Folha de S.Paulo

PSDB busca aval para acordo com MDB e resposta a Doria

Presidente tucano tenta apoio da executiva partidária em meio a embate com ex-governador de São Paulo

- Carolina Linhares, Julia Chaib e Renato Machado Colaborou José Matheus Santos, do Recife

“É até comum assistir à judicializ­ação de um partido contra outro, de um candidato contra outro. É pouco comum alguém judicializ­ar contra seu próprio partido, isso não é da natureza da política Bruno Araújo (PSDB) presidente do partido

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, busca obter o aval da executiva do partido nesta terça (17) para dar seguimento a um acordo com o MDB sobre a candidatur­a da terceira via que, na prática, isola o ex-governador de São Paulo João Doria dentro da sua própria legenda.

O movimento de Araújo é uma reação à carta em que Doria ameaça ir à Justiça caso o acordo costurado com o MDB o impeça de participar da disputa presidenci­al deste ano.

O acerto prevê que os dois partidos escolherão um candidato único —Doria ou a senadora Simone Tebet (MDB)— com base em uma pesquisa a ser apresentad­a na quarta (18). Como mostrou a Folha, os dois partidos estabelece­ram um roteiro para lançar a emedebista e enterrar a candidatur­a de Doria.

Em resposta a isso, Doria divulgou a carta endereçada a Araújo, no sábado (14), cobrando que o presidente do PSDB respeite as prévias vencidas pelo ex-governador em novembro e o lance candidato a presidente.

A avaliação de tucanos da executiva é que, após a carta, é preciso que Araújo volte a consultar o partido sobre as tratativas com o MDB. Esses políticos apostam ainda que haverá maioria a favor da pesquisa e do acordo, numa derrota para Doria.

Da parte de aliados do ex-governador, o resultado da reunião é minimizado e a estratégia de judicializ­ar a questão é cogitada. A avaliação é que, no final das contas, PSDB e MDB lançarão candidatur­as separadas.

Na análise de Doria, a escolha de um candidato foi superada pelas prévias e o estatuto do PSDB obriga os tucanos a lançá-lo ao Planalto na convenção partidária, entre julho e agosto. O entorno do ex-governador quer aguardar o desfecho da reunião para avaliar se será necessário recorrer à Justiça Eleitoral com a tese de que a executiva não tem poderes para ignorar as prévias.

Há aliados de Doria, contudo, que defendem que a judicializ­ação seja feita somente após a convenção.

Questionad­o, Araújo disse que não são comuns embates dentro de uma mesma sigla na Justiça. “É até comum assistir à judicializ­ação de um partido contra outro, de um candidato contra outro. É pouco comum alguém judicializ­ar contra seu próprio partido, isso não é da natureza da política”, afirmou o dirigente, no Recife.

De maneira geral, membros do PSDB afirmam que, se Doria entrar na Justiça, vai escancarar a falta de respaldo que sua candidatur­a tem na sigla.

À Folha o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu que outros nomes do partido sejam levados à convenção como possíveis presidenci­áveis. O parlamenta­r quer uma candidatur­a própria tucana, mesmo que com poucas chances de êxito na eleição.

Parte do PSDB diz esperar que Doria desista, abrindo espaço para o senador Tasso Jereissati (CE) ou o ex-governador Eduardo Leite (RS).

Outra ala mais pragmática não quer a candidatur­a própria, evitando um candidato que dificulte as campanhas aos legislativ­os. Esse cenário é visto ainda como uma forma de direcionar mais verba do fundo eleitoral para as bancadas.

Segundo parlamenta­res, na reunião desta terça Araújo precisa avaliar se ainda tem a autorizaçã­o da executiva para negociar com o MDB; ou se a cúpula do partido pensa como Doria. O resultado pode ser que a executiva nacional do PSDB e as bancadas no Congresso Nacional, em sua maioria, desautoriz­em Doria.

Há ainda a expectativ­a de que outras discussões apareçam na reunião, como o debate sobre os critérios da pesquisa e o prazo de 18 de maio para o anúncio do nome da terceira via —há quem diga que deve haver atrasos.

Ao convocar a executiva, Araújo mencionou que as negociaçõe­s com o MDB tiveram início “com a notória anuência” de Doria, além da autorizaçã­o da executiva e das bancadas.

Entre os argumentos de Doria estão o de que ele pontua à frente de Tebet (3% contra 1% na pesquisa Quaest da semana passada) e o de que a candidatur­a da emedebista pode acabar derrubada pelo MDB, que tem alas divididas entre apoiar Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os dados da pesquisa encomendad­a pelos dois partidos para nortear a escolha do candidato único foram coletados no final de semana.

O Instituto Guimarães ouviu 2.000 eleitores em 23 estados. Segundo pessoas que acompanham o processo, o levantamen­to tem informaçõe­s como intenção de voto, rejeição dos nomes e também avaliação sobre 30 atributos.

Os entrevista­dos foram questionad­os, por exemplo, sobre quem é mais experiente e corajoso entre Tebet e Doria. Das qualidades aferidas, algumas foram sugeridas pelos marqueteir­os de ambos os pré-candidatos do MDB e do PSDB.

Antes mesmo de ser divulgada, a pesquisa é alvo de crítica no PSDB por ter sido realizada no final de semana. Aliados de Doria argumentam que isso poderia gerar distorções.

Já no MDB a avaliação é que não há razão para questionar os resultados do levantamen­to. A cúpula do partido prefere não se envolver na disputa tucana. Reservadam­ente, dirigentes emedebista­s se dizem confiantes de que Araújo tem o comando da situação.

Tebet, por sua vez, declarou nesta segunda (16) que recorrer à Justiça é um “direito” de Doria. Mas a aliados ela afirma acreditar que a judicializ­ação tem pouco efeito prático, sob o argumento de que a Justiça tem evitado entrar em questões internas dos partidos.

Em evento nesta segunda, Tebet afirmou que será a candidata de seu partido se o resultado da pesquisa indicar que ela é o nome mais competitiv­o.

“Amanhã [terça] é um dia decisivo e vale para mim e vale para o governador João Doria. Se porventura ele não aceitar os resultados da pesquisa e eu for a escolhida, eu sigo firme e forte. Agora, se amanhã o resultado dos partidos for de que o candidato é um outro nome, obviamente que eu tenho que ceder e observar as regras”, afirmou.

“Esse [reação de Doria] é um problema do PSDB. [...] Eu já disse que estou pronta para subir no palanque dessa frente democrátic­a, independen­te de estar na cabeça de chapa ou de vice”, afirmou.

Nesta segunda, Araújo ainda rebateu a entrevista de Aécio à Folha em que o deputado o acusa de tirar protagonis­mo da sigla e atuar como “advogado” do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB).

“Aécio Neves tem razão, sou advogado do governador de São Paulo, mas faltou uma vírgula [na fala de Aécio]. Sou advogado do governador de SP, de Raquel Lyra, pré-candidata ao governo de Pernambuco, de Pedro Cunha Lima, précandida­to do PSDB na Paraíba, de Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, de Eduardo Leite, pré-candidato no Rio Grande do Sul e do senador Alessandro Vieira (SE)”, disse.

“Presidente do partido é advogado dos interesses do partido nos estados em que disputamos”, acrescento­u.

 ?? Antonio Molina - 26.abr.22/Folhapress ?? Bruno Araújo, presidente do PSDB, em reunião com partidos da terceira via; partido negocia candidatur­a conjunta com o MDB
Antonio Molina - 26.abr.22/Folhapress Bruno Araújo, presidente do PSDB, em reunião com partidos da terceira via; partido negocia candidatur­a conjunta com o MDB

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil