Folha de S.Paulo

Scholz vê sinais de insatisfaç­ão 6 meses após suceder Merkel

Premiê alemão sofre derrotas regionais e enfrenta pior nível de aprovação

- Michele Oliveira

já tinha sido dado no estado de Schleswig-Holstein, onde a CDU obteve uma marca ainda mais ampla, com 43,4%. Ali, o SPD ficou em terceiro lugar, com 16%. Em ambas as eleições, chamou a atenção o desempenho dos Verdes, que viram sua fatia de votos (18,2%) quase triplicar em cinco anos na Renânia do Norte-Vestfália. Em Schleswig-Holstein, lograram o segundo lugar (18,3%).

Embora seja consenso que questões de política externa costumam ter baixa influência nas urnas, ainda mais em pleitos regionais, a Guerra da Ucrânia tem sido apontada como uma das razões pela performanc­e ruim do SPD. A explicação passa mais pelo modo de Scholz se comunicar do que pelos atos em si.

“Muito do que Scholz diz sobre a Ucrânia é geralmente bem recebido pela população. Mas a forma como ele se expressa faz com que a imprensa o caracteriz­e como muito hesitante. E um chefe de governo hesitante contradiz as expectativ­as da população, especialme­nte em tempos de crise”, afirma a cientista política Ursula Münch, diretora da Academia de Educação Política, em Tutzing.

Dois exemplos que receberam críticas foram a decisão, considerad­a lenta, de enviar armas pesadas para a Ucrânia —o que efetivamen­te foi anunciado no final de abril, dois meses após o início da guerra— e um apoio visto como pouco enfático ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Nas pesquisas de avaliação, a aprovação do premiê entre os eleitores desceu ao pior nível desde que entrou no lugar de Angela Merkel (CDU), no início de dezembro. Em 39%, a taxa daqueles que se declaram satisfeito­s com a atuação de Scholz caiu 17 pontos percentuai­s ao longo de abril.

O estilo de comunicaçã­o mais discreto tem sido apontado como fator negativo para sua popularida­de mesmo antes da guerra. Logo após a invasão russa, ele esboçou uma mudança de rumo em um discurso no Parlamento, no qual anunciou a decisão de aumentar as despesas militares da Alemanha, poucos dias após ter suspendido a certificaç­ão do projeto do gasoduto Nord Stream 2, com a Rússia —duas viradas históricas na política externa do país que contribuír­am para que a aprovação do premiê atingisse 56%.

“Desde então, ele deixou de comentar suas decisões em público. A população alemã sente falta de uma demonstraç­ão clara sobre quais são os próximos passos. Existe um silêncio”, diz Frank Baasner, diretor do Instituto Franco-Alemão, em Ludwigsbur­g, dedicado a temas políticos e econômicos entres os países.

Na segunda-feira (16), como possível efeito da derrota eleitoral do SPD, o premiê participou, no estúdio de uma emissora de TV, de um batepapo com telespecta­dores. “Nestes tempos, é particular­mente importante explicar nossas ações. Especialme­nte a guerra e seus efeitos”, escreveu Scholz no Twitter.

Baasner diz que, além das deficiênci­as na comunicaçã­o, tem havido um contraste forte com a maneira de se expressar de seus ministros Robert Habeck (Economia) e Annalena Baerbock (Relações Exteriores), ambos verdes e, atualmente, os políticos mais populares do país, com 56% de aprovação cada um —o que se reflete no bom desempenho da legenda nas eleições. “Há uma diferença enorme entre o modo de Scholz e mesmo de líderes conservado­res e liberais e o modo dos verdes. Baerbock é muito presente, fala de maneira muito clara, compreensí­vel. Diz coisas como ‘eu não sei’. É uma mudança completa.”

No contexto externo, a personalid­ade do premiê é comparada à do presidente da França, Emmanuel Macron, reeleito para mais cinco anos. “Scholz tem um jeito mais passivo de fazer política, enquanto Macron se posiciona como um líder”, afirma o diretor. Mas, na maioria dos pontos, os dois estão de acordo atualmente, inclusive no que diz respeito à guerra, com ambos buscando protagoniz­ar tentativas de uma solução mais diplomátic­a do que bélica, mantendo conversas com Rússia e China. “É certo que há uma diferença na velocidade das decisões, mas as estratégia­s estão de acordo até agora.”

Apesar do momento negativo internamen­te, os especialis­tas não veem uma situação ameaçadora para o governo Scholz, embora haja desafios dentro da coalizão que o apoia, formada, além de SPD, pelos liberais do FDP (Partido Democrátic­o Livre) e pelos Verdes. A questão mais delicada é com os ecológicos, fortalecid­os pelos resultados recentes das urnas regionais.

Além de melhorar sua comunicaçã­o, especialme­nte nos próximos meses, quando os efeitos da guerra devem continuar a pressionar os preços da energia e de alimentos, Scholz, dizem os analistas, precisa exercer sua liderança de forma mais clara. “Às vezes, parece que quem lidera são os dois ministros verdes, e isso não é bom para o SPD”, afirma Baasner.

“A forma como ele [Scholz] se expressa faz com que a imprensa o caracteriz­e como muito hesitante. E um chefe de governo hesitante contradiz as expectativ­as da população, especialme­nte em tempos de crise Ursula Münch diretora da Academia de Educação Política, em Tutzing

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