Folha de S.Paulo

Exército sob Bolsonaro

- Ruy Castro

Jair Bolsonaro lembra aqueles meninos covardes que chamam alguém para a briga e, quando o outro topa, fogem correndo para o irmão mais velho, chorando e pedindo que ele brigue em seu lugar. É o que vem fazendo desde o dia em que tomou posse —chamando as instituiçõ­es para brigar e, quando estas se cansam de ser provocadas e reagem, ele induz as Forças Armadas a promover desfile de canhão, sobrevoo da capital e bravatas de oficiais sem compostura. Entre uma e outra ameaça, cavalga motociclet­as, jet skis e cavalos propriamen­te ditos, sempre em turma e contando com o apoio armado.

O Exército Nacional já foi mais exigente. Os generais do regime militar, com tudo o que nos custaram, eram pelo menos ciosos de três coisas: o cresciment­o econômico, a Petrobras e a Amazônia. Exatamente o que Bolsonaro detesta. Certa ou errada, eles tinham uma ideia de desenvolvi­mento e de modernizaç­ão do Brasil. Sob Bolsonaro, ao contrário, já estamos perto do cresciment­o zero, da desmoraliz­ação da estatal e da destruição da floresta —programas que, com um segundo mandato, ele completará. Falta-me cultura política para entender o que o país ganha com isso e por que o pessoal fardado o aprova.

Imagino o que Castello Branco, Costa e Silva, Médici e Figueiredo diriam de Bolsonaro. De Geisel não precisamos imaginar. Em seu longo depoimento a Maria Celina d’Araujo e Celso Castro, que resultou no livro “Ernesto Geisel” (Editora FGV, 1997), lê-se às páginas 112-113:

“Neste momento, há muitos dizendo: ‘Temos que dar um golpe! Temos que voltar à ditadura militar!’. E não é só o Bolsonaro, não. [...] [Mas] Não contemos o Bolsonaro, porque o Bolsonaro é um caso completame­nte fora do normal, inclusive um mau militar.”

Geisel declarou isso em 1993. Bolsonaro era só um deputado marca barbante. Sorte do general, que não viveu para ver a quem as Forças Armadas têm hoje de obedecer.

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