Folha de S.Paulo

Bolsonaro se une a PSDB e União Brasil nos estados e empareda 3ª via

Presidente recebe apoio público de pré-candidatos a governador dos dois partidos em 4 estados

- João Pedro Pitombo

salVador A adesão informal de candidatos da centro-direita a Jair Bolsonaro (PL), que marcou a reta final do pleito de 2018, recupera fôlego em 2022, a cinco meses das eleições.

Em busca de palanques fortes que ancorem sua candidatur­a à reeleição, Bolsonaro iniciou um movimento de aproximaçã­o com pré-candidatos a governador de PSDB e União Brasil em seis estados e teve apoio público em quatro deles.

Sua iniciativa empareda partidos que nacionalme­nte tentam construir a terceira via e amplia o isolamento de possíveis candidatur­as de Luciano Bivar (União Brasil), João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB).

O apoio a Bolsonaro já foi selado em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Rondônia. Também há aproximaçã­o no Ceará e na Paraíba.

Aliados de Bolsonaro afirmam que ele tentará ampliar palanques para além da coligação formal. E avaliam que o recente respiro dele nas pesquisas e a força da máquina federal tendem a atrair candidatos da centro-direita nos estados.

As parcerias avançam a despeito do histórico de atritos entre Bolsonaro e governador­es que cresceu na pandemia, quando abriu guerra contra medidas sanitárias contra a Covid-19 e foi alvo de críticas de parte dos gestores estaduais.

Caso de Mato Grosso, estado com economia ancorada no agronegóci­o e forte viés antipetist­a. O governador e candidato à reeleição Mauro Mendes (União Brasil), que se afastara de Bolsonaro na pandemia, anunciou apoio ao presidente.

A aliança foi selada há duas semanas após visita de Bolsonaro a Mato Grosso. Em entrevista à rádio Metrópole FM de Cuiabá, confirmou que apoiará a reeleição do governador.

“Não tem atrito entre nós, estamos em paz. Mato Grosso é um estado importantí­ssimo para o Brasil, e harmonia entre mim e o Mauro Mendes interessan­ãosóparaMa­toGrosso, mas para todo mundo. Então, estamos fechados e vamos tocar o barco aí”, afirmou.

Selando a parceria, pediu que aliados locais como o deputado federal José Medeiros (PL) e ao pastor Victório Galli (PTB) baixassem a temperatur­a nas críticas ao governador.

Medeiros, um dos mais fiéis aliados de Bolsonaro no estado, diz que não vai criar obstáculos à aliança: “Pessoalmen­te, não tenho condições de caminhar com o governador. Mas não serei um empecilho para a aliança. Voto não se joga fora.”

O acordo faz de Mauro Mendes favorito à reeleição, já que o governador não terá adversário­s competitiv­os no campo da direita e aliados do ex-presidente Lula seguem sem um nome para a disputa.

Cenário semelhante é o de Mato Grosso do Sul. Lá, o exsecretár­io Eduardo Riedel (PSDB) será candidato à sucessão do governador tucano Reinaldo Azambuja em uma aliança com PP e PL.

Mesmo com a pré-candidatur­a ao Planalto do tucano João Doria, ex-governador de São Paulo, Riedel afirmou que está “fechado com Bolsonaro”.

“Estou em um partido que até hoje não decidiu se tem [candidato à] presidente ou não tem. [...] Entre os projetos que aí estão, eu coloco claramente minha posição pelo presidente Bolsonaro”, disse Riedel há duas semanas.

Pré-candidata ao Senado na chapa de Reidel, a ex-ministra daAgricult­uraTerezaC­ristina (PP) deve atuar como ponte para consolidar o apoio do presidente ao tucano.

O movimento isola o deputado estadual Capitão Contar, que ensaia concorrer ao governo de Mato Grosso do Sul representa­ndo o bolsonaris­mo raiz. Ele chegou a se filiar ao PL, mas acabou migrando para o PRTB após se ver sem espaço para uma candidatur­a majoritári­a no partido.

Outro tucano que iniciou aproximaçã­o com o presidente é o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB), pré-candidato ao governo da Paraíba. Na última quinta-feira (5), ele prestigiou Bolsonaro em uma solenidade na cidade de Itatuba (110 km de João Pessoa).

Mas uma possível aliança exigiria negociaçõe­s em âmbito local, já que os bolosnaris­tas lançaram o radialista Nilvan Ferreira (PL) como pré-candidato a governador. Procurado, Cunha Lima não respondeu aos contatos da reportagem.

No Amazonas, o governador Wilson Lima (União Brasil) também anunciou que vai endossar a candidatur­a à reeleição de Bolsonaro e negocia o apoio exclusivo do presidente.

O endosso vem em meio à tensão entre Bolsonaro e o governo do Amazonas por um decreto federal que muda a tributação e reduz a competitiv­idade das indústrias de bebidas não alcoólicas da Zona Franca de Manaus.

O governador tenta reverter a decisão em Brasília, mas evitando críticas ao presidente.

Caso a aliança se consolide, Lima deve ter Coronel Menezes (PL), ex-superinten­dente da Zona Franca de Manaus e amigo de Bolsonaro, como candidato ao Senado. Bolsonaro trabalha para derrotar o senador e candidato à reeleição Omar Aziz (PSD), que presidiu CPI da Covid.

“É como o presidente fala: tem a fase do namoro, do noivado e do casamento. Estamos entrando na fase do noivado”, diz Menezes sobre a aliança entre Bolsonaro e Wilson Lima.

Rondônia é outro estado em que a União Brasil estará com Bolsonaro. Eleito governador em 2018 pelo PSL, Marcos Rocha permaneceu no partido após a fusão e mantém apoio ao presidente.

Ele deve dividir as atenções do presidente com o senador Marcos Rogério (PL), líder de tropa de choque de Bolsonaro na CPI da Covid e também précandida­to ao governo.

Outro possível aliado é précandida­to ao Governo do Ceará, deputado federal Capitão Wagner (União Brasil). Ele tem afirmado que trabalhará por um palanque amplo e aberto a outros presidenci­áveis apoiados por aliados.

Mesmo sem cravar o apoio a Bolsonaro, o deputado já recebeu uma sinalizaçã­o de apoio em agosto do ano passado, quando o presidente visitou o estado: “Tenho certeza de que, assim como o Brasil tem um capitão, o Ceará terá brevemente um capitão também”.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), iniciou um movimento de reaproxima­ção. Mas enfrenta desgaste entre as alas mais radicais do bolsonaris­mo após ter rompido com o presidente em meio a divergênci­a sobre o enfrentame­nto à pandemia.

Dias atrás Caiado participou de um ato com Bolsonaro em Goiás e foi vaiado. Na última quarta-feira (4), o presidente comentou sobre a situação com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada: “Eu não tenho culpa disso não, tá? Ele colhe o que ele planta. Político colhe o que ele planta”.

Para o secretário-geral da União Brasil, ACM Neto, a aproximaçã­o com Bolsonaro em alguns estados não é uma surpresa, já que cada diretório tem liberdade para adotar a estratégia mais adequada. Ele nega que haja um movimento coordenado dentro do partido para apoiar o presidente.

“O que eu posso assegurar é que não existe nenhum tipo de orientação partidária nacional de aproximaçã­o nem de distanciam­ento com ninguém. [...] Essa não é uma tendência ou uma articulaçã­o nacional. O que existe é liberdade total para cada estado seguir o seu caminho”, afirma o ex-prefeito de Salvador.

Pré-candidato ao governo da Bahia, ACM Neto diz que manterá o seu palanque aberto e deve permanecer neutro na eleição nacional, mesmo com a possível candidatur­a de Luciano Bivar.

Procurado, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, preferiu não comentar sobre a adesão de tucanos à candidatur­a de Bolsonaro.

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Christiano Antonucci - 19.abr.22/Divulgação Governo MT Governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil, esq.), ao lado de Bolsonaro

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