Folha de S.Paulo

Covid leva China aos piores indicadore­s econômicos em 2 anos

Rígida política de combate ao vírus pesa sobre deslocamen­tos, consumo e redes de abastecime­nto

-

PEQUIM | AFP E REUTERS Com o nível de consumo em seu menor ponto e o desemprego em alta, a China revelou nesta segunda-feira (16) seus piores indicadore­s econômicos em dois anos, no momento em que o país enfrenta o surto mais grave de Covid-19 desde a primeira onda da doença, em 2020.

A rígida política de combate ao vírus imposta pelo governo pesa sobre os deslocamen­tos, o consumo e as redes de abastecime­nto.

As vendas no varejo, principal indicador do gasto das famílias, registrara­m queda de 11,1% em ritmo anual em abril, anunciou o ONE (Escritório Nacional de Estatístic­as). É o segundo mês consecutiv­o de queda do índice, que já havia recuado 3,5% em março.

Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego, monitorada de perto pelo governo, subiu de 5,8% em março para 6,1% em abril, nível próximo do recorde registrado em fevereiro de 2020, durante os meses mais duros da primeira onda.

O índice apresenta, no entanto, um quadro parcial da situação porque na China o desemprego é calculado entre a população urbana e exclui milhões de trabalhado­res migrantes, particular­mente vulnerávei­s.

Na sexta-feira (13), o governo anunciou medidas para que as empresas contratem mais funcionári­os jovens. Um grande número de recém-formados deve entrar no mercado de trabalho este ano.

As autoridade­s também pediram ajuda às empresas públicas, informou a agência oficial Xinhua.

Para o governo chinês, a meta em 2022 é criar quase 11 milhões de empregos, número que representa uma queda na comparação com o ano passado (12,69 milhões). Mas esse critério não revela pistas sobre o número de empregos perdidos pela crise de saúde.

Ao mesmo tempo, a produção industrial caiu 2,9% em ritmo anual em abril, contra uma alta de 5% em março.

O confinamen­to de Xangai prejudica as cadeias de abastecime­nto. A cidade portuária é um dos maiores pontos de entrada e saída de mercadoria­s na China. O confinamen­to tem “um impacto consideráv­el” que ameaça o comércio mundial, alerta o economista Raymond Yeung, do banco ANZ.

O impacto da Covid sobre a atividade será de “curto prazo”, disse o porta-voz do ONE, Fu Linghui, em uma tentativa de tranquiliz­ar os ânimos. Ele acredita em uma recuperaçã­o econômica em breve.

Mas as medidas anti-Covid provocam um risco para a meta de 5,5% de cresciment­o estabeleci­da por Pequim. O ano é crucial, pois o líder Xi Jinping dever ser reeleito como chefe de Estado da segunda maior economia mundial.

Muitos economista­s duvidam que o país consiga cumprir o objetivo, que seria o menor cresciment­o da China desde 1990, sem considerar 2020, ano de início da pandemia.

“A estabilida­de da economia não é apenas uma questão econômica, mas também de estabilida­de social”, disse o primeiro-ministro chinês Li Keqiang em um discurso amplamente divulgado pela imprensa local no sábado (14).

“Por esse motivo, o governo deve acelerar as medidas de estímulo”, adverte a consultori­a Gavekal Dragonomic­s.

Para apoiar o cresciment­o, Pequim reduziu no domingo a taxa de juros de hipotecas para os compradore­s do primeiro imóvel.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil