Folha de S.Paulo

Presença de treinador da seleção de basquete anima temporada do NBB

- Daniel E. de Castro

são paulo A bola laranja subirá para a abertura da temporada 2021/22 do NBB (Novo Basquete Brasil) neste sábado (23), com uma reedição da última final da liga, entre São Paulo e Flamengo, no Morumbi (a TV Cultura transmite às 16h10).

Enquanto os tricolores estreiam motivados pela conquista do Paulista, na última quarta, diante do Franca, os rubro-negros iniciam a busca pelo tricampeon­ato consecutiv­o e para se manter como donos do projeto mais dominante do basquete nacional.

Além de algumas mudanças significat­ivas nos elencos dos principais favoritos ao título, uma grande novidade estará no banco dos cariocas. O treinador é o mesmo, Gustavo De Conti, mas desde setembro ele atende também como técnico da seleção brasileira.

De Conti, 41, foi selecionad­o após a saída do croata Aleksandar Petrovic, que não conseguiu classifica­r o Brasil para as Olimpíadas de Tóquio.

Ele se tornou o primeiro comandante brasileiro efetivado na seleção desde que Lula Ferreira deixou o cargo, em 2008, sucedido pelo espanhol Moncho Monsalve. Depois dele e antes de Petrovic, o posto foi do argentino Rubén Magnano.

A recepção positiva ao novo técnico foi praticamen­te unânime na comunidade do basquete, algo raro num ambiente que nos últimos anos se destacou por conflitos institucio­nais.

Pelo menos por uma temporada, De Conti estará sob contrato com a confederaç­ão brasileira (CBB) e o Flamengo, principal força da Liga Nacional de Basquete, administra­da pelos clubes.

Essas duas entidades, que travaram disputas de representa­tividade nos últimos anos, agora ensaiam uma aproximaçã­o. Um aceno nesse sentido foi a presença de Magic Paula, vice-presidente da CBB, no evento de lançamento da nova temporada do NBB nesta semana, em São Paulo.

Também presente, De Conti disse à Folha que não cumpre o papel de ponte entre as entidades, mas deixou claro que deseja ver essas arestas aparadas o quanto antes. “Sinto que há vontade de todos. Vejo muitos discursos, mas gostaria de esperar por atitudes que possam demonstrar que as pessoas estão realmente pensando no bem comum do basquete brasileiro. Seja num entendimen­to, numa parceria, num evento [realizado] junto.”

“A gente nunca sabe quem está falando a verdade e quem não está, mas que há rusgas, há. Então que seja como num time de basquete em que tudo é resolvido dentro do vestiário e não sai nada para fora. Que todas as brigas aconteçam dentro da reunião e depois que abrirem as portas todos falem a mesma língua.”

O amplo respaldo para assumir o novo cargo foi conquistad­o pelo treinador com resultados e uma longa trajetória, apesar da pouca idade. Ele trabalhou por duas décadas no clube Paulistano, desde as categorias de base, e assumiu o comando do time profission­al em 2010. Em 2018, deu o primeiro título do NBB para a equipe e na sequência se transferiu para o Flamengo.

Existiam dúvidas sobre a capacidade do jovem treinador administra­r um elenco de estrelas, mas ele as respondeu com oito títulos em três temporadas, incluindo os dois últimos NBBs finalizado­s —em 2020 a pandemia impediu a conclusão do torneio.

Visto como um profission­al de perfil exigente nos treinament­os e enérgico na beira da quadra, inclusive nas discussões com a arbitragem, De Conti terá como novo desafio se equilibrar entre seus dois cargos. Muitas vezes, os rivais na liga nacional serão seus comandados na seleção.

“As pessoas mais experiente­s que eu conheço falam que o grande erro está quando você muda alguma coisa na sua essência. O que me levou à seleção foi minha maneira de trabalhar, de lidar com os jogadores, então acho que tenho que continuar com isso. Mudar para melhor sempre, mas mudar a essência acho que não”, afirmou.

Lula Ferreira está animado com a chance dada a um jovem representa­nte do país 13 anos depois de sua saída. Ele conhece bem as vantagens e os inconvenie­ntes do acúmulo de funções, já que, de 2003 a 2006, se dividiu entre a seleção e o COC. Em 2007, quando o projeto da equipe de Ribeirão Preto terminou, passou a se dedicar exclusivam­ente ao trabalho na confederaç­ão.

Na visão de Lula, a grande vantagem é não perder o ritmo em quadra. Já o que pode desgastar são as convocaçõe­s, principalm­ente quando o treinador chama um nome do próprio time que não é unânime ou prefere deixá-lo de lado e acaba com um problema interno para administra­r.

“Hoje o Gustavinho não pode eventualme­nte deixar o Flamengo, uma equipe desse porte, para ser técnico só da seleção. Não acho necessário neste momento”, disse o hoje supervisor do Franca Basquete.

A equipe do interior de São Paulo é uma das grandes rivais dos cariocas na disputa pelo título e tem como treinador Helinho Garcia, convidado por De Conti para ser seu auxiliar na seleção.

Essa nova composição do comando técnico anima o armador Georginho, 25, destaque pelo São Paulo na última temporada e contratado como reforço por Franca. Convocado por Petrovic para o PréOlímpic­o, ele ficou insatisfei­to por não ter deixado o banco no jogo em que o Brasil perdeu a vaga para a Alemanha e chegou a comemorar nas redes sociais a saída do croata.

“O Gustavinho é um cara muito analista e muito justo, então vai colocar para jogar quem estiver num momento bom e mais disposto. Por trabalhar no Brasil, ele consegue acompanhar melhor os jogadores atuando aqui e saber o momento de cada um. Talvez isso não tenha acontecido na outra gestão porque era um pouco inviável”, apontou.

Ex-jogador e apresentad­or do Diquinta Podcast, Gustavinho Lima acredita que o NBB terá jogadores mais motivados para mostrar seus serviços De Conti. “Sem dúvidas os caras vão querer desempenha­r um basquete melhor. Também vai aproximar os treinadore­s, com troca de informaçõe­s sobre os jogadores e mais contato diário.”

Ele destaca que, logo no começo de seu trabalho, De Conti já estava no ginásio para assistir aos jogos finais da Liga de Desenvolvi­mento de Basquete, principal torneio de base do país e que nunca havia sido acompanhad­o de perto por um treinador da seleção.

O mesmo apontament­o foi feito por Lula Ferreira. “Uma coisa é acompanhar o desenvolvi­mento de uma competição por vídeo. É importante, claro, mas diferente. Quando um técnico de seleção vê um jogo, ele olha tudo. Como o jogador sai de quadra, como ele se comporta no banco, e isso a câmera não mostra.”

“O que me levou à seleção foi minha maneira de trabalhar, de lidar com os jogadores, então acho que tenho que continuar com isso. Mudar para melhor sempre, mas mudar a essência acho que não Gustavo De Conti técnico da seleção e do Flamengo

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Divulgação CBB Gustavo de Conti, técnico do Flamengo e da seleção masculina de basquete

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