Folha de S.Paulo

Renan se isola, e senadores avaliam fazer emendas no relatório da CPI da Covid

- Mateus Vargas, Renato Machado, Julia Chaib e Constança Rezende

No entanto, durante o fim de semana, vários senadores demonstrar­am insatisfaç­ão com o vazamento de alguns dos principais pontos do relatório final.

Um dos pontos de divergênci­a, como relatou a coluna Mônica Bergamo, da

Folha, é a proposta de indiciamen­to de Bolsonaro pelo crime de genocídio contra a população indígena.

Por causa dessas divergênci­as, os senadores do grupo majoritári­o decidiram adiar a leitura e a votação do relatório final. A ideia é que Renan apresente e leia o parecer na quarta. A votação sobre o texto deve ser feita no dia 26.

Omar Aziz disse temer que o texto seja frágil. “Você tipificar uma coisa e essa tipificaçã­o cair no primeiro momento por falta de conteúdo é colocar tudo a se perder. Esse é o medo. Não adianta acusar de dez coisas, precisa te acusar de uma, bem feita, e você será condenado do mesmo jeito”, afirmou ele.

Outra divergênci­a dentro do grupo majoritári­o diz respeito à inclusão de pedido de indiciamen­to do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) por improbidad­e administra­tiva.

Renan Calheiros argumenta que o senador cometeu o crime ao levar o presidente da Precisa Medicament­os, Francisco Maximiano, a um encontro com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano.

Para senadores, a acusação contra o filho do presidente é frágil e pode facilmente ser derrubada após uma investigaç­ão do Ministério Público.

Após audiência com parentes de vítimas da Covid, nesta segunda-feira, o senador Humberto Costa, sem citar o relator da comissão, pediu que se reconheçam erros e que se peça desculpas por eles. Mas o senador alagoano negou que haja mal-estar e afirmou que nem sequer recebeu queixas dos colegas.

A inclusão do pedido de indiciamen­to do ministro Braga Netto (Defesa) no parecer também é motivo de divergênci­as entre os senadores. Renan, porém, indicou que não deve retirar o nome do relatório e disse que pode inserir o ministro Paulo Guedes (Economia) na lista de indiciados, se os colegas concordare­m.

Aziz sugeriu que faltam argumentos para acusar o ministro. No bastidor, assessores do senador amazonense disseram que não houve surpresa em relação à falta de debate sobre o relatório por parte de Renan.

O sentimento é o de que o relator não soube trabalhar em grupo desde o início da CPI e isso não seria diferente no relatório final.

Por isso, Omar Aziz disse que não irá propor alterações no texto e vai deixar que o relator assuma a autoria sozinho, caso o relatório fracasse. Ele também não quis se encontrar com Renan para falar sobre o documento já finalizado, e deixou o Senado no final da tarde desta segunda.

Também pesou na decisão do presidente da comissão o cuidado de não dar margem para o discurso de que ele estaria aliviando para Bolsonaro, caso propusesse alterações.

Isso porque os pontos em que o presidente do colegiado discorda de Renan são os que propõem penas mais duras contra o presidente, como por genocídio indígena e o indiciamen­to dos seus filhos.

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