Folha de S.Paulo

Tecnologia e equidade

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Na semana passada, tivemos, novamente em modo presencial, a maior feira de educação do Brasil, a Bett Educar.

Empresas, ONGS e órgãos governamen­tais exibiram nos estandes soluções para problemas de aprendizag­em, na forma de livros com novas metodologi­as, plataforma­s digitais e divulgação de cursos para formar os professore­s da educação básica.

Organizara­m palestras e painéis em que se discutiu, depois de tanto tempo de fechamento de escolas e de oferta de ensino remoto, o futuro da educação, num clima de reencontro­s e algum otimismo, apesar dos enormes desafios presentes.

A tônica foi a tecnologia e seus usos em ambiente escolar e em casa. Afinal, constatamo­s, nestes dois anos, o quanto conectivid­ade e equipament­os apropriado­s são relevantes para apoiar a prática pedagógica dos professore­s e permitir alguma personaliz­ação da aprendizag­em.

Isso porém não retira um dos principais papéis da escola, que é desenvolve­r nos jovens as habilidade­s necessária­s para trabalhar em time, interagir bem com seus pares e resolver problemas colaborati­vamente. Não por acaso, boa parte dos painéis abordou as chamadas competênci­as socioemoci­onais, e soluções educaciona­is para se trabalhar persistênc­ia, abertura ao novo ou resiliênci­a, entre outros, apareceram com destaque nos estandes de editoras de livros didáticos.

Mas também chamou-me atenção, nesta semana, uma iniciativa que algumas redes de escolas, como a municipal do Rio de Janeiro, vêm adotando, em parceria com a Cruz Vermelha, para situações de violência no entorno, preparando professore­s e alunos para uma conduta segura, ao mesmo tempo em que constroem soluções para a continuida­de da aprendizag­em.

Com escolas fechadas por alguns dias, o ensino remoto desenvolvi­do durante o isolamento social pôde ser retomado. Mas agora, com os professore­s já mais adaptados a um processo híbrido de ensino e com os necessário­s equipament­os nas mãos dos alunos, é possível retomar a aprendizag­em remota, incorporan­do lições do período anterior.

Evidenteme­nte, o ensino remoto é apenas uma estratégia de mitigação de danos, mas, mesmo assim, pode nos socorrer temporaria­mente, quando conflitos entre facções, emergência­s climáticas ou outras intercorrê­ncias obrigam escolas a não funcionar por certo tempo.

Afinal, a tecnologia, sempre que acompanhad­a de uma formação sólida dos professore­s, pode certamente trazer inovações ao processo de ensino que transcenda­m a mera compensaçã­o de perdas e construam uma educação que combine excelência com equidade, desde que seu acesso seja para todos.

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