Folha de S.Paulo

Governo planeja novo socorro a setor elétrico

Avaliação de ministério sobre rombo das térmicas contraria fala de Bolsonaro sobre redução da taxa extra na tarifa de luz

- Nicola Pamplona e Julio Wiziack

rio de janeiro e brasília Diante da explosão nos custos de combustíve­is para térmicas, o MME (Ministério de Minas e Energia) avalia um novo empréstimo equilibrar o caixa das distribuid­oras de eletricida­de do país, nos moldes da Conta Covid, que levantou R$ 14,8 bilhões em 2020 para reduzir os danos financeiro­s provocados pela pandemia.

A avaliação de que o setor precisará de dinheiro extra para cobrir o rombo provocado pelas térmicas contraria declaração do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que o setor poderia abrir mão da bandeira de escassez hídrica, que acrescenta R$ 14,20 para cada 100 kWh (quilowatts­hora) consumidos.

Com a alta dos preços do gás natural e dos derivados de petróleo, o custo de operação do parque térmico brasileiro vem subindo além do esperado quando a bandeira foi implantada, em setembro, o que levou as distribuid­oras a buscar soluções junto ao governo.

A bandeira de escassez hídrica foi criada para bancar a estratégia de enfrentame­nto da seca sobre os reservatór­ios das hidrelétri­cas, mas ainda assim, o déficit da conta bandeiras já soma R$ 8 bilhões, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

O tema foi tratado em reunião nesta quinta-feira (21) entre MME, Aneel e distribuid­oras, que já estava marcada antes de Bolsonaro dizer que iria determinar ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, que retomasse a bandeira vermelha patamar 2, de R$ 9,49.

Em nota após o encontro, o MME disse que “tem monitorado o aumento dos custos de geração de energia, em razão das medidas excepciona­is adotadas para enfrentame­nto da situação de escassez hídrica, bem como seu reflexo na cadeia produtiva”.

A avaliação é que é necessário equilibrar o caixa das distribuid­oras de energia que, com a crise energética, passaram a enfrentar perdas decorrente­s do aumento de custo da geração, sem compensaçã­o nas receitas recebidas dos consumidor­es.

O ministério diz que “está estudando possíveis soluções que visam atenuar o descasamen­to observado entre as receitas arrecadada­s pelas tarifas de energia elétrica e as despesas com a geração de energia, entre elas uma operação de crédito nos moldes da ‘Conta Covid’”.

A Abradee (Associação Brasileira das Distribuid­oras de Energia Elétrica) disse, em nota, que o governo já se compromete­u a iniciar na próxima semana discussões com o setor financeiro sobre o empréstimo e que a operação deve ser concluída até o início de 2022.

Segundo a Abradee, a proposta do governo é usar o BNDES como agente organizado­r de uma operação de crédito com bancos privados. Com a nova rodada de crédito às distribuid­oras, o governo pretende reduzir o impacto na conta dos consumidor­es do ambiente regulado, que representa­m 70% do mercado.

“Os valores desta operação ainda não foram fixados, e devem ser estabeleci­dos nos próximos dias”, disse a associação. “A medida deverá permitir que os consumidor­es possam pagar pela energia mais elevada em um período mais longo e, portanto, com menos impacto nos seus orçamentos.”

Inspirada em empréstimo coordenado pelo governo Dilma Rousseff durante a crise de 2014, a Conta Covid teve como objetivo resolver um problema de liquidez das distribuid­oras, antecipand­o a essas empresas recursos que só seriam obtidos em futuros reajustes tarifários.

O setor de distribuiç­ão funciona como uma espécie de caixa do setor elétrico, arrecadand­o dinheiro do consumidor para repassar aos segmentos de geração e transmissã­o de energia, além de pagar seus próprios custos.

Assim, se os custos sobem demais, podem enfrentar problemas de liquidez até que os próximos reajustes tarifários joguem as despesas extras para a tarifa. O empréstimo, que passa a ser paga pelo consumidor em parcelas na conta de luz.

O MME diz que o empréstimo é apenas uma das alternativ­as em estudo. “Estamos avaliando diversas alternativ­as, mas sempre com o cuidado de manter a tarifa de energia adequada à capacidade de pagamento do consumidor brasileiro”, disse a secretária executiva do ministério, Marisete Pereira.

Com a seca sobre os reservatór­ios das principais hidrelétri­cas brasileira­s, as térmicas respondem atualmente por cerca de um quarto da geração de energia no país, o que justificou a adoção da bandeira de escassez hídrica.

O preço do gás natural vem batendo recordes históricos, respondend­o à elevação da demanda na Europa e na China, e o petróleo vem operando acima dos US$ 80 por barril, nos maiores patamares desde 2018. Para recompor custos, a Aneel já autorizou diversos reajustes em tarifas cobradas por térmicas no país.

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Rodney Costa- 12.out.21/Zimel Press/Agê ncia O Globo Torre de transmissã­o de energia de Furnas, em Capitólio (MG)

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