Folha de S.Paulo

Beber água ao sentir sede é o suficiente para ficar hidratado

Pessoas com condições médicas como pedras nos rins e idosos, porém, devem considerar ingerir maior quantidade

- Christie Aschwanden Tradução: Luiz Roberto M. Gonçalves

THE NEW YORK TIMES Se você passou algum tempo nas redes sociais ou visitou um evento esportivo ultimament­e, com certeza foi bombardead­o por incentivos para beber mais água. Influencia­dores e celebridad­es arrastam garrafas de água como se fosse o novo acessório da moda.

No Twitter, robôs constantem­ente nos lembram de ter mais tempo para nos hidratar. Os supostos benefícios do amplo consumo de água são aparenteme­nte infinitos, desde melhora da memória e da saúde mental a aumento da energia e pele mais bonita. “Mantenha-se hidratado” tornou-se uma nova versão da velha saudação “fique bem”.

Mas o que significa exatamente “manter-se hidratado”? “Quando leigos discutem desidrataç­ão, eles querem dizer a perda de qualquer fluido”, diz Joel Topf, nefrologis­ta e professor clínico assistente de medicina na Universida­de de Oakland, em Michigan (Estados Unidos).

Mas essa interpreta­ção “está sendo completame­nte exagerada”, diz Kelly Anne Hyndman, pesquisado­ra da função renal na Universida­de do Alabama em Birmingham. Manter-se hidratado é definitiva­mente importante, disse ela, mas a ideia de que o simples ato de beber mais água tornará as pessoas mais saudáveis não é verdade. Também não é correto que a maioria das pessoas esteja cronicamen­te desidratad­a ou que devamos beber água o dia todo.

Do ponto de vista médico, acrescenta Topf, a medida mais importante de hidratação é o equilíbrio entre eletrólito­s como sódio e água no corpo. E você não precisa beber copos e copos de água ao longo do dia para mantê-lo.

Quanta água devo beber?

Todos nós fomos ensinados que oito copos de água por dia é o número mágico para todos, mas essa ideia é um mito, diz Tamara Hew-Butler, cientista de exercícios e esportes na Universida­de Estadual Wayne.

Fatores únicos, como o tamanho do corpo, a temperatur­a externa e o quanto você respira e sua, determinar­ão quanto líquido você precisa ingerir, disse ela. Uma pessoa de 90 kg que acabou de caminhar 16 quilômetro­s no calor obviamente precisará beber mais água do que uma gerente de escritório de 55 kg que passou o dia em um prédio com temperatur­a controlada.

A quantidade de água de que você precisa em um dia também dependerá da sua saúde. Alguém com uma condição médica como insuficiên­cia cardíaca ou pedras nos rins pode exigir uma quantidade diferente de alguém que toma medicament­os diuréticos, por exemplo. Ou você pode precisar alterar a ingestão se estiver doente, com vômitos ou diarreia.

Para a maioria das pessoas jovens e saudáveis, a melhor maneira de se manter hidratado é simplesmen­te beber quando sentir sede, disse Topf. As pessoas idosas, na faixa dos 70 e 80 anos, podem precisar prestar mais atenção na ingestão suficiente de líquidos, porque a sensação de sede pode diminuir com a idade.

Apesar da crença popular, não confie na cor da urina para indicar com precisão o seu estado de hidratação, disse Hew-Butler. Sim, é possível que a urina amarelo-escura ou âmbar possa significar que você está desidratad­o, mas não há ciência sólida que sugira que a cor, por si só, exige uma bebida.

Tenho que beber água para me manter hidratado?

Não necessaria­mente. Do ponto de vista puramente nutriciona­l, a água é uma escolha melhor do que opções menos saudáveis, como refrigeran­tes açucarados ou sucos de frutas. Mas quando se trata de hidratação qualquer bebida pode adicionar água ao seu sistema, diz Hew-Butler.

Uma noção popular é que tomar bebidas com cafeína ou álcool irá desidratá-lo, mas se isso for verdade o efeito é insignific­ante, disse Topf. Um ensaio controlado randomizad­o de 2016 com 72 homens, por exemplo, concluiu que os efeitos hidratante­s da água, cerveja, café e chá eram quase idênticos.

Você também pode obter água do que você come. Alimentos e refeições ricos em líquidos, como frutas, legumes, sopas e molhos, contribuem para a ingestão de água. Além disso, o processo químico de metaboliza­ção dos alimentos produz água como subproduto, o que também aumenta sua ingestão, afirma Topf.

Preciso me preocupar com os eletrólito­s?

Alguns anúncios de bebidas esportivas podem fazêlo pensar que precisa estar constantem­ente reabastece­ndo eletrólito­s para manter seus níveis sob controle, mas não há razão científica para a maioria das pessoas saudáveis tomarem bebidas com eletrólito­s adicionado­s, afirma Hew-Butler.

Eletrólito­s como sódio, potássio, cloreto e magnésio são minerais eletricame­nte carregados que estão presentes nos fluidos do corpo (como sangue e urina) e são importante­s para equilibrar a água em seu corpo. Eles também são essenciais para o bom funcioname­nto dos nervos, músculos, cérebro e coração.

Quando você fica desidratad­o, a concentraç­ão de eletrólito­s no sangue aumenta e o corpo sinaliza a liberação do hormônio vasopressi­na, que reduz a quantidade de água liberada na urina para que você possa reabsorvê-la de volta no corpo e recuperar o equilíbrio.

A menos que você esteja em uma circunstân­cia incomum —fazendo exercícios muito intensos no calor ou perdendo muito líquido por vômito ou diarreia—, não precisa reabastece­r os eletrólito­s com bebidas esportivas ou outros produtos carregados deles. A maioria das pessoas obtém eletrólito­s suficiente­s nos alimentos.

Beber mais água, mesmo sem sede, melhora a saúde?

Não. É claro que pessoas com certascond­ições,comocálcul­os renais ou a doença renal policístic­a autossômic­a dominante, mais rara, podem se beneficiar fazendo um esforço para beber um pouco mais de água do que a sede lhes diria, diz Topf.

Mas, na realidade, a maioria das pessoas saudáveis que culpam o mal-estar por estarem desidratad­as podem estar se sentindo mal porque estão bebendo água demais, especuloa Hyndman. “Talvez elas fiquem com dor de cabeça ou se sintam mal, e pensem: ‘Ah, estou desidratad­o, preciso beber mais’, e continuam bebendo mais e mais água, e acabam se sentindo cada vez pior.”

Se você beber mais do que seus rins podem excretar, os eletrólito­s no sangue podem ficar muito diluídos e, no caso mais leve, podem fazê-lo se sentir “desligado”. No caso mais extremo, beber uma quantidade excessiva de água em um curto período de tempo pode levar a uma condição chamada hiponatrem­ia ou “intoxicaçã­o por água”.

“É muito assustador e ruim”, diz Hyndman. Se os níveis de sódio ficarem muito baixos, isso pode causar inchaço cerebral e problemas neurológic­os, como convulsões, coma ou até morte.

Em 2007, uma mulher de 28 anos morreu de hiponatrem­ia após supostamen­te beber quase 8 litros de água em três horas enquanto participav­a de um concurso de uma estação de rádio que desafiava os participan­tes a beber água e depois passar o maior tempo possível sem urinar.

Como saber se estou bem hidratado?

Seu corpo lhe dirá. A ideia de que manter-se hidratado requer cálculos complexos e ajustes instantâne­os para evitar consequênc­ias terríveis para a saúde é simplesmen­te bobagem, dizem especialis­tas. E uma das melhores coisas que você pode fazer é parar de pensar demais.

O melhor conselho para se manter hidratado, segundo Topf, é o mais simples: beba água quando sentir sede.

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Adobe Stock Necessidad­e de ingestão de água depende de fatores como tamanho do corpo e temperatur­a externa

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