Folha de S.Paulo

Ministros do STF veem ação como factoide

Para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a iniciativa foi ‘mais um episódio de anormalida­de institucio­nal’

- Julia Chaib

BRASÍLIA Integrante­s do STF (Supremo Tribunal Federal) viram na ação que Jair Bolsonaro (PL) apresentou contra o ministro do tribunal Alexandre de Moraes mais uma tentativa do presidente de desviar o foco de problemas do governo, entre eles o avanço da inflação e a alta dos combustíve­is.

Membros da corte avaliaram que a ofensiva judicial é um factoide para a militância.

Bolsonaro entrou com notícia-crime no STF alegando “abuso de autoridade” de Moraes. Nesta quarta-feira (18), o ministro Dias Toffolli negou dar prosseguim­ento ao caso.

Para ministros do Supremo e interlocut­ores, a maioria dos magistrado­s é favorável ao arquivamen­to da ação. O fato de a notícia-crime ter ficado sob a relatoria de Toffoli, responsáve­l por abrir o inquérito das fake news em 2019, enquanto presidente do STF, agilizou o encerramen­to do tema.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a iniciativa de Bolsonaro era “mais um episódio de anormalida­de institucio­nal”, mas que o assunto estava resolvido, evitando confronto direto com o mandatário, alegando que a iniciativa está dentro dos limites constituci­onais.

“Eu vejo que há um direito constituci­onal, que é o direito de petição, de deduzir pretensões perante o Judiciário. É uma notícia-crime submetida ao Supremo e parece que hoje já houve decisão do ministro Dias Toffoli, julgando improceden­te já avançando pelo mérito”, afirmou Pacheco.

“[Foi] mais um episódio de anormalida­de institucio­nal que a gente busca corrigir e é muito importante que se corrija e que as instituiçõ­es e os membros dessas instituiçõ­es possam se respeitar. Mas obviamente que aquilo que estiver dentro dos limites constituci­onais, do direito de pedir e do direito de um Poder ou instituiçã­o negar, isso está dentro também da normalidad­e”, completou.

Na petição, Bolsonaro alegou que Moraes teria cometido crime ao postergar o prazo de encerramen­to do inquérito das fake news, ainda em vigor.

Toffoli recusou a argumentaç­ão dizendo que o pedido do presidente não traz “indícios, ainda que mínimos, de materialid­ade delitiva, não havendo nenhuma possibilid­ade de enquadrar as condutas imputadas em qualquer das figuras típicas apontadas”.

Após entrar com a ação, na terça (17), Bolsonaro enviou mensagem a aliados afirmando que adotou a medida devido à postura de Moraes de “desrespeit­o à Constituiç­ão e ao desprezo aos direitos e garantias fundamenta­is”.

O texto foi divulgado nas redes sociais por aliados que integram a base mais fiel e considerad­a radical do mandatário.

A avaliação de Toffoli, de que falta justa causa à notícia-crime, é compartilh­ada por ministros de tribunais superiores.

A avaliação no STF e no STJ (Superior Tribunal de Justiça) é que Bolsonaro tenta desviar o foco de problemas econômicos e inflar a base de apoiadores, às vésperas da eleição.

Bolsonaro também procura uma saída para minimizar os impactos da alta dos combustíve­is no bolso do consumidor e tem tido dificuldad­e de encontrar uma solução.

O presidente trava embate com Moraes desde o ano passado. Além de já ter feito críticas públicas ao magistrado, chegou a apresentar pedido de impeachmen­t contra o ministro no Senado —arquivado por Rodrigo Pacheco.

A formalizaç­ão do pedido de impeachmen­t ocorreu em agosto passado, no dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do cantor Sérgio Reis e do deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), aliados do presidente.

Nesta quarta, ao rejeitar a ação de Bolsonaro contra Moraes, Toffoli alegou que o fato de o ministro ser relator do inquérito das fake news “não é motivo para se concluir que teria algum interesse, tratando-se de regular exercício da jurisdição”.

Além da investigaç­ão sobre disparo de notícias falas, Moraes é o relator de inquérito que apura o vazamento de dados sigilosos por Bolsonaro.

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