Folha de S.Paulo

O requinte gourmet da temporada das trufas brancas

- Marcos Nogueira folha.com/cozinhabru­ta

O ouro comestível não causa alergia e não tem gosto. Ele está lá para você brilhar. Seu ego merece uma massagem assim

Que soem as trombetas: finalmente chegou a temporada das magníficas trufas brancas de Alba.

A trufa branca é um fungo subterrâne­o que ocorre naturalmen­te em bosques piemontese­s —na Europa, até a natureza é mais chique. Rara e de aroma inebriante, empresta seu requinte a pratos dos mais renomados restaurant­es.

A iguaria surge apenas no outono europeu, quando gourmets do mundo inteiro a disputam a tapa. Num restaurant­e de São Paulo, uma codorna recheada de purê de batatas com trufas brancas custa justos R$ 720. Corra para garantir seu lugar, pois as reservas se esgotam voando!

Nossa primavera também é a estação das bandejas de isopor vazias, uma inovação disruptiva já disponível nos melhores supermerca­dos dos “suburbs” paulistano­s.

Veja que genial: o cliente que adquire carne em bairros diferencia­dos —como o Jardim Ângela, no nosso “lower west side”— não precisa se preocupar com a mercadoria enquanto flana por entre as gôndolas. Após passar pelo caixa e pagar, o comprador troca a bandeja pela carne, que foi mantida refrigerad­a para garantir máximo frescor.

São Paulo, nesta época do ano, ainda é palco de festivais gastronômi­cos em que o “foodie” pode degustar de tudo um pouco e se perder entre tantos sabores sedutores.

O carrossel de delícias vai dos delicados peixes da águas árticas do Alasca ao churrasco de bois que dormem ao som de música clássica, passando por dezenas de acepipes étnicos e bons drinques. Há também espaços dedicados ao vinho —o consumo de brancos, tintos e borbulhant­es explodiu nos últimos dois anos, excelente notícia.

Mas vamos sair um pouco de São Paulo, né? Porque o Brasil não é só a nossa bolha. Vamos ao ensolarado Ceará, que, acredite, tem muito a oferecer além do kitesurf e das “sunset parties” de Jeri.

Em Fortaleza, uma iniciativa em prol da sustentabi­lidade reuniu cidadãos preocupado­s com o destino do descarte de comida na cidade. Imbuídos de espírito cívico, os moradores interpelar­am um caminhão da coleta de lixo municipal para dar uma segunda chance a alimentos em baixíssimo estado de putrefação.

É isso aí, minha gente, desperdíci­o zero! Lindo exemplo que vem lá do Ceará! Mas também não se culpe demais se você fizer uma extravagân­cia aqui e ali.

Para os dias em que você quer todo o luxo do mundo, existe uma restaurant­e nos Jardins que serve um tomahawk, corte com osso, do mais nobre gado angus, de origem britânica, folheado a ouro. Custa menos de R$ 500, imagine!

O ouro comestível não causa alergia e não tem gosto. Ele está lá para você brilhar. Seu ego merece uma massagem assim.

Para terminar a coluninha de hoje, uma notícia de economia: o Brasil é destaque num relatório de riqueza de um banco suíço, olha que máximo. Aqui, o 1% de inovadores que movem a economia detém 49,6% do dinheiro. Parabéns, empreended­ores!

Só ficamos atrás dos magnatas da Rússia, que, além de deter 58,2% da riqueza, ainda têm caviar logo ali. Inveja branca como a neve da SibéUma

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