Folha de S.Paulo

Botafogo encaminha retorno à elite enquanto tenta se livrar de dívidas

Time se aproveita de dispositiv­o da Lei do Clube-Empresa para ganhar prazo e melhores condições

- Carlos Petrocilo

são paulo Em paralelo à boa campanha do time na Série B do Campeonato Brasileiro, a diretoria do Botafogo tem se empenhado para mudar a imagem de clube endividado.

Com passivo próximo de R$ 1 bilhão e problemas de fluxo de caixa, o presidente Durcesio Mello, 66, recorreu a uma empresa especializ­ada em recrutamen­to de executivos para ajudá-lo a selecionar um diretor-executivo.

O economista Jorge Braga, 55, foi o escolhido para o cargo. Antes de assumir a função de CEO do Botafogo, em março, ocupou posições em empresas de telecomuni­cação, varejo e tecnologia. Pouco depois de pisar em General Severiano, a diretoria apresentou um desastroso resultado em seu balanço financeiro de 2020.

Com queda de quase 30% em suas receitas, no período em que ainda estava na elite do Nacional, o clube teve déficit de R$ 139 milhões.

Braga diz que ganhou carta branca de Mello para corte dos gastos (desde maio, quase 90 funcionári­os foram demitidos) e implantar as práticas de mercado em políticas de recursos humanos na estrutura do clube associativ­o. Entre elas, a instauraçã­o de processo de concorrênc­ia na qual a diretoria delibera a compra de um produto ou serviço após analisar quatro diferentes propostas e o núcleo de recursos humanos que estabelece uma política de cargos.

“A situação doBo ta fogoédel ica da,é um sacrifício brutal, não esqueça que agente tem uma dívida de um bilhão de reais. É preciso de um choque de cultura”, explica o economista.

A agremiação não divulgou nenhum relatório ou extrato de suas finanças atualizado ao longo deste ano. O orçamento projeta um prejuízo de R$ 60 milhões, mesmo com as perdas de quase R$ 70 milhões sem os direitos de transmissã­o na Série Ado Brasileiro.

“Não faremos promessas, mas sim, entrega. Apesar desse impacto na receita com o rebaixamen­to, vamos entregar um resultado ainda melhor que o do ano passado”, diz Braga.

Em setembro, o departamen­to jurídico botafoguen­se se aproveitou de um dispositiv­o na lei que cria benefícios para um clube se converter em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), sancionado em agosto pelo presidente Jair Bolsonaro.

Ele permite que um clube empresa—oque nãoé ocaso do Botafogo— possa pleitear na Justiça à concentraç­ão de suas dívidas em fase de execução e, através de um plano de credores, se comprometa a destinar uma parte de sua receita para quitá-las em seis anos. Esse prazo poderá ser estendido por mais quatro anos caso o time comprove que tenha liquidado 60% do passivo.

Apesar de não ter virado SAF, a equipe obteve, além do prazo maior, autorizaçã­o do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e do TRT-1 (Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região) para destinar no máximo 20% do seu faturament­o mensal para quitar dívidas com fornecedor­es, prestadore­s de serviços e cobranças movidas por ex-funcionári­os.

O acordo suspende penhoras e bloqueios judiciais em ações trabalhist­as e cíveis, o que garante tranquilid­ade para o departamen­to financeiro honrar seus compromiss­os e evitar atrasos salariais. A folha de pagamento mensal está em R$ 2,5 milhões —até fevereiro era de R$ 4 milhões.

“Precisamos, primeiro, conter a sangria no caixa. Em segundo, alinhar receitas e despesas e depois enfrentar as dívidas e captar investidor­es”, afirma Braga.

A captação de receitas tem sido um problema crônico para o time carioca, que desde a conquista do Campeonato Brasileiro de 1995 foi rebaixado três vezes (2002, 2014 e 2020).

Desde a primeira queda, a torcida conseguiu comemorar quatro títulos estaduais (2006, 2010, 2013 e 2018) e o título da Série B, em 2015.

Somente no ano passado, quando terminou o Brasileiro na lanterna, com 27 pontos em 38 partidas, o Botafogo perdeu 30% de receita. Passou de R$ 193 milhões em 2019 para R$ 135 milhões em 2020.

O clube trouxe Lênin Franco (ex-Bahia) para a função de diretor de novos negócios, responsáve­l pelos departamen­tos de marketing, comercial e de sócio-torcedor.

As apostas para garantir maior receita são um novo programa de torcedores, chamado Camisa 7 —nome escolhido pelos fãs do time—, uma loja virtual (loja.botafogo.com. br) e o reajuste dos valores por espaços na camisa. A diretoria diz ter recusado patrocinad­ores com ofertas baixas na aposta de recuperar a credibilid­ade do investidor e, assim, alcançar acordos mais vantajosos.

Em 2020, o Botafogo arrecadou R$ 6 milhões com publicidad­e, à frente apenas de Sport (R$ 5 milhões), Atlético-GO e Goiás, estes dois últimos com R$ 4 milhões cada um. Já as receitas com bilheteria e sóciotorce­dor, em 2019 (antes da pandemia), foram de R$ 17 milhões, enquanto o seu principal rival, o Flamengo, faturou R$ 178 milhões.

Em campo, o time está próximo de confirmar o acesso à elite, em uma Série B considerad­a difícil pela presença de cinco campeões nacionais (além do próprio clube, Cruzeiro, Coritiba, Guarani e Vasco). A equipe é a vice-líder, com 52 pontos, apenas dois atrás do Coritiba.

Nesta quarta (20), em casa, o Botafogo recebe o Brusque, às 20h30 (Premiere transmite). Se vencer, poderá assumir a liderança, desde que o Coritiba não tenha ganhado seu confronto contra o Sampaio Corrêa nesta terça (19), às 21h30, no Couto Pereira.

A oito rodadas do fim da competição, a equipe carioca tem 86% de chances de garantir o acesso, segundo o departamen­to de matemática da UFMG (Universida­de Federal de Minas Gerais).

O técnico Enderson Moreira, grande responsáve­l pela mudança de rumo do time no campeonato, vive a expectativ­a de garantir a subida com mais quatro vitórias.

“A situação do Botafogo é delicada, é um sacrifício brutal, não esqueça que a gente tem uma dívida de um bilhão de reais. É preciso de um choque de cultura Jorge Braga CEO do Botafogo

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Vitor Silva/Divulgação Botafogo Enderson Moreira, treinador da equipe

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