Folha de S.Paulo

Rodrigo Garcia busca eleitor de Bolsonaro e alfineta Tarcísio

‘Paulista raiz’, governador de SP adota discurso mais duro sobre segurança

- Artur Rodrigues Divulgação Governo do Estado de São Paulo

SÃO PAULO O governador Rodrigo Garcia (PSDB), em pré-campanha à reeleição, tem apostado no discurso linha-dura na segurança pública, com grande apelo ao eleitorado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele ainda tenta se diferencia­r do candidato do presidente em São Paulo, o ex-ministro da Infraestru­tura Tarcísio de Freitas (Republican­os), nascido no Rio de Janeiro, ao reforçar ser um “paulista raiz”.

Nas últimas eleições, João Doria (PSDB) se elegeu colando sua imagem à de Bolsonaro, movimento que ficou conhecido como BolsoDoria.

Embora a campanha de Rodrigo por ora não atrele sua imagem à do presidente e exiba esforços para fugir da polarizaçã­o nacional, seus gestos conversam com esse potencial eleitor Bolsodrigo.

A segurança pública, tema vital no estado em boom de furtos e roubos de celulares, é a principal arena de disputa por votos bolsonaris­tas.

Rodrigo alcançou 6% na pesquisa Datafolha de abril, empatado no limite da margem de erro com Tarcísio, que marcou 10%. A corrida é liderada por Fernando Haddad (PT), com 29%, à frente de Márcio França (PSB), com 20%.

Na campanha do tucano, o discurso é de que questões relativas à segurança são assun

tos de governo e que seus atos a esta altura ainda não miram nenhum candidato específico. No entanto, os gestos soam bastante ensaiados.

Nesta terça (10), o local do evento escolhido foi simbólico —a sede da Rota, tropa de elite da Polícia Militar, em compromiss­o sobre a criação de medalha voltada aos paulistas que atuaram “pela elevação do nome da Polícia Militar”.

Famosa pela letalidade policial, a Rota é evocada de tempos em tempos por políticos tentando seduzir o eleitorado conservado­r do estado. Em 2002, por exemplo, o ex-prefeito

e ex-governador Paulo Maluf prometeu colocar a Rota na rua, mas acabou perdendo a eleição para o então tucano Geraldo Alckmin.

Já João Doria, em 2018, prometeu que a polícia iria atirar para matar e levou a eleição. Às vésperas do pleito deste ano, Rodrigo deu uma declaração neste sentido, embora mais moderada.

“Bandido que levantar arma para a polícia vai levar bala da polícia, porque é isso que a sociedade está esperando, uma polícia ativa, que dentro dos limites da lei vai agir com muito rigor em relação à criminalid­ade”, disse.

A frase dita num evento de governo foi editada e divulgada nas redes sociais de Rodrigo, reforçando que se trata de uma mensagem ensaiada.

Antes disso, o governador já havia dito em entrevista ter dúvidas de um programa do próprio governo, relativo a câmeras corporais em policiais –a medida, apontada como responsáve­l pela redução de mortes em confrontos e também de policiais, havia sido criticada por Tarcísio.

Após a declaração, o governador recuou e voltou a defender a medida.

“[As ações do Rodrigo] têm muito de estratégia eleitoral. O Tarcísio hoje é o principal adversário dele e é quem está corroendo a base de apoio que ele queria”, explica o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV.

Neste sentido, afirma, o discurso de lei e ordem pode funcionar como algo sedutor na disputa deste grupo, fundamenta­l para pavimentar um caminho até o segundo turno.

Além da questão da segurança, a artilharia de Rodrigo mira uma área que é vista até agora como principal ponto fraco de Tarcísio, um suposto oportunism­o eleitoral do ex-ministro nascido no Rio e sem vínculos fortes com São Paulo, estado onde concorrerá.

Nas mídias sociais do governador foi divulgado até um teste em que Rodrigo identifica gírias paulistas e de outros lugares do país. Na brincadeir­a, ele escolhe bolacha em vez de biscoito, balada no lugar de night e breja no lugar de cerva.

O cientista político Bruno Silva, pesquisado­r do Laboratóri­o de Política e Governo da Unesp Araraquara, diz que a menção à raiz paulista é um jeito de explorar uma fragilidad­e de Tarcísio, sem necessaria­mente atacar Bolsonaro.

Em contraposi­ção, pela narrativa criada, Rodrigo seria alguém que conhece os problemas do estado.

“Numa disputa de governo do estado, sempre há esse sentimento de pertencime­nto ao território. [A estratégia é] mostrar justamente que o outro é uma pessoa que não conhece o estado, que está muito desconecta­do dos desafios do estado”, avalia Silva.

Ainda é uma incógnita se Rodrigo conseguirá estancar o avanço de Tarcísio e ganhar espaço entre os eleitores do presidente.

No mundo político, porém, isso já tem acontecido. Na Alesp (Assembleia Legislativ­a de São Paulo) o voto “Bolsodrigo” já é uma realidade. Ao menos seis deputados estaduais do PL, partido do presidente, vão apoiar Bolsonaro e Rodrigo, em vez de Tarcísio.

Entre esses deputados está Alex Madureira, evangélico ligado à Assembleia de Deus, que afirma não haver obstáculos para que o governador cresça entre o eleitorado bolsonaris­ta.

“Ele tem adotado uma postura muito de estado, das coisas do estado e não vejo em nenhum momento o Rodrigo fazer qualquer ataque ao Bolsonaro”, afirma.

Ainda nesta linha, Rodrigo teria boa aceitação entre o eleitorado evangélico, base de Bolsonaro, que assim como ele é católico. “Ele é muito aberto a ouvir a igreja, dar atenção às igrejas evangélica­s, às famílias mais conservado­ras.”

Embora o governador já tenha feito críticas a Bolsonaro, na sabatina organizada pela Folha e pelo UOL, ele se recusou a manifestar preferênci­a entre o atual presidente e o expresiden­te Lula (PT).

A campanha do governador vive em compasso de espera sobre se João Doria, com alta rejeição, conseguirá viabilizar sua campanha à Presidênci­a da República.

Para aliados de Rodrigo, se Doria estiver fora, será mais fácil se desconecta­r da impopulari­dade do antecessor e emplacar o discurso de que não tem padrinhos políticos.

Neste ponto, embora os acenos sejam ao eleitor mais conservado­r, Rodrigo tem tentado minimizar questões ideológica­s e focar questões práticas, o que não deixaria de fora eventuais eleitores à esquerda com perfil mais moderado.

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Rodrigo Garcia participa de solenidade na sede da Rota

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