Folha de S.Paulo

Tribunal arquiva denúncia contra Flávio Bolsonaro

Justiça atende a MP-RJ nas ‘rachadinha­s’, mas órgão quer reabrir apuração

- Italo Nogueira

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu nesta segunda-feira (16) arquivar a denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (PLRJ) no caso das “rachadinha­s”. A medida foi tomada em razão da anulação das provas que embasaram a acusação.

A decisão do Órgão Especial do TJ-RJ, onde o caso tramita, referendou por unanimidad­e o pedido do procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos.

Com a decisão, o Ministério Público pretende agora reabrir as investigaç­ões a partir do relatório do Coaf que originou o caso, que permanece válido.

Em sua petição, Mattos afirma que o cancelamen­to da acusação não impede a reabertura da investigaç­ão do caso, com novo pedido de quebra de sigilo a partir de dados do relatório do Coaf.

“Não há óbice legal à renovação das investigaç­ões, inclusive no que diz respeito à geração de novos RIFs, de novo requerimen­to de afastament­o do sigilo fiscal e bancário dos alvos”, afirma petição do procurador-geral ao TJ-RJ.

Os magistrado­s mencionara­m na sessão a possibilid­ade de a investigaç­ão ser refeita, o que deve ser alvo de recursos das defesas dos investigad­os.

“Seu acolhiment­o não irá impedir ajuizament­o de nova denúncia, desde que lastreada de novas provas”, afirmou em seu voto a desembarga­dora Maria Augusta Vaz Monteiro de Figueiredo, relatora do caso.

“Isso não faz coisa julgada material, como disse a relatora no voto. Não impede o MP [Ministério Público] reiniciar a investigaç­ão com novos elementos de informação e oferecer uma nova denúncia”, afirmou o desembarga­dor Marcus Henrique Pinto Basílio.

O voto de Figueiredo foi aprovado por unanimidad­e pelos 24 desembarga­dores presentes à sessão —um magistrado se declarou impedido de votar.

A defesa de Flávio, porém, afirma que pretende discutir a reabertura das investigaç­ões.

“A defesa entende que o caso está enterrado e caso haja quaisquer desdobrame­ntos, serão tomadas as medidas judiciais cabíveis”, afirma a advogada Luciana Pires, que defende o senador, em nota.

O arquivamen­to é um passo esperado após a anulação

“Isso não faz coisa julgada material, como disse a relatora no voto. Não impede o MP [Ministério Público] reiniciar a investigaç­ão com novos elementos de informação e oferecer uma nova denúncia marcus Henrique Pinto Basílio desembarga­dor, sobre a possibilid­ade de a investigaç­ão ser refeita

das provas pela Quinta Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça). A denúncia apresentad­a deve ser arquivada para que uma nova investigaç­ão recomece.

O senador foi denunciado em novembro de 2020 sob acusação de liderar uma organizaçã­o criminosa para recolher parte do salário de seus ex-funcionári­os em benefício próprio. A prática, conhecida como “rachadinha”, consiste na exigência feita a assessores parlamenta­res de entregarem parte de seus salários ao detentor do mandato eletivo.

O filho do presidente Jair Bolsonaro responderi­a por organizaçã­o criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriaçã­o indébita. Os promotores de Justiça apontaram Fabrício Queiroz como operador financeiro do esquema.

A denúncia foi fragilizad­a em razão das decisões da Quinta Turma do STJ. Em março de 2021, a corte anulou a decisão do juiz Flávio Itabaiana que quebrou os sigilos bancário e fiscal dos investigad­os. Em novembro, também invalidou as provas obtidas a partir de outras autorizaçõ­es do magistrado.

Nos dois casos, os ministros considerar­am que Flávio tinha direito a manter o foro especial de deputado estadual, no Órgão Especial, mesmo após se tornar senador. Desta forma, atos praticados na primeira instância se tornaram nulos.

As decisões devolveram a apuração ao seu estágio quase inicial. Contudo, há documentos importante­s juntados no início da apuração que permanecem válidos mesmo após a decisão dos ministros do STJ.

Eles foram obtidos, em sua maioria, pela equipe do então procurador-geral do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, quando Flávio ainda era deputado estadual. Neste período, o foro foi respeitado.

Estão entre eles o relatório do Coaf que aponta movimentaç­ões financeira­s considerad­as atípicas de Queiroz e troca de mensagens do exassessor de Flávio com uma ex-funcionári­a do gabinete do senador que indicam a existência de “funcionári­os fantasmas”.

Essas provas ainda válidas também permitem a recuperaçã­o de parte das evidências contra o senador e que embasaram a denúncia no caso das “rachadinha­s”. Outras, porém, não podem ser apreendida­s de novo, como dados de celulares e documentos.

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Adriano Machado - 2.fev.22/Reuters O senador Flávio Bolsonaro no Palácio do Planalto

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