Folha de S.Paulo

Moçambican­a Paulina Chiziane vence o Camões

- Walter Porto

são paulo A escritora moçambican­a Paulina Chiziane, de 66 anos, venceu a edição deste ano do prêmio Camões, a mais importante distinção da língua portuguesa.

Primeira mulher africana a ganhar o prêmio, Chiziane é reconhecid­a como uma pioneira da literatura de seu país. Seu “Balada de Amor ao Vento”, escrito em 1990, é tido como o primeiro romance publicado por uma mulher em Moçambique.

Sua obra mais conhecida é “Niketche: Uma História de Poligamia”, narrativa que dá protagonis­mo a uma mulher antes subservien­te que decide conhecer as outras esposas de seu marido, ao descobrir que elas existem. Considerad­o

um clássico, o livro acaba de ganhar nova edição pela Companhia das Letras.

A Dublinense também publicou por aqui, há três anos, seu “O Alegre Canto da Perdiz”, que pensa a situação precária das negras moçambican­as ao acompanhar uma mulher às voltas com seu marido negro e seu amante branco.

Outros livros importante­s da autora, como “Ventos do Apocalipse”, publicado também em Portugal, e o ensaio “Eu, Mulher… Por uma Nova Visão do Mundo”, nunca tiveram edição oficial no Brasil.

Se no ano passado o vencedor foi o pouco conhecido professor português Vítor Aguiar e Silva, numa escolha voltada a celebrar seu trabalho acadêmico, o Camões causou estrondo dois anos atrás ao premiar Chico Buarque, conhecido por escrever canções antes de livros.

O prêmio foi criado na década de 1980 numa parceria entre Portugal e Brasil e confere € 100 mil —cerca de R$ 646 mil—aos seus vencedores, com despesas divididas entre os dois países.

Há uma tradição de alternar a premiação entre nomes brasileiro­s, portuguese­s e de países africanos. Assim, já ganharam autores como Raduan Nassar, Lygia Fagundes Telles, Ferreira Gullar, José Saramago, António Lobo Antunes, Mia Couto, Luandino Vieira e Pepetela.

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