FBI anuncia apoio a buscas por missionários sequestrados no Haiti
porto príncipe (haiti) e washington | reuters e afp O FBI, polícia federal dos EUA, anunciou, nesta segunda-feira (18), que enviou para o Haiti um grupo de oficiais para auxiliar na investigação do sequestro de 16 americanos e 1 canadense, ocorrido no sábado (16), em Porto Príncipe. Entre as vítimas estão missionários e seus familiares, incluindo cinco crianças e seis mulheres.
Segundo a polícia local, o sequestro foi perpetrado pela gangue haitiana 400 Mawozo num momento em que os religiosos saíam de um orfanato, em direção ao aeroporto, onde o grupo se dividiria —parte seguiria para outras partes do país.
Em comunicado, a polícia federal americana não deu detalhes de como vai atuar nas buscas e na investigação, mas garantiu esforços para encontrar os reféns. “O FBI integra um esforço coordenado do governo dos EUA para proteger os americanos envolvidos [no sequestro]”, se limita a dizer o texto.
Autoridades haitianas não comentaram oficialmente o caso, mas, na manhã desta segunda, o gabinete do premiê haitiano, Ariel Henry, divulgou nota em que, sem citar o sequestro, nega a relação entre o governo e gangues armadas do país.
A organização americana Christian Aid Ministries, da qual os missionários fazem parte, publicou um comunicado pedindo orações. “Ao mesmo tempo que desejamos a libertação segura de nossos obreiros, também desejamos que os sequestradores sejam transformados pelo amor de Jesus, a única fonte verdadeira de paz, alegria e perdão”.
Em agosto, o governo dos EUA recomendou a seus cidadãos não viajar ao Haiti devido ao risco de sequestros e à instabilidade do país.
Com as crises políticas e econômicas cada vez mais acentuadas, esse tipo de crime se tornou uma ferramenta comum para grupos criminosos do Haiti conseguirem dinheiro. O ato do último sábado, entretanto, chama a atenção pelo que a imprensa chamou de ousadia, já que mirou um número grande de pessoas e quase todos americanos.
Cerca de 630 sequestros foram registrados nos primeiros três trimestres de 2021, contra 231 no mesmo período de 2020, de acordo com o Centro de Análise e Investigação em Direitos Humanos, em Porto Príncipe.
Nesta segunda, lojas e escolas de Porto Príncipe ficaram vazias, em meio a uma greve geral que já estava convocada, antes do sequestro, por empresários e trabalhadores da capital contra a insegurança na região. Os protestos foram liderados por profissionais da indústria do transporte, que estão entre as principais vítimas de sequestros de gangues.
Dono de um comércio de painéis solares, Diego Toussaint disse à agência Reuters que o país chegou ao fundo do poço. “Essa greve é nossa forma de dizer que não aguentamos mais. Nós vivemos com medo”, afirmou.
Segundo ele, as vendas despencaram em meio a ameaças de sequestro e extorsão que agora assombram trabalhadores e proprietários de negócios. “Não podemos contar com o Estado como criador de empregos e somos obrigados a cuidar de nossa própria segurança.”
O Haiti —primeiro país da América Latina e do Caribe a se declarar independente, em 1804, mas acostumado a crises políticas e econômicas desde então— vive um de seus piores momentos.
Em julho, o presidente Jovenel Moïse, sob o qual recaíam acusações de autoritarismo, foi assassinado por mercenários —48 pessoas, incluindo 18 colombianos e 2 americanos de origem haitiana, foram presas. Em meio às investigações, o procuradorgeral do país, Bed-Ford Claude, incluiu o primeiro-ministro na lista de suspeitos.
As eleições gerais do país, inicialmente programadas para setembro, foram postergadas para o final de 2022.