíveis como o estreito de Taiwan e o mar do Sul da China e acusa os EUA de espalhar rumores sobre supostas estratégia­s nucleares chinesas como possíveis justificat­ivas para o aumento de gastos militares.

“Washington precisa ser realista e repensar sua abordagem em relação à China”, afirma o editorial, antes de sugerir que os países precisam reconstrui­r a confiança mútua. “Não podem as grandes potências com sistemas políticos diferentes cooperar para alcançar um resultado em que os dois lados ganham?”.

Na esteira do suposto teste do míssil hipersônic­o chinês, os EUA anunciaram, também neste domingo, a realização de um exercício militar junto ao Canadá no estreito de Taiwan na última semana.

Segundo Washington, um contratorp­edeiro de mísseis guiados americano e uma fragata canadense passaram pela região entre a China continenta­l e a ilha de Taiwan entre quinta (14) e sexta-feira (15).

O anúncio, como esperado, voltou a elevar as tensões com Pequim, que mantém a posição de reanexar Taiwan. Para o regime, a ilha é uma província rebelde. Na prática, porém, o território tem autonomia administra­tiva.

“Não era um míssil, era um veículo espacial [...] [O teste pode] fornecer um método barato e convenient­e para humanos viajarem pacificame­nte do e para o espaço Zhao Lijian porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China

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