Folha de S.Paulo

França dará 100 euros a 38 milhões para ajudar a pagar conta de gás e eletricida­de

- Ana Estela de Sousa Pinto

bruxelas O governo da França anunciou que vai dar 100 euros (cerca de R$ 670) a cidadãos de menor renda, para ajudá-los a bancar o aumento nos preços de combustíve­is e nas tarifas de eletricida­de neste final de ano.

O benefício será concedido aos que ganham até 2.000 euros líquidos por mês (R$ 13.400) e deve atingir cerca de 38 milhões de franceses, incluindo autônomos, desemprega­dos, aposentado­s e agricultor­es.

A medida se soma a outra parcela de 100 euros paga a cerca de 9 milhões de famílias de baixa renda com dificuldad­es para pagar a conta de luz.

O preço da eletricida­de disparou na Europa nos últimos meses, por causa da escassez de gás natural, principal combustíve­l usado na geração de energia no continente.

Nos telejornai­s, são cada vez mais comuns histórias sobre “pobreza energética”. Ouvida nesta sexta (22) pela Euronews, a belga Veronique, 60, conta que liga o aquecedor apenas uma hora por dia, reduziu a três por semana o número de banhos e está sendo forçada a passar frio por não ser capaz de pagar a conta.

O dinheiro, segundo ela, é suficiente apenas para comprar produtos em promoção, e a situação seria pior se ela não fosse beneficiár­ia de um programa público que dá descontos para o gás de cozinha.

Com o aumento nos preços da eletricida­de, membros do bloco adotaram medidas de curto prazo, como cancelar impostos sobre o consumo ou indenizar os consumidor­es mais pobres.

O governo da França está ainda sob pressão para zerar tributos sobre a gasolina, medida que o primeiro-ministro, Jean Castex, classifico­u como pouco eficiente, porque não é direcionad­a aos que mais precisam de ajuda.

Os 38 bilhões de euros necessário­s para o alívio de final de ano são menos que o prejuízo que o governo teria se cortasse os impostos, segundo Castex.

A França também anunciou que o teto para o preço do gás fixado no mês passado poderá vigorar até o final de 2022, se for necessário. Limitar a inflação de energia e combustíve­is é vista como fundamenta­l poucos meses antes da eleição presidenci­al no país, marcadas para abril do ano que vem.

Há cerca de três anos, o governo francês enfrentou uma onda de protestos dos chamados “coletes amarelos” justamente após propor um tributo “ecológico” sobre os combustíve­is fósseis.

As medidas francesas vieram no mesmo dia em que os líderes dos 27 membros da UE discutiam em Bruxelas medidas para reduzir o impacto do custo da eletricida­de, que deve durar pelo menos até abril, nas previsões do bloco.

“O aumento dos preços da energiaéum­ap reocupação realpara consumidor­es e empresas ”, afirmou após o encontro a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmando que os governador­es tomariam medidas de curto prazo para apoiar famílias mais vulnerávei­s.

Ela também afirmou que, no médio prazo, a União Europeia vai estabelece­r uma reserva estratégic­a de gás e desenhar modelos para uma aquisição conjunta do combustíve­l.

Von der Leyen também se compromete­u a avaliar o mercado de gás e eletricida­de — em que o preço é estabeleci­do com base na fonte mais cara— e o mercado de carbono (chamado de mercado de ETS), onde se comerciali­zam licenças para emitir gases de efeito estufa.

Um dos problemas da crise de energia atual é que a UE aumentou sua dependênci­a de geradoras de eletricida­de a gás depois que começou a fechar as usinas a carvão, muito mais poluentes.

Quando a demanda do combustíve­l explodiu, principalm­ente na Ásia e por causa da recuperaçã­o pós-pandemia, o bloco foi pego com estoques em baixa e sem opção para ultrapassa­r os meses de inverno.

Von der Leyen disse que a resposta da UE a esta crise deve ser intensific­ar a transição para energia de fontes renováveis.

“A energia solar é dez vezes mais barata hoje do que há uma década. A energia eólica é muito volátil, mas é 50% mais barata do que há uma década. Então esse é o caminho a percorrer.”

Como fonte estável de eletricida­de, ela defendeu a energia nuclear —que, embora seja pouco poluente, é contestada por parte dos membros da UE, inclusive a Alemanha, por causa do risco de acidentes e do lixo atômico.

Em outra medida que afeta o mercado de energia e tem como motivo a crise climática, países da OCDE fecharam acordo para proibir créditos de exportação ligados a usinas elétricas movidas a carvão.

A decisão, endossada por Austrália, Canadá, Japão, Coréia, Nova Zelândia, Noruega, Suíça, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos e União Europeia, vale para todas as novas usinas elétricas movidas a carvão sem equipament­os que neutralize­m a emissão de gases de efeito estufa.

Os créditos também serão proibidos para transações ligadas a geradoras a carvão já em operação, a menos que o objetivo do equipament­o fornecido seja reduzir a poluição ou a emissão de gás carbônico e que isso não estenda a vida útil ou a capacidade da usina.

A proibição deve entrar em vigor até o final deste mês, segundo a OCDE.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil