Folha de S.Paulo

Mulher diz que ‘chamado divino’ a fez levar suástica à Câmara no RS

- VD

são paulo A manifestan­te responsáve­l por levar um cartaz com uma suástica na Câmara Municipal de Porto Alegre (RS) na última quarta-feira (20), afirmou que fez o material após receber um “chamado divino”.

A declaração foi feita à delegada Andrea Mattos, da Delegacia de Combate à Intolerânc­ia da cidade, durante oitiva na manhã desta sexta-feira (22).

Na mesma ocasião, as vereadoras Bruna Rodrigues e Daiana Santos (PCdoB), que são negras, foram chamadas de lixo e empregadas por uma das manifestan­tes.

A sessão discutia o veto da prefeitura à exigência do passaporte vacinal, mas foi interrompi­da após um tumulto entre manifestan­tes contrários à medida e vereadores.

No meio da confusão, uma pessoa apareceu com um cartaz que trazia a imagem da suástica, uma seringa sob o sinal de “proibido” e outras imagens. Ela disse à delegada ter feito três unidades, mas que duas se perderam.

“Ela alegou que foi sozinha, que ela realmente confeccion­ou os cartazes, mas que ela foi sozinha. Que teria recebido um chamado divino para fazer essa manifestaç­ão, e aí ela confeccion­ou os cartazes e foi. Que não teria envolvimen­to nenhum de ordem política ou ideológica”, explicou a delegada.

A mulher alega que levou os cartazes com a suástica para a Câmara com o objetivo de fazer uma comparação entre o passaporte vacinal e as ações do regime nazista pois, segundo ela, ambos querem controlar a vida da população por meio de decisões do estado, conta a delegada.

Apesar do tumulto e do depoimento da manifestan­te, uma das linhas de investigaç­ão sobre o caso quer saber se a ação foi coordenada por um grupo de extrema direita ou por vereadores de oposição. Por isso, nos próximos dias a polícia irá ouvir todos os envolvidos, inclusive vítimas e testemunha­s.

“Pelo o que nos disseram há gente por trás dos manifestan­tes, então queremos identifica­r se tem alguma liderança, seja ela qual for, por parte dos outros vereadores ou pessoas de extrema direita, manifestan­tes”, afirmou Mattos.

A delegada conta que um dos participan­tes já havia sido indiciado por outro crime racial. Durante um ato em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em abril deste ano, o suspeito fez parte da encenação de uma execução por enforcamen­to de uma pessoa negra, um método que ficou conhecido por ser feito pelo grupo racista americano Ku Klux Klan.

Na ocasião, um homem se vestiu com um robe semelhante ao usado pelos membros da Klan. Integrante­s da Bancada Negra da Câmara registrara­m um boletim de ocorrência pelo crime de racismo.

“Esse episódio foi muito agressivo. Essas mulheres que nos atacam ali elas escolhem as vereadoras negras. Quando ela entrou na sessão, ela já tinha me medindo dos pés a cabeça”, disse a vereadora Bruna Rodrigues.

Foi aberto um inquérito para investigar o crime de racismo na sessão na Câmara de Porto Alegre.

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