Hong Kong detém cardeal da Igreja Católica crítico do regime chinês acusado de conluio
Hong Kong | reuters Um dos clérigos católicos de posição mais elevada na Ásia, o cardeal Joseph Zen foi preso na quarta (11), junto a outras três pessoas, e solto após pagamento de fiança. Acusados de conluio com forças estrangeiras, eles organizaram uma campanha de arrecadação para manifestantes detidos de Hong Kong.
Zen, 90, ex-bispo do território, foi interrogado durante horas na delegacia do distrito de Chai Wan, próximo à igreja onde mora. Vestindo um colarinho clerical, deixou o local sem falar com a imprensa. Em um comunicado, a polícia confirmou que o departamento de segurança nacional havia detido dois homens e duas mulheres, com idades entre 45 e 90 anos, na terça e nesta quarta.
Ainda segundo as forças de segurança, eles são suspeitos de terem pedido a aplicação de sanções estrangeiras. Todos foram soltos mediante o pagamento de fiança, mas seus passaportes foram retidos sob a lei de Segurança Nacional.
Uma fonte próxima ao tema havia afirmado à agência de notícias Reuters que cinco pessoas, não quatro, tinham sido presas em conexão com o caso: Zen, a advogada Margaret Ng, 74, a ativista e cantora pop Denise Ho, a ex-parlamentar Cyd Ho e o ex-acadêmico Hui Po-keung.
Zen, um defensor de causas democráticas em Hong Kong, posiciona-se contra o crescente autoritarismo do regime sob a liderança de Xi Jinping, incluindo casos de perseguição a católicos e a lei de Segurança Nacional. Em 2020, Pequim impôs uma legislação dura que pune o que o governo considerar terrorismo, conluio com forças estrangeiras e secessão com penas que podem chegar a prisão perpétua.
Hui, professor associado de estudos culturais da Universidade de Lingnan, foi detido no aeroporto na noite de terça, segundo relatos da mídia local, enquanto Cyd Ho já estava presa devido a um outro caso.
Os envolvidos nas detenções desta quarta eram organizadores do Fundo de Auxílio Humanitário 612, que ajudou presos nos atos pródemocracia de 2019 a pagar multas e despesas médicas. A iniciativa acabou em 2021 após a dissolução da empresa que recebia doações por meio de uma conta bancária.
Segundo a polícia, as prisões ocorrem depois do início de uma investigação, em setembro do ano passado, para apurar se o fundo violava as regras da lei de Segurança Nacional.
Hong Kong é um dos locais mais importantes para os católicos na Ásia por abrigar uma ampla rede de agências de ajuda, acadêmicos e missões que auxiliam membros da igreja na China continental e em outros lugares. O Vaticano disse nesta quarta ter recebido a notícia da prisão de Zen com “grande preocupação” e que estava acompanhando os desdobramentos do caso com “extrema atenção”.
A Reuters não conseguiu contatar outros representantes da igreja —a diocese de Hong Kong não fez comentários. Já o coordenador dos Estados Unidos para o IndoPacífico, Kurt Campbell, disse que Washington está preocupada com a repressão em Hong Kong, inclusive em círculos religiosos e acadêmicos.
“Estamos cada vez mais preocupados com as medidas para pressionar e eliminar a sociedade civil”, disse Campbell durante evento online na capital americana quando questionado sobre as prisões.
Críticos afirmam que a lei de Segurança Nacional erode as liberdades prometidas por Pequim no arranjo “um país, dois sistemas” acertado com o Reino Unido no momento em que Hong Kong foi devolvida aos chineses, em 1997.
As autoridades do território, no entanto, dizem que a legislação traz estabilidade após as manifestações em massa por democracia. No último domingo (8), John Lee, o responsável por implementar a dura repressão aos manifestantes foi nomeado novo líder de Hong Kong, em um processo controlado por Pequim.