Folha de S.Paulo

Quarta força

Corinthian­s é líder após cinco rodadas, e Brasileiro não será triangular

- Paulo Vinicius Coelho Jornalista, autor de “Escola Brasileira de Futebol”, cobriu seis Copas e oito finais de Champions

O empate com o Bragantino levou o Atlético-mg a 9 pontos perdidos, dos 18 que disputou no Brasileiro. O Palmeiras já desperdiço­u o mesmo número e o Flamengo já deixou 10 pontos pelo caminho, de 15 disputados.

Nos 16 Brasileiro­s por pontos corridos com 20 clubes, só o Flamengo (2020) foi campeão perdendo dez pontos nos cinco primeiros jogos, e o São Paulo (2008), depois de desperdiça­r 9 dos primeiros 15.

O campeão ainda pode ser um dos três gigantes, mas o início do Brasileiro deixa mais uma vez a certeza de que ainda existe um grande patrimônio neste campeonato: a imprevisib­ilidade.

Não vai ser um triangular. Pelo menos, não parece neste momento.

O Corinthian­s é o líder depois de cinco rodadas. Verdade que, nestes campeonato­s de 38 rodadas, apenas um campeão estava em primeiro lugar em seu quinto jogo. Justamente o Corinthian­s, em 2017, aquele apontado como quarta força do Paulista no início do ano.

Aproveitou a instabilid­ade dos que pareciam mais fortes. Quando tentaram a recuperaçã­o, o Corinthian­s já tinha disparado com o melhor primeiro turno da história, 47 pontos conquistad­os.

Se o Brasileiro deste ano parecia um triangular, este Corinthian­s é a quarta força? Neste momento, é a primeira.

Vítor Pereira foi tratado por Jorge Jesus como o melhor treinador português entre os que estão no Brasil, em sua cínica conversa na sala de estar de Kleber Leite. Abel Ferreira realiza o melhor trabalho, por ora. Vítor Pereira roda o elenco e os sistemas táticos.

Contra o Fortaleza, iniciou com três atacantes e linha defensiva de quatro homens. Mudou para três zagueiros, com a sanfona que Antonio Conte usava no Chelsea, campeão inglês de 2017. Quando tinha a bola, construía o jogo num 3-4-2-1. Sem ela, recuava num 5-4-1.

O segredo desse sistema é a rapidez nas transições. Se não é muito ágil para subir ao ataque, o time fica preso na defesa, apenas atraindo o adversário. Foi o risco que correu contra o Bragantino. Ficou muito defensivo.

Contra a Portuguesa-rj, começou o jogo assim. Fábio Santos como terceiro zagueiro, Mosquito e Piton como alas, Adson, Giuliano e Júnior Moraes no ataque. Deu certo.

Não dá para saber se o Corinthian­s se juntará a Palmeiras, Flamengo e Atlético como candidato ao título. Também é precoce dizer que só um desses quatro brigará pelo troféu. O Brasileiro provoca surpresas, e essa é sua maior riqueza. Mesmo causada pela coleção de pegadinhas a cada temporada.

Obstáculos como as convocaçõe­s que tirarão Danilo e Weverton do Palmeiras e Arana do Atlético-mg, o acúmulo de jogos que fará os gigantes do Brasil entrarem em campo até 82 vezes, enquanto o Liverpool, recordista da Europa, completará 62 partidas na final da Champions League.

Vinte jogos se jogam em três meses, na Europa. Ou seja, é como se o calendário brasileiro tivesse 15 meses de futebol.

Em parte, é por essa razão a instabilid­ade dos mais fortes e mais ricos.

O maior inimigo do Palmeiras é a maratona. Abel Ferreira diz que vai testar seus jogadores até o limite.

Um dos grandes rivais do Atlético são as viagens.

O maior adversário do Flamengo é o próprio Flamengo. Basta lembrar que Jorge Jesus se tornou o Judas de Paulo Sousa dentro da casa de um ex-presidente rubro-negro.

Na Inglaterra, o campeão será o Liverpool ou o Manchester City. Na Espanha, o Real Madrid. Na Itália, Milan ou Inter.

No Brasil, o campeonato é uma corrida com obstáculos. O campeão será o mais resistente, não necessaria­mente o melhor time.

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