Besouro mostra que é fofo mesmo com um palavrão no nome
são paulo Este texto começa com uma proposta: eu aposto que, quando você terminar de lê-lo, vai ter mudado completamente seu sentimento em relação ao assunto que vamos tratar aqui. E, caso continue pensando como pensava antes, fico devendo a você um novo texto, dessa vez sobre um assunto de que todo mundo gosta. Tipo bala. Filhotinhos de cachorro. Pizza.
Esse texto aqui é sobre besouros. Aquele animal que voa fazendo um barulhão e muitas vezes parece completamente descontrolado, batendo nas coisas e até na gente. Sabe por que ele faz isso?
Não é porque ele queira assustar ninguém, pelo contrário. O fato é que ele próprio está assustado e desorientado pela quantidade de luzes que os humanos acendem, e que, para eles, são intensas demais. Nesse voo doido, os besouros costumam estar só em busca de um lugar para construir a sua toca.
Os besouros fazem parte da ordem dos coleópteros, que significa “asas de estojo”.
“Todos têm dois pares de asas, mas nem todos sabem voar. Normalmente o par de asa mais externo é mais duro e protege o par mais interno, que, nos besouros que sabem voar, é o par de asas usado para o voo”, explica Paulo Ribolla, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Os coleópteros têm integrantes muito famosos, entre eles o vagalume e a joaninha. Paulo também menciona o besouro titan (Titanus giganteus), que tem até 18 centímetros de comprimento.
Vincenzo Zanini, que estuda ciências biológicas e é membro do laboratório de zoologia de invertebrados da Universidade Federal de Catalão (UFCAT), conta que os coleópteros são a ordem com maior número de espécies entre os animais.
“São quase 500 mil espécies de besouros descritas, e o número pode ser bem maior, já que falta muito a se aprender sobre esses animais”, explica.
Outro membro dessa ordem, e que aparece na foto principal ali em cima, tem um nome popular bem engraçado, e que talvez só porque essa aqui é uma reportagem séria de jornal sua família deixe você falar um palavrão: ele se chama rola-bosta.
Você já deve ter visto um desses em um documentário ou desenho, eles estão sempre empurrando uma bolinha por aí. Pois essa bolinha é feita de cocô.
Lembra que eu falei lá no começo que você ia mudar sua visão a respeito do assunto deste texto? E agora eu venho e escrevo sobre besouros que empurram cocô com as próprias patas? Não parece muito promissora nossa aposta.
Mas calma. Leia a história dos rola-bosta e veja se não acha bonitinha: as bolinhas são o lugar onde eles vão colocar seus ovinhos e, quando eles eclodirem e deles saírem suas larvas, elas poderão se alimentar do material fermentado da bolinha.
Paulo e Vincenzo explicam que os rola-bosta precisam empurrar a bolinha para o mais longe possível, senão aparecem competidores para roubá-las deles. No caminho, os besouros formam um parzinho com outro rola-bosta, e, juntos, fazem um ninho para poder ter e cuidar dos seus bebês.
Ou seja: a bolinha de bosta —ops, de cocô— serve de alimento e de berçário. Fofo, admita. “Eles são atraídos pelo cheiro e pelo calor que os montes de esterco produzem, tiram dali as bolinhas, e juntam o máximo possível para garantir a nutrição das larvas”, continua Vincenzo.
E não serve qualquer cocô não, antes que você comece a ter ideias mirabolantes. “Eles utilizam preferencialmente fezes de herbívoros, ou seja, de animais que só comem plantas. Elas têm que estar úmidas e ser fezes de uma a quatro semanas. Depois que as fezes secam, eles não utilizam mais”, ensina Paulo.
Este tipo de besouro pode botar de cinco a 20 ovos por ano. Podem ser pretos e ter tons metálicos em azul, verde ou até laranja. As fêmeas tendem a ser maiores, e alguns machos têm uns chifres na ponta do focinho.
Ah, e sabe quando ele se enrosca no cabelo da gente e todo mundo entra em pânico? É um acidente, diz Vincenzo. “Eles acabam enroscando as perninhas nos fios, é um pequeno acidente de percurso”, completa Paulo.
Agora diga: os besouros são ou não são bichinhos muito legais? Pois acho que ganhei a nossa aposta.