Folha de S.Paulo

‘Rei do acesso’, Ricardo Costa tenta subir 5º time em 6 anos no Paulista

Treinador do União Suzano inspira-se em Tite e cultiva banco de dados com mais de mil jogadores

- Alex Sabino

suzano Para Ricardo Costa, 40, futebol não existe como distração. Não importa onde esteja. Pode ser em casa, de férias, na concentraç­ão, em churrasco com amigos. Se na televisão estiver passando uma partida de futebol, ele busca o que aprender.

Quem sabe pode acrescenta­r mais um jogador ao seu banco de dados pessoal com mais de mil atletas.

“É impossível ver a partida como entretenim­ento. Pode acontecer de parar tudo para anotar o nome de um atleta, uma jogada ensaiada. Se não tiver papel e caneta, posso mandar mensagem pelo celular para mim mesmo ou gravar um áudio”, afirma.

A obsessão, o banco de dados, as informaçõe­s acumuladas, servem-lhe bem por trabalhar na base da pirâmide do futebol paulista. Desde 2016, Costa se transformo­u no rei do acesso do futebol estadual.

Neste sábado (23), ele pode conquistar a quinta promoção em seis anos e pelo quinto clube diferente na segunda divisão. Ele dirige o União Suzano que recebe o Grêmio Prudente às 15 horas, no estádio Suzanão, pelo segundo jogo da semifinal.

A partida terá transmissã­o pela plataforma Paulistão Play e pelos canais Eleven e NSC.

O Suzano venceu a ida, em Prudente, por 3 a 2. Pode perder até por um gol de diferença que se classifica para a final e garante o acesso.

Na outra semifinal, a Matonense enfrenta no domingo (24) o Vocem, de Assis (SP), fundado por um padre italiano em 1954, e que tenta subir à elite pela primeira vez.

Antes disso, Costa já obteve o mesmo sucesso pela Portuguesa Santista (2016), EC São Bernardo (2017), Marília (2019) e São José (2020). Apesar do nome, a segunda divisão é o quarto e último patamar do futebol paulista.

“A vida do técnico aqui é mais complicada. O contrato é por campeonato, não por temporada, e na Bezinha [apelido da segunda divisão] você tem de modificar o elenco todos os anos porque é um campeonato sub-23. A Série A1 [a elite] movimenta o dinheiro. Aqui a gente só sobrevive”, completa.

É mais do que isso. Reconhece ser preciso fazer além do papel de treinador. Costa se preocupa com a alimentaçã­o do elenco, com os cuidados com o transporte para os jogos. Não há psicólogo, então, quando percebe algo errado com o atleta, é ele quem tem de ir conversar para entender o que acontece.

São caracterís­ticas impensávei­s em divisões superiores. Isso apesar de o União Suzano ter comissão técnica completa. Em outros clubes pelos quais Ricardo Costa passou, foi bem pior.

Nas horas vagas, ele estuda o mercado. No próximo ano, em qualquer time em que esteja, talvez na chamada “Bezinha”, vai precisar de novos jogadores. Nenhuma equipe que disputa o campeonato contrata treinador com o elenco já formado.

Ser especialis­ta na última divisão de São Paulo é uma trajetória inusitada do técnico que não foi atleta profission­al e, ao contrário do que é o padrão da profissão hoje em dia, nunca fez estágio com colegas mais famosos. Ele jamais teve tempo.

A partir do momento em que se formou na PUC-Campinas, começou a trabalhar com futebol de maneira incessante.

Primeiro como preparador físico. Passou a ser técnico de categorias de base em 2007 e, dois anos depois, no profission­al. Nem sempre deu certo, claro. Ele já foi a clubes em que a estrutura não foi a prometida.

Ou onde empresário­s tentaram forçar a escalação de determinad­os atletas. E se trata da divisão na qual um time só tem dinheiro por causa de agentes. Ou investidor­es, como os dirigentes definem.

Foi neste campeonato que Costa se encontrou. Se é uma base para jogadores jovens se projetarem para voos maiores, por que seria diferente para ele?

“A gente tenta ver qual a diferença [em treinos e posicionam­entos táticos] para os times que estão em divisões acima e não vê tanta assim. É a mesma coisa. Futebol é o mesmo. Todo mundo tem estudado”, afirma.

As promoções são seu cartão de visitas. Por isso o apelido de “rei do acesso” não o incomoda. Durante alguns anos, quando começava na carreira, foi rejeitado por clubes que o considerar­am jovem demais para o cargo. Algumas dessas equipes, ele afirma, depois o procuraram para contratá-lo.

Ricardo Costa é cauteloso com as palavras. Não gosta de citar equipes nas quais teve problemas. A mesma palavra que usa para seus times, o define: equilíbrio. Seu jeito lembra, de certa forma, o de Tite. Até na maneira de falar.

Que ninguém se surpreenda então ao saber que sua referência na profissão é o treinador da seleção brasileira.

“Ele é uma inspiração. Consegue tirar o máximo dos atletas e, para mim, é o cara que vai conquistar a próxima Copa do Mundo. Você vê o time do Tite, as entrevista­s, ele dá ensinament­os. Os jogos dele você não tem como assistir apenas como torcedor. Precisa aprender o máximo”, elogia.

Ao assistir aos jogos da seleção, ele não se preocupa em anotar nomes de jogadores para engordar o seu banco de dados. Pelo menos por enquanto.

“Vejo espaço para chegar à primeira divisão do país e para trabalhar no exterior. Mas tem tempo. Primeiro, vamos atrás de mais um acesso na Bezinha.”

“A vida do técnico aqui é mais complicada. Na Bezinha [apelido da segunda divisão] você tem de modificar o elenco todos os anos porque é um campeonato sub-23. A Série A1 [a elite] movimenta o dinheiro. Aqui a gente só sobrevive Ricardo Costa treinador do União Suzano

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Adriano Vizoni/Folhapress Ricardo Costa, técnico conhecido como rei do acesso no futebol paulista

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