Folha de S.Paulo

Servidores do BC criticam uso político do Pix por Bolsonaro e aliados

Sindicato defende que ferramenta é política de Estado; PP vem utilizando sistema de pagamentos em suas propaganda­s

- Nathalia Garcia

“O Pix [foi criado e implementa­do pelos analistas e técnicos do Banco Central do Brasil, ou seja, por servidores concursado­s de Estado, não pelo atual governante ou por qualquer outro governo Fábio Faiad presidente do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionári­os do Banco Central)

BRASÍLIA Após o Pix começar a ser usado em campanhas partidária­s às vésperas do calendário eleitoral, os servidores do Banco Central publicaram nesta terça-feira (10) uma nota de repúdio contra o uso político da ferramenta pelo governo ou seus aliados dizendo que o mecanismo é resultado do trabalho de funcionári­os públicos do Estado.

“Tal sistema de pagamento instantâne­o foi criado e implementa­do pelos analistas e técnicos do Banco Central do Brasil, ou seja, por servidores concursado­s de Estado, não pelo atual governante ou por qualquer outro governo”, afirmou Fábio Faiad, presidente do Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionári­os do Banco Central), em nota.

Além de o presidente Jair Bolsonaro (PL) já ter declarado que o Pix é uma ação do seu governo, o ministro das Comunicaçõ­es, Fábio Faria (PP-RN), usou a ferramenta como tema de uma propaganda partidária no ar desde o mês passado.

“O Progressis­tas apoiou o presidente Bolsonaro na criação do Pix”, disse Faria em vídeo, acrescenta­ndo que o partido “tem orgulho dessa conquista”.

A entidade que representa os servidores do BC reagiu dizendo que “o início do projeto do Pix é bem anterior ao mandato do atual presidente da República” e que é necessário “destacar a diferença entre políticas de Estado e medidas pontuais de governos”.

A portaria do BC que instituiu o grupo de trabalho para desenvolve­r o Pix foi publicada em 3 de maio de 2018, quando a autoridade monetária era comandada por Ilan Goldfajn, durante o governo de Michel Temer (MDB).

O lançamento do Pix ocorreu em novembro de 2020, sob o governo Bolsonaro. Na época, o presidente deu uma declaração pública confundind­o o sistema de pagamentos com um tema relacionad­o à aviação civil.

Os servidores do BC estão em greve e aprovaram nesta terça a continuida­de do movimento por tempo indetermin­ado. A decisão contou com o apoio de “ampla maioria” dos funcionári­os que participar­am da assembleia deliberati­va, segundo o Sinal.

“As razões para tal decisão foram a não abertura de mesa de negociação e a não apresentaç­ão de proposta oficial por parte do governo”, afirmou a entidade.

Por reajuste salarial e reestrutur­ação de carreira, os servidores do BC voltaram a cruzar os braços no dia 3 de maio após duas semanas de trégua. O atual movimento grevista segue as mesmas caracterís­ticas da paralisaçã­o que durou de 1º a 19 de abril, com interrupçã­o na divulgação de relatórios e indicadore­s. Na segunda-feira (9), o boletim Focus não foi publicado.

O sindicato reforçou, contudo, que o Pix não será interrompi­do em razão da mobilizaçã­o. “A greve tem adesão majoritári­a e vai continuar a afetar o boletim Focus, a divulgação da Ptax [taxa de câmbio], a assinatura de processos de autorizaçã­o no sistema financeiro, a realização de eventos e reuniões com o sistema financeiro e outras atividades”, informou em nota.

Faiad afirmou que o sindicato não considera o Comef (Comitê de Estabilida­de Financeira) como atividade essencial. “Vamos batalhar para que não haja a realização do Comef (ou, se houver, que seja adiado e com escopo bastante reduzido)”, disse.

O encontro está agendado para o dia 26 de maio. Procurado, o BC disse que “a reunião do Comef será realizada na data programada.”

De acordo com Faiad, até o momento, não há nenhuma reunião agendada com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ou com algum representa­nte do governo.

Descontent­es com a proposta do governo de reajuste linear de 5% para todo o funcionali­smo público, os servidores do BC apresentar­am uma contraprop­osta com pedido de recomposiç­ão salarial de 27% a partir de 1º de julho, não mais do primeiro semestre.

Como antecipou a Folha em 13 de abril, Bolsonaro decidiu conceder reajuste de 5% para todas as carreiras —inclusive militares das Forças Armadas, além de integrante­s do Judiciário e do Legislativ­o— a partir de 1º de julho. A medida ainda não foi oficializa­da.

Entre as demandas de reestrutur­ação de carreira, a categoria pede a definição, em lei, dos três cargos da autarquia (analista, técnico e procurador) como exclusivos de Estado e a exigência de nível superior para os técnicos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil