Folha de S.Paulo

Mulher: filie-se. Mas não governe

- Juliana Coissi

“Representa­r as mulheres, trabalhar por nossas causas: é assim que fazemos política.” O partido “não quer ter apenas mulheres candidatas; quer que sejamos protagonis­tas”.

“Somos mães, filhas, donas de casa e profission­ais; somos múltiplas e somos milhares.” “Filie-se.”

Quem ligou a TV aberta nas últimas semanas e se deparou com a propaganda partidária ficou com a impressão de que a mulher é o centro da eleição de 2022 no Brasil.

Filiar-se, sim, mas governar nem tanto. Mulheres são apenas 1 em cada 7 pré-candidatos a governos estaduais. No ano em que a conquista do voto feminino no Brasil completa 90 anos, o percentual é menor do que o registrado nas eleições de 2018.

Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, que tenta a reeleição, foi a única eleita para um governo estadual no último pleito.

No Planalto, a lacuna se repete. O ano de 2022 se encerra com o governo mais masculino de Jair Bolsonaro. Restou apenas uma mulher, substituta de Damares Alves, entre os 23 ministros, na troca de cadeiras para a disputa em outubro.

Na falta de mais mulheres, coube a Cristiane Rodrigues Britto fazer par com Michelle Bolsonaro para dar o tom feminino da atual gestão em controvers­a aparição na TV da primeira-dama no Dia das Mães.

Mulheres governam a maioria dos lares brasileiro­s mais vulnerávei­s. Ocupam a maioria das cadeiras escolares e, ao lecionar, são as que mais formam futuros profission­ais. Mas elas ainda estão distantes dos principais postos de chefia nas empresas privadas. O que se reflete também na estrutura de comando da política.

Um bom governo, obviamente, não é garantido pelo gênero da pessoa escolhida, tampouco pela etnia e pela orientação sexual. Mas, na formação das chapas eleitorais, partidos deveriam refletir com mais nitidez o atual rosto da população brasileira e mostrar sintonia com as principais demandas do eleitorado. Falta, enfim, o protagonis­mo delas prometido na TV.

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