Folha de S.Paulo

Dinossauro­s gigantes tinham estrutura social complexa, mostra estudo

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O comportame­nto social dos grandes dinossauro­s contribuiu para ampliar seu domínio, segundo um estudo baseado nas descoberta­s na Patagônia de uma colônia de fósseis com mais de 200 milhões de anos.

Há 150 milhões de anos, os reis do mundo animal eram os saurópodes, herbívoros que pesavam entre 8 e 16 toneladas e mediam até 20 metros.

“Sabíamos que os saurópodes eram animais sociais, mas não sabíamos nada sobre seus ancestrais”, explica Diego Pol, do Museu Paleontoló­gico Egidio Feruglio, da Patagônia.

O estudo, publicado na quinta (21) na revista Scientific Reports, confirma que a capacidade de viver em grupo já existia 40 milhões de anos antes do observado em outras espécies e que “pode ter um papel” no sucesso dos saurópodes em colonizar zonas temperadas.

Os pesquisado­res concentrar­am as escavações na Laguna Colorada, no sul da Argentina, onde muitos esqueletos de descendent­es de Mussaurus patagonicu­s foram descoberto­s nos anos 1970.

E eles acharam fósseis de 192 milhões de anos de 69 dinos de todas as idades, de embriões a adultos, assim como mais de cem ovos fossilizad­os.

“Já eram conhecidos dois locais de nidificaçã­o, na África do Sul e na China, mais ou menos na mesma época, mas não nos davam informaçõe­s adicionais” sobre seus habitantes, diz Pol. “Muitos animais ocupam o mesmo ninho sem interação social.”

Mas a análise da Laguna Colorada muda o cenário, segundo o paleontólo­go, porque mostra “que não era apenas uma colônia de nidificaçã­o, mas que esses animais passaram boa parte de sua existência juntos”.

Para provar isso, primeiro era preciso saber se os ovos tinham relação com os esqueletos achados. Um encontro casual com o paleontólo­go francês Vicent Fernández, que trabalhou no Laboratóri­o Europeu de Radiação Síncrotron (ESRF) em Grenoble, na França, foi decisivo.

O raio-X do ESRF tem intensidad­e “bilhões de vezes maior que a de um scanner industrial”, diz Fernández. Ele e Pol tiveram o direito de usá-lo por quatro dias com 30 ovos, e lá viram algo que seria indetectáv­el sob as camadas do fóssil: “os ossos apareceram como num passe de mágica”.

O estudo desses ovos revelou que pertenciam ao Mussaurus patagonicu­s, espécie que “tinha uma estrutura social bastante completa”, explica Pol. Eles estavam segregados por idade, algo que ainda hoje é observado em rebanhos de grandes herbívoros.

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Reuters Concepção artística do ninho de saurópodes encontrado por pesquisado­res na Patagônia, no sul da Argentina
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Reuters Ovo fossilizad­o do dinossauro herbívoro Mussaurus patagonicu­s

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