Conservadores lucram com negação do racismo
Após sucesso de publicações antirracistas, autores de direita começam a conquistar público com teorias discordantes
the new york times O livro “How to Be an Antiracist”, ou como ser um antirracista, de Ibraim X. Kendi, vendeu quase 2 milhões de cópias desde seu lançamento, dois anos atrás, um resultado de vendas espantoso e mais comumente associado a livros sobre Donald Trump do que sobre questões sociais difíceis.
Mas outros livros que estão sendo publicados nos Estados Unidos vêm de uma perspectiva muito diferente, entre os quais “I Can’t Breathe: How a Racial Hoax Is Killing America”, ou não consigo respirar, como uma farsa racial está matando a América.
Desde o assassinato de George Floyd, livros sobre raça e racismo vêm impulsionando o setor editorial, de maneira surpreendente e lucrativa. Agora que o diálogo sobre racismo se transformou em batalha, editoras conservadoras estão vendo ouro em títulos que servem à causa da reação.
“Blackout”, de Candace Owens, uma personalidade de mídia direitista, vendeu 480 mil cópias desde o lançamento em 2020. “Fault Lines: The Social Justice Movement and Evangelicalism’s Looming Catastrophe”, ou o movimento de justiça social e a catástrofe iminente do evangelicalismo, de Voddie Baucham Jr., vendeu 90 mil cópias desde que foi lançado no segundo trimestre pela Salem Books, um selo editorial cristão da Regnery Publishing.
O sucesso “foi uma grande surpresa”, disse Thomas Spence, presidente e editorchefe da Regnery. “O livro encontrou um público.” No final deste ano, a Regnery vai lançar “I Can’t Breathe”, de David Horowitz, que examina 26 incidentes descritos pela mídia como ataques de base racial, e argumenta que, excetuados dois dos casos, todos os demais foram caracterizados indevidamente.
“Creio que o lado conservador está começando a reagir, tentando reafirmar sua visão sobre os Estados Unidos e a questão racial nos Estados Unidos”, disse Spence. “Entramos no jogo um pouco tarde, mas estamos chegando lá.”
Neste ano, veículos de direita começaram a se pronunciar agressivamente sobre a teoria crítica da raça, um enquadramento que examina o papel das instituições na perpetuação da desigualdade racial, em lugar de se concentrar no preconceito individual.
Os que a criticam a definem como um sistema de crença divisivo que retrata ser branco como ruim e descreve o país de forma injusta como irrecuperavelmente racista. Quem abraça a teoria diz que o termo foi descaracterizado e usado de maneira incorreta.
A questão despertou uma tempestade agora que o Partido Republicano planeja se concentrar em questões de guerra cultural para retomar o controle da Câmara dos Deputados e do Senado nas eleições legislativas de 2022. Pelo menos 21 estados debateram ou aprovaram leis que restringem a maneira pela qual as escolas podem tratar de questões raciais ou racismo.
Nessa atmosfera, muitos livros que exploram questões de raça e racismo foram rotulados incorretamente como representativos da teoria crítica da raça.
Em junho de 2020, pouco depois do assassinato de Floyd, as vendas de livros sobre raça e racismo explodiram. Títulos enquadrados na categoria “discriminação” venderam 850 mil cópias naquele mês, de acordo com a NPD BookScan. No mês de junho anterior, o total havia sido de 34 mil.
Nos cinco primeiros meses de 2021, livros sobre discriminação venderam três vezes mais do que no período um ano atrás, de acordo com a BookScan, e chegaram a 90 mil cópias em junho.
Continuam a existir mais livros explorando as questões raciais dos Estados Unidos do ponto de vista da esquerda. O interesse dos progressistas vem crescendo há anos, à medida que a atenção nacional passou a se concentrar nessas questões. Mas o setor editorial age lentamente.
Na metade do ano passado, a Bombardier Books lançou um selo editorial chamado Emancipation Books, que se descreve como “dedicado a publicar autores não brancos cujas opiniões não se enquadrem à conformidade ideológica de nossa era”.
O selo vai lançar diversos livros sobre raça e racismo no final do ano, entre os quais “Red, White, and Black: Rescuing American History from Revisionists and Race Hustlers”, ou vermelho, branco e preto, resgatando a história americana de revisores e traficantes da raça, uma antologia que a editora descreve como correção para o “1619 Project” do The New York Times.
O surgimento desses livros reflete uma cisão mais ampla no negócio editorial, sob a qual poucos selos editoriais atendem a um grupo grande e faminto de leitores da direita.
Embora as equipes das grandes editoras há muito tempo tenham inclinações esquerdistas, essas empresas publicavam livros de todo o espectro. Muitos são publicados por selos reservados a autores conservadores, com equipes separadas. Nos últimos anos, isso começou a mudar, e as grandes foram abandonando a publicação dos conservadores mais controversos.
Ao mesmo tempo, conservadores começaram a criar um ecossistema próprio. Até agora, as editoras conservadoras independentes em geral não conseguem competir com as casas convencionais em termos dos adiantamentos. O que oferecem é, às vezes, um sistema de lucro compartilhado e uma garantia de que um livro não será cancelado por causa de protestos no Twitter.
“Não só todo mundo aqui está entusiasmado quanto aos livros, como também conhecemos o mercado”, disse Spence, editor-chefe da Regnery.
Há pouco tempo, antigos executivos da Simon & Schuster e Hachette criaram a All Seasons Press, uma editora conservadora que se descreve como “acolhedora para autores que estejam sendo atacados, banidos da mídia social e rejeitados pelas editoras politicamente corretas”.
Uma empresa de relações públicas de Washington chamada Athos criou uma agência para representar conservadores como Scott Atlas, antigo assessor de Donald Trump quanto ao coronavírus, e Christopher Rufo, pesquisador sênior do Manhattan Institute e diretor da iniciativa daquela organização quanto à teoria crítica da raça, que recentemente vendeu um livro sobre o tema à editora Broadside. Rufo recebe o crédito por despertar a indignação de conservadores convencionais com relação à teoria crítica da raça.
“Para ser honesto, acontece a mesma coisa que costuma acontecer com a divisão entre esquerda e direita”, disse David Bernstein, editorchefe da Bombardier Books e Emancipation Books. “Todos sabemos estar publicando livros cada vez mais divisivos, que não têm audiência do outro lado; todos os envolvidos no mercado de livros políticos sabem disso.”
“É aquela velha questão do ovo ou a galinha”, ele prosseguiu. “Estamos criando a divisão ou refletindo a divisão?”