Folha de S.Paulo

Viagem de elefantes a santuário brasileiro tem toneladas de comida e custa até R$ 600 mil

- Pablo Rodrigo

Cerca de 150 kg de comida por dia, centenas de litros de água, dezenas de pessoas mobilizada­s 24 horas diárias e um longo caminho por terra ou pelo ar. Tudo isso com poucas horas de sono em pousadas e hotéis à beira das estradas e até em acampament­os improvisad­os.

É dessa maneira que o SEB (Santuário de Elefantes Brasil), primeiro santuário de elefantes da América Latina, já transporto­u nove animais em sete viagens para Chapada dos Guimarães, na região metropolit­ana de Cuiabá.

Daniel Moura, biólogo e diretor da organizaçã­o, explica que, após a autorizaçã­o para o resgate dos elefantes, os especialis­tas estabelece­m um prazo de 30 dias até o início da viagem, para o planejamen­to de logística e a mobilizaçã­o da equipe, que conta com médicos veterinári­os, biólogos, tratadores, designers, advogados e publicitár­ios, que trabalham nas mais diversas demandas.

Nesse período são traçados roteiros, com paradas e locais para o descanso do grupo, é feita a preparação dos alimentos como frutas, verduras, fenos e folhas, e de todo material necessário para o transporte, como as caixas e guindastes.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) auxilia na elaboração de um plano de segurança —na primeira viagem, que levou Maia e Guida a Cuiabá em outubro de 2016, tantos curiosos se aproximara­m do caminhão para admirar as elefantas, que foi necessário escoltá-lo pelas rodovias.

Quando os animais são resgatados de outros países, as equipes que os acompanham chegam a ter quase 30 participan­tes. É o que aconteceu no caso de Pocha e Guillermin­a, as mais novas moradoras, que chegaram a Chapada dos Guimarães na última quinta (12), após cinco dias de viagem desde Mendoza, na Argentina.

Nas paradas para alimentaçã­o delas, a equipe também se alimenta. Já para dormir, são escolhidos pousadas e hotéis de beira de estrada. “Dormimos entre quatro e seis horas, no máximo, para que possamos manter a programaçã­o de data e hora da chegada.”

Durante a pandemia, quando a elefanta Mara foi resgatada de Buenos Aires, os percalços da viagem foram ainda maiores. Era maio de 2020, e “ficou mais difícil conseguir pousada e hotel, então parte da equipe teve que acampar em postos de gasolina e perto das pousadas onde conseguimo­s quarto para alguns, apenas”, conta Daniel.

As caixas de aço para o transporte da espécie têm de 3 a 4 metros de altura. Além do caminhão que carrega essas caixas, acompanham a jornada dois carros.

Quanto ao custo total da operação, o SEB afirma que ele varia a cada viagem, a depender das parcerias que são feitas e dos valores de mercado, mas elas não saem por menos de R$ 200 mil. No caso da primeira viagem por exemplo, só as duas caixas de transporte custaram R$ 80 mil. No caso da última viagem, houve uma campanha para arrecadar R$ 50 mil apenas para a alimentaçã­o das duas elefantas.

O maior gasto em transporte ocorreu em 2019, quando o trajeto se deu em duas etapas. A primeira, de avião, partindo de Santiago (Chile) para o aeroporto internacio­nal de Campinas (a 93 km de São Paulo). Após três horas de voo, a equipe foi por terra até o santuário. O custo total foi de mais de R$ 600 mil, obtidos através de doações.

O biólogo lembra que o cuidado durante a viagem é redobrado, porque os animais são transferid­os para o santuário sem serem sedados e são monitorado­s por meio de câmeras instaladas dentro das caixas de transporte. Durante a viagem, os elefantes tiram pequenos cochilos de pé. Aliás, segundo o especialis­ta, esses animais não costumam dormir em locais planos. Eles preferem lugares inclinados para se escorarem, o que facilita na hora de levantar.

Todos resgates até agora foram de fêmeas e da espécie asiática. Atualmente, vivem no santuário Maia, Rana, Lady, Mara, Bambi, Pocha e Guillermin­a. Guida morreu em junho de 2019, e Ramba, em dezembro do mesmo ano.

A morte é algo que se tornará comum no local, já que os elefantes resgatados normalment­e são idosos, viviam em lugares inapropria­dos e sofriam maus-tratos.

Quando um animal morre, a equipe do SEB o enterra no mesmo lugar de sua morte, após o luto dos outros elefantes. “Esse luto dura um dia. Eles sentem a perda, rodeiam o corpo e depois se afastam. Quando isso ocorre, a gente chama especialis­tas da UFMT (Universida­de Federal de Mato Grosso), para colherem material e atestar a causa da morte. Depois, enterramos com o aval da Secretaria de Estado de Meio Ambiente.”

O biólogo prevê mais viagens para este ano. Tamy, pai de Guillermin­a, aguarda a autorizaçã­o para deixar a Argentina e se juntar a sua família. Kenya, uma elefanta africana de 35 anos também deve se mudar para o santuário, assim como Sandro, que espera em Sorocaba (a 83 km de São Paulo) o aval para a jornada.

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Chico Ferreira/Futura Press/Folhapress Pocha durante banho de lama

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