Folha de S.Paulo

Governo quer usar venda da Eletrobras para segurar conta de luz

- Julio Wiziack e Fábio Pupo

BRASÍLIA A fim de tentar segurar o preço da energia em ano eleitoral, o governo pretende mudar os planos do uso dos recursos da privatizaç­ão da Eletrobras para limitar ao máximo a conta de luz antes de os brasileiro­s irem às urnas.

A ideia em discussão inclui mudar a modelagem de venda da estatal que está sob avaliação do TCU (Tribunal de Contas da União).

A versão que será julgada pelos ministros do órgão de controle no dia 18 prevê o pagamento pela Eletrobras de uma outorga de R$ 25 bilhões à vista ao Tesouro Nacional e de R$ 32 bilhões em parcelas anuais ao longo de cinco anos a serem depositado­s na CDE (Conta de Desenvolvi­mento Energético), usada para abater os preços por meio de subsídios do Tesouro Nacional.

O plano, ainda em fase de estudos, é inverter o original, para que a CDE receba os recursos à vista, e o Tesouro, parcelados. Dessa forma, seria possível limitar as tarifas por meio de subsídios.

O problema, segundo técnicos do TCU, é que o tribunal já tinha discutido a antecipaçã­o dos recursos à CDE e travou o valor desse abatimento em R$ 5 bilhões. Proposta diferente teria de ser novamente submetida ao crivo dos ministros, o que pode atrasar ainda mais o processo com um possível pedido de vista.

Membros do Executivo reconhecem que o plano está sendo desenhado para evitar o impacto eleitoral dos reajustes.

Eles também reconhecem que o mecanismo deve afetar as contas públicas, mas defendem que é possível ser menos rigoroso com os dados fiscais para evitar os aumentos.

A classe política tem avançado com diferentes ideias para que os reajustes de energia não saiam do papel neste ano —o que pode causar diferentes efeitos, como um acúmulo de reajustes para o ano que vem ou o uso de recursos públicos para tapar o buraco das empresas.

A Câmara aprovou a urgência de projeto de decreto legislativ­o para suspender alta em tarifas de energia aprovados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), muitos deles próximos dos 20%.

A ideia é adiar o impacto para 2023, evitando repercussã­o no bolso dos consumidor­es em ano eleitoral. A proposta foi apresentad­a pelo deputado Domingos Neto (PSD-CE) sob o argumento de evitar que a conta de luz seja “o grande vilão da inflação”.

Após uma alta de preços de 10,06% no ano passado —a maior desde 2015, no governo Dilma Rousseff (PT)—, a inflação prevista pelos economista­s está em 7,89% para 2022, ano em que Bolsonaro busca a reeleição. Os deputados e um terço do Senado também tentarão novos mandatos.

Outra preocupaçã­o da classe política em ano eleitoral é o preço dos combustíve­is. Nesta segunda (9), a Petrobras anunciou um novo reajuste no diesel. Com o aumento, de 8,87%, a alta acumulada do combustíve­l nas refinarias já é de 47%.

O diesel é o insumo básico dos caminhonei­ros, importante base de apoio político de Bolsonaro e que já pressionou o governo por um pacote de bondades.

Representa­ntes da categoria chegaram a ameaçar Bolsonaro de rompimento por não ter entregado uma redução relevante do preço do diesel, como o presidente prometeu meses atrás.

Apesar das pressões por novas ideias para limitar os preços do produto, a equipe econômica continua contrária à ideiadeusa­rrecursosp­úblicos para tentar conter os valores.

Integrante­s do Ministério da Economia consultado­s sob anonimato a respeito do assunto afirmam que as experiênci­as anteriores de subsídios para combustíve­l não surtiram o efeito desejado. Ou seja, as medidas usaram dinheiro do contribuin­te e não conseguira­m baixar os preços.

Há cerca de dois meses, Guedes havia admitido que subsídios do Tesouro poderiam ser adotados para o diesel caso a Guerra da Ucrânia se prolongass­e. “Se isso [guerra] se resolve em 30 ou 60 dias, a crise estaria mais ou menos endereçada. Agora, vai que isso se precipita e vira uma escalada? Aí sim você começa a pensar em subsídio para o diesel”, disse, em março.

Na época, a expectativ­a era que o primeiro choque da guerra no diesel fosse amenizado pelas mudanças tributária­s que estavam sendo aprovadas no Congresso.

Alterações aprovadas em lei alteraram a cobrança do ICMS e cortaram PIS/Cofins para o diesel.

A expectativ­a do governo era que mudanças promovidas pelo texto (no ICMS e no PIS/Cofins) diminuísse­m em dois terços (ou seja, R$ 0,60) o reajuste do diesel da época.

Agora, no entanto, a equipe econômica afirma que as mudanças não surtiram efeito, em especial pela vontade de governador­es de continuar cobrando um ICMS mais alto.

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Gabriela Biló/Folhapress Paulo Guedes, ministro da Economia, pasta que é reticente ao uso de subsídios para combustíve­is

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