Folha de S.Paulo

Hizbullah perde espaço em pleito no Líbano

Apuração parcial indica derrota do grupo; se confirmada, será também um revés do Irã e pode frear sua influência no país

- Diogo Bercito

Os resultados preliminar­es das eleições legislativ­as libanesas indicam uma mudança significat­iva no país. A facção radical Hizbullah e seus aliados, apoiados pelo Irã, perderam a maioria dos assentos no Parlamento, dando lugar a grupos de oposição e a novas lideranças.

Ao que tudo sugere, a diáspora —incluindo a radicada no Brasil— teve algum peso no pleito de domingo (15). Os números finais ainda não foram divulgados, mas analistas dão como impossível que o Hizbullah e seus parceiros conquistem mais de 64 dos 128 assentos. Em 2018, eles abocanhara­m 71 cadeiras.

Uma das derrotas mais significat­ivas foi a de Talal Arslan, um aliado da facção e figura tradiciona­l na política libanesa. Ele perdeu para o novato Mark Daou no distrito em que concorreu, no Monte Líbano. Houve outros casos de políticos consolidad­os sendo derrotados por novas faces ao redor do país.

Uma outra importante derrota foi a do Movimento

Patriótico Livre, aliado do Hizbullah que deve perder diversos assentos. Assim, as Forças Libanesas devem se tornar a principal força cristã no Parlamento.

A derrota do Hizbullah e de seus aliados, se confirmada, será uma derrota também do Irã e pode frear a sua crescente influência no país. Em seu lugar, quem pode se beneficiar é a sua inimiga Arábia Saudita.

O quanto o Líbano vai mudar, porém, depende das negociaçõe­s que começam agora, nas sombras. O país tem um sistema eleitoral sectário, em que cadeiras são distribuíd­as de acordo com a fé —metade para cristãos e metade para muçulmanos. Como nenhum grupo deve ter a maioria dos assentos no Parlamento, as discussões entre os diversos partidos podem se alongar, adiando as reformas políticas e econômicas necessária­s para salvar o país de uma das piores crises de sua história recente.

As eleições de domingo foram as primeiras desde o colapso da economia libanesa, em que a moeda local perdeu mais de 90% de seu valor.

Três quartos da população vivem hoje em situação de pobreza. Esse foi o primeiro pleito desde a explosão que, em 2020, devastou a região portuária de Beirute e deixou ao menos 218 mortos, além de bilhões de dólares de prejuízo.

Foi, ainda, a primeira votação desde os grandes protestos populares dosúl ti mosanos. Havia, dess amaneira, um agrande expectativ­a quanto ao comparecim­ento dos eleitores às urnas. De certa maneira, os resultados decepciona­ram. Mesmo depois de uma intensa campanha, a participaç­ão foi mais baixa do que no pleito anterior. O comparecim­ento foi de 41%, contra os 47% de 2018, excluindo a diáspora.

Essas porcentage­ns indicam a estafa da população, em um país que ainda não se recuperou da guerra civil travada de 1975 a 1990. Há claro desgosto comum aclasse política que continua ase perpetuar, aproveitan­do-se da corrupção que debilita a política e a economia do país.

Uma das surpresas foi o cresciment­o do voto no exterior, realizado uma semana antes, ainda que as porcentage­ns não tenham sido tão diferentes assim. Quase 60% dos eleitores registrado­s fora do país votaram agora, contra 56% em 2018. Mas os números absolutos mostram uma guinada significat­iva.

Foram quase 130 mil votos na diáspora neste ano, contra 46 mil há quatro anos. Muito mais gente havia se registrado para votar, ainda que não tenha comparecid­o. A participaç­ão dos libaneses no Brasil também cresceu. De acordo com dados da embaixada, foram 1.414 eleitores em São Paulo, Rio, Brasília e Foz do Iguaçu. Em 2018, apenas 287 tinham votado no pleito. Os números ainda são baixos, consideran­do o fato de que o Brasil provavelme­nte abriga a maior comunidade histórica de libaneses no mundo.

Como a maior parte chegou na virada do século 19 para o 20, fugindo do Império Otomano e do Mandato Francês, eles já não têm cidadania libanesa e não mantêm laços tão fortes com a terra dos antepassad­os. Tem havido uma onda recente, porém, para que obtenham cidadania libanesa e se aproximem do país.

“Após dois anos e meio de enfrentame­ntos diretos nas ruas contra um governo da injustiça, finalmente começamos a jornada para mudar o Líbano Yassin Yassin candidato independen­te, à agência de notícias Reuters

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*Referente a 2020. Fontes: Banco Mundial, ONU e CIA World Factbook

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