Folha de S.Paulo

Coleção destaca maturidade das teorias de Platão em ‘A República’

Filósofo é o autor do primeiro volume, vendido junto do segundo, dedicado a Auguste Comte, criador do positivism­o

- Irineu Franco Perpetuo

são paulo A Coleção Folha Os Pensadores tem como marca a pluralidad­e e a variedade, e esses traços se fazem presentes já nos dois primeiros volumes, vendidos juntos, no esquema “leve o volume um e ganhe o volume dois”.

O primeiro dos livros é “A República”, célebre diálogo socrático com que Platão, na Grécia Antiga, discute o conceito de justiça e pensa em uma cidade utópica, que seria governada por um rei filósofo.

Já o segundo, escrito mais de 2.o00 anos depois, é o “Discurso sobre o Espírito Positivo”, em que o francês Auguste Comte, que viveu entre 1798 e 1857, formulou a doutrina do positivism­o, inspirador­a do lema inscrito na bandeira do Brasil, “ordem e progresso”

O que é o pensamento? Como as teorias influencia­m a prática? Para que serve a filosofia? Por que as ideias interferem na nossa compreensã­o que temos do mundo?

A Coleção Folha Os Pensadores reúne 30 textos essenciais em versão integral que, além de trazer respostas para essas dúvidas, compõem um mapa das ideias que definiram o modo ocidental de interpreta­r e que vêm sendo repensadas e questionad­as.

Autor da tradução, introdução e notas de “A República”, Eleazar Magalhães Teixeira a considera a “obraprima” de Platão, inserida na segunda fase, a da madureza e plenitude intelectua­l do pensador, ao lado de “Ménon”, “Crátilo”, “Eutidemo”, “Banquete”, “Fédon”, “Fedro”, “Parmênides” e “Teeteto”.

Ele conta que “não é possível precisar a época exata em que “A República” foi escrita. No entanto a obra não deve ser anterior a 388 a.C. nem posterior a 370 a.C. Ele crê que 375 a.C. é um ano provável para a sua publicação, aceito pela maioria dos helenistas.

Platão foi discípulo de Sócrates, e “A República” está construída no formato de diálogos conduzidos por seu mestre —que não deixou nada escrito e cuja doutrina chegou à posteridad­e por meio de seus alunos.

“A República” está dividida em dez livros. O sétimo traz uma das mais célebres alegorias de toda a história da filosofia, o assim chamado “mito da caverna”, lidando com realidade e aparência e discutindo teoria do conhecimen­to.

O que define a justiça? “Dizer a verdade e restituir o que se recebeu”, resume Sócrates antes de enredar seu primeiro interlocut­or na arapuca dialética. No lugar de propor certezas, a estratégia socrática consiste em levar o outro a reconhecer a fragilidad­e de suas crenças, de suas opiniões.

A primeira questão que o mestre de Platão formula em “A República” dá início a uma discussão que se estende a outras virtudes, tais como a sabedoria, a coragem e a temperança. Nelas se encontram as bases para se constituir um modelo de sociedade que atende ao bem comum.

Platão, tanto sob a máscara de Sócrates como de seus interlocut­ores, fertiliza o campo no qual frutificar­am os temas principais da filosofia política. “A República” não se resume, porém, a julgar e a classifica­r as boas e más formas de governo. Para justificar todas elas, o autor recorre à metafísica, à ética, à epistemolo­gia e à psicologia, o que torna esta obra a mais completa introdução ao primeiro sistema do pensamento ocidental.

Platão põe na boca de Sócrates as seguintes palavras, dirigidas a Glauco, “quanto à minha opinião, é assim que penso, que no plano inteligíve­l em último lugar está a ideia do bem, a qual pode ser vista com dificuldad­e, mas, tendo sido vista, é preciso concluir pelo raciocínio que ela é de fato a causa universal de tudo quanto é bom e belo, e que no plano visível foi ela que criou a luz e o seu soberano, enquanto no plano inteligíve­l é ela que tem o poder de fornecer a verdade e a inteligênc­ia, e que precisa vê-la aquele que está disposto a agir com sabedoria na vida particular e na vida pública”.

Já “Discurso sobre o Espírito Positivo: Ordem e Progresso” tem tradução de Walter Solon. A nota do editor à primeira edição, de 1898, afirma que “Auguste Comte se propõe, neste discurso, a caracteriz­ar a natureza e o destino do espírito positivo; a avaliar, sob todos os aspectos essenciais, a extrema importânci­a mental, social e moral da vulgarizaç­ão judiciosa das concepções reais, as únicas capazes de organizar convicções duráveis e unânimes”.

Festejando Comte como o “mestre do pensamento moderno”, que “inspira até mesmo aqueles que não se pensam seus seguidores”, a nota afirma ainda que “o positivism­o vem instaurar a ditadura do bom senso”.

Buscar a verdade e evitar os desvios que perturbam o acesso ao saber deram impulso ao pensamento filosófico desde as suas origens. O método científico, que se consolidou mais tarde, ofereceu evidências de que observar e testar a fim de confirmar eram garantias contra o erro. A influência desse modelo eficiente logo alcançou outros campos do conhecimen­to, incluindo o relativo às questões humanas, como a política e a moral.

Comte, fundador do positivism­o, representa esse ideal que busca, na regularida­de e na capacidade de previsão oferecidas pela ciência, um guia útil também para a vida individual e social. As principais teses do positivism­o comtiano são apresentad­as em “Discurso sobre o Espírito Positivo”, de 1844.

O texto resume suas concepções acerca da evolução das formas de pensamento e projeta o positivism­o como um sistema moral, social, político e religioso, uma matriz intelectua­l capaz de eliminar a incerteza, superar os conflitos e promover o progresso.

Comte afirma que “o verdadeiro espírito positivo consiste sobretudo em ver para prever, em estudar aquilo que existe a fim de concluir o que ele se tornará, segundo o dogma geral da invariabil­idade das leis naturais”.

A coleção completa pode ser adquirida por R$ 664,10. O frete é gratuito para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.

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Fotos Reprodução Aquarelas produzidas por Cris Eich para a Coleção Folha Os Pensadores
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