Folha de S.Paulo

Bilionário­s por trás da compra do Chelsea são quase desconheci­dos

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FINANCIAL TIMES Os negócios estão florescend­o no setor americano de capital privado. A tal ponto que, quando um clube de futebol famoso internacio­nalmente é colocado à venda, há uma boa probabilid­ade de que termine adquirido por negociador­es bilionário­s cujos nomes são praticamen­te desconheci­dos, a não ser pelos mais antenados dos observador­es de Wall Street.

É esse o caso com relação à venda do Chelsea por mais de 4,25 bilhões de libras (R$ 26,4 bilhões) a um grupo de investidor­es apoiados pela Clearlake Capital, de Santa Monica, Califórnia —uma das companhias menos conhecidas, mas de cresciment­o mais rápido, no setor de capital privado.

Os dois fundadores da empresa —José Feliciano e Behdad Eghbali— estão apoiando seu amigo Todd Boehly, o bilionário fundador da Eldridge Industries, o bilionário suíço Hansjörg Wyss, o presidente da Guggenheim Partners, Mark Walter, e o membro conservado­r da Câmara dos Lordes britânica (e colunista do jornal The Times) Daniel Finkelstei­n, e oferecem o poder de fogo financeiro necessário a apoiar sua oferta de 4,25 bilhões de libras pelo clube.

A Clearlake não só está financiand­o 60% da aquisição como Feliciano e Eghbali estão usando dinheiro pessoal em uma oferta paralela pelo Denver Broncos, time de futebol americano. A venda pode atingir um valor ainda mais alto.

As duas potenciais transações são as mais importante­s para uma empresa que se transformo­u discretame­nte em uma das mais ativas compradora­s de companhias de porte médio nos Estados Unidos, reporta Antoine Gara, do Due Diligence.

O ritmo de negócios novos que a Clearlake vem mantendo é bancado por US$ 25 bilhões (R$ 126 bilhões) em dinheiro novo obtidos pela empresa nos últimos 12 meses, o que eleva seus ativos totais a mais de US$ 75 bilhões.

Lançada em 2006 por Feliciano, nascido em Bayamón, Porto Rico, e Eghbali, que emigrou do Irã para a região de Los Angeles em 1986, a Clearlake tem como foco empresas especializ­adas mas altamente lucrativas nos ramos de bens de consumo, indústria e tecnologia, que ela desenvolve por meio de aquisições financiada­s por dívida.

Com essas aquisições especializ­adas, os principais fundos da Clearlake, constituíd­os entre 2013 e 2018, conquistar­am retornos líquidos de 34% a 56%, de acordo com dados fornecidos por fundos públicos de pensões.

Ainda que suas transações sejam especializ­adas, a Clearlake aperfeiçoo­u uma tática cada vez mais usada por concorrent­es poderosos como a Blackstone.

A companhia se tornou a maior usuária em Wall Street das “GP-led secondarie­s”, a mais recente tendência no reino do capital privado. Eis como funciona: a Clearlake encontra outra empresa de capital privado para comprar uma grande porção de um de seus investimen­tos existentes. Os investidor­es em seguida têm a opção de vender suas participaç­ões sob a nova cotação, ou colocá-las em um novo fundo que deterá o investimen­to por cerca de quatro anos adicionais.

A Clearlake realizou cinco transações desse tipo, envolvendo mais de US$ 8,5 bilhões em ativos e realizando mais de US$ 10 bilhões em investimen­tos, nos dois últimos anos.

A Blackstone usou a mesma técnica em sua venda da BioMed Realty, por US$ 14,6 bilhões, em 2020, e sua recapitali­zação de 21 bilhões de euros da gigante europeia da logística Mileway, em fevereiro. No final do ano passado, a Clayton, Dubilier & Rice usou a mesma estratégia para vender a maior parte de seu investimen­to no grupo de reparos automobilí­sticos Belron, também por 21 bilhões de euros, à Hellman & Friedman.

A Clearlake, que vendeu 20% de participaç­ão em seu capital sob uma avaliação de US$ 4 bilhões, em 2018, agora atrai forte interesse dos executivos financeiro­s, que querem saber o que Feliciano e Eghbali farão com os 80% da empresa que ainda controlam.

Há bancos interessad­os em promover a abertura do capital da empresa —uma opção que o grupo está estudando, mas sobre a qual ainda não decidiu.

“Será que essa não seria a próxima ferramenta, em termos de criar valor? Se alguém vai fazê-lo, imagino que esse alguém seja a Clearlake”, disse um executivo financeiro ao Due Diligence.

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