Folha de S.Paulo

A polícia letal de Witzel e Castro

- Juliana Coissi

Em 2018, um então desconheci­do ex-juiz federal criticou, durante sabatina Folha, UOL e SBT, ações policiais com grande volume de mortos em comunidade­s no Rio de Janeiro. “Essa política de confronto é a pior possível. É a que leva terror às comunidade­s”, disse Wilson Witzel.

Foi eleito meses depois governador do estado, na esteira do bolsonaris­mo. Afastado por crime de responsabi­lidade, teve como sucessor o vice, Cláudio Castro.

Sob Witzel e Castro, o Rio tornouse vítima de algumas das mais letais operações policiais de sua história —Fallet/Prazeres, em 2019, e Complexo do Alemão, em 2020 (13 mortos cada), no comando do ex-juiz, e Vila Ibirapitan­ga/Itaguaí (12 mortos), em 2020, e Jacarezinh­o (28 mortos), em 2021, na atual gestão.

O recorde coube a Jacarezinh­o. A operação da Polícia Civil que começou com um inspetor assassinad­o deixou um rastro de sangue e corpos pelas vielas. Das 28 mortes, 24 tiveram a investigaç­ão arquivada.

Um ano após a tragédia, é compreensí­vel a desconfian­ça dos moradores ao projeto Cidade Integrada, anunciado agora, em ano eleitoral. Casas reviradas por policiais e muro de grafite pintado de branco por engano são sinais do ranço truculento e da falta de comunicaçã­o com a comunidade.

Em janeiro, ao lançar a ação, o précandida­to à reeleição Castro disse que a proposta em nada se assemelha às decadentes UPPs, que bem começaram sob o signo da pacificaçã­o, mas definharam. “A ideia é que a Polícia Civil e Militar possam se reinventar”.

É o mesmo governador que implantou câmeras nos uniformes de PMs. Especialis­tas elogiam a medida, por buscar transparên­cia, mas ponderam ser preciso correta análise do material e punição a culpados para que funcione.

O eleitor que vai às urnas em outubro no Rio cansou do terror nas comunidade­s, da intimidaçã­o impune e de ver casas vasculhada­s sem motivo. Resta saber como candidatos irão convencê-lo de que operações sangrentas como a de Jacarezinh­o serão só triste estatístic­a do passado.

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