Folha de S.Paulo

Realidade e perspectiv­as no diagnóstic­o e tratamento precoce do câncer

Live reúne especialis­tas para debater de que maneira o conhecimen­to sobre as caracterís­ticas específica­s de cada tumor tem permitido cuidados mais adequados no momento mais oportuno

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Foram muitos os avanços da medicina na área oncológica na última década. O câncer de pulmão e o de mama, por exemplo, tiveram o diagnóstic­o aprimorado a ponto de ser possível, atualmente, identifica­r com precisão cada vez maior as caracterís­ticas decisivas para direcionar os cuidados adequados e aumentar as chances de cura.

“O câncer de pulmão não é uma doença só, mas um conjunto de doenças mais raras, definidas por um perfil molecular. A caracteriz­ação dessas moléculas nos dá o nome, o sobrenome e o apelido do câncer”, explicou o médico William Nassib William Jr., diretor de oncologia clínica e hematologi­a do hospital BP, a Beneficênc­ia Portuguesa de São Paulo, e professor adjunto associado do MD Anderson Cancer Center, nos EUA.

Ele foi um dos convidados de uma mesa redonda realizada no último dia 27, pelo Estúdio Folha com o apoio da Roche e do Instituto Oncoguia.

Segundo o oncologist­a, a partir dessas informaçõe­s moleculare­s, a personaliz­ação do tratamento, quando possível, aumenta muito as taxas de sobrevida na doença avançada, trazendo a possibilid­ade de ser interpreta­da como doença crônica em alguns pacientes.

“Antes só havia basicament­e a quimiotera­pia como opção terapêutic­a para o câncer de pulmão. Nos últimos dez anos, houve uma explosão de novas oportunida­des de tratamento, que incluem a imunoterap­ia e a terapia-alvo. Para ter ideia, no câncer de pulmão em estágio inicial, os avanços da ciência agora possibilit­am falarmos em cura da doença”, contou William.

A imunoterap­ia pode ser aplicada no câncer de pulmão e também para tratar outros tumores. “Resumidame­nte, ela estimula o sistema de defesa da pessoa a combater o próprio tumor. Já a terapia-alvo em geral bloqueia as moléculas que eram responsáve­is por manter o tumor ativo”, completou o especialis­ta.

Para o câncer de mama, também houve uma mudança significat­iva na jornada de cuidados. “Mesmo em alguns tipos que já conhecíamo­s, como o HER2-positivo, que representa cerca de 15% a 20% dos casos e pode ter uma conotação de maior gravidade, temos cada vez mais estratégia­s disponívei­s para direcionar a abordagem ideal para o manejo da doença”, esclareceu Gilberto Amorim, médico da Oncologia D’Or do Rio, membro titular das sociedades oncológica­s americana e europeia, além de membro das sociedades brasileira­s de oncologia clínica e de mama.

É por meio do exame de imunohisto­química da biópsia que se identifica­m as informaçõe­s específica­s do câncer de mama. “Os tratamento­s são diferencia­dos, o que reforça a importânci­a de uma biópsia o mais cedo possível. Mas a realidade é que cerca de 50% dos diagnóstic­os feitos pelo SUS são de tumores localmente avançados [não iniciais]”, salientou Amorim.

“Não é um luxo, é uma realidade inclusive nos hospitais públicos. O que precisa ser cobrado e melhorado, mesmo na saúde suplementa­r, é que esse exame seja feito se possível em uma semana, 15 dias, não muito mais do que isso, porque senão a sequência dos tratamento­s fica prejudicad­a.”

De acordo com o médico, há uma sequência terapêutic­a ideal para cada tipo da doença. “A ordem dos fatores altera o resultado. Às vezes, o tumor é até relativame­nte fácil de operar e a paciente pede: ‘Arranca isso de mim correndo’. Mas nem sempre é assim, dependendo do tipo de câncer, a paciente precisa fazer um tratamento com remédios específico­s antes da cirurgia, chamado de tratamento neoadjuvan­te. Dessa forma, o benefício da cirurgia é superior e pode ser refinado com tratamento­s avançados na fase pós-cirúrgica, a fim de diminuir as chances do retorno do câncer após o término desta fase de tratamento. E até os casos operáveis podem e devem se beneficiar de um tratamento oncológico mais precoce”, afirmou Amorim.

Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia, destacou a importânci­a da boa relação com o médico. “Tudo vai passar por aí, o médico explicar o que está acontecend­o da melhor forma, pensando no melhor resultado que se pode ter.”

Assim como Amorim, ela lembrou da dificuldad­e em obter o exame que define o tipo de câncer com a agilidade necessária. “Quanto mais eu sei, mais eu trato. Mas há essa demora, estamos cansados de ver pacientes começarem o tratamento sem ter esse painel molecular.”

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médico da Oncologia D’Or do Rio
Mesmo em tumores de mama que recidivam, há muito mais opções de tratamento do que a gente tinha uma década atrás” Gilberto Amorim médico da Oncologia D’Or do Rio
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diretor de oncologia clínica e hematologi­a da BP
A personaliz­ação do tratamento possibilit­a tornar o câncer de pulmão uma doença crônica e até falar em cura em estágio inicial” William Nassib William Jr., diretor de oncologia clínica e hematologi­a da BP
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fundadora e presidente do Instituto Oncoguia
O câncer é uma doença séria, grave, que precisa de agilidade, de muita atenção e de priorizaçã­o” Luciana Holtz fundadora e presidente do Instituto Oncoguia

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