Ator de ‘Stranger Things’ cresce e vive babaca em filme de Cannes
Longa intimista com Finn Wolfhard tem mais cara de Sundance, mas presença de Julianne Moore foi ponto alto no festival
cannes (frança) Eles crescem tão rápido —e nem sempre para o bem. Ao menos é o caso dos personagens interpretados por Finn Wolfhard.
Senasérie “stranger things” ele faz parte da trupe de crianças fofas que conquistou milhões de fãs ao redor do mundo, ele agora aparece no Festival de Cannes como um adolescente insuportável no filme “When You Finish Saving the World”, algo como quando você terminar de salvar o mundo.
O longa marca a estreia na direção do ator Jesse Eisenberg, de “A Rede Social”, seguindo um movimento cada vez mais expressivo de atores indo para trás das câmeras —em Cannes há ainda Riley Keough, neta de Elvis Presley, que exibe o seu “War Pony”.
Eisenberg também assina o roteiro de “When You Finish Saving the World” e a série em áudio na qual este foi baseado. Dela, trouxe o protagonista Wolfhard, que reprisa o papel de um adolescente abobado e despolitizado, que ganha dinheiro fazendo música para seus 20 mil seguidores na internet.
As letras que escreve, sobre “biscoitos esmigalhados” e a paquera da escola, se opõem à música clássica que sua mãe escuta diariamente enquanto dirige para o trabalho, um centro de acolhimento para mulheres vítimas de violência.
Sua vocação é o serviço social, ajudar quem precisa — mas, enquanto ela não parece ter dificuldades para se conectar com aqueles que chegam ao abrigo, o filho, para Evelyn, é um completo desconhecido. Julianne Moore faz a mãe que, apesar do trabalho altruísta, é tão autocentrada quanto o filho Ziggy, que cria seu repertório com base no que deve arrancar mais dinheiro dos fãs.
A relação conturbada dos dois se degrada quando ele descobre que sua paquera frequenta um clube de arte militante, onde lê poemas sobre o imperialismo nas Ilhas Marshall e assiste a performances sobre um ventriloquista que representa o capitalismo.
Evelyn acredita que Ziggy, fútil e desbocado do jeito que é, seria incapaz de escrever canções políticas. Em paralelo, recebe em seu centro de acolhimento uma mulher e seu filho, que se apresenta como o sonho de qualquer mãe.
Ele é sensível, ternamente prestativo e dedicado. O pacote completo para uma mãe que, ao chegar em casa, mal conversa com o marido e vai direto bater boca com o filho.
“When You Finish Saving the World” foi o filme de abertura da Semana da Crítica e agora concorre à Câmera de Ouro, destinada a jovens cineastas. Foi com aplausos entusiasmados que encerrou uma de suas sessões, num teatro lotado a três quilômetros do Palácio dos Festivais, com um público do qual se sobressaíram os adolescentes e jovens adultos.
Os comentários em Cannes são de que o filme tem mais cara do festival Sundance do que da Riviera, com seu drama familiar intimista e o jeito escancarado de filme americano indie. Parece, de fato, um tanto desconexo do que se vê no evento francês, mas foi uma boa adição numa edição sem grandes estrelas hollywoodianas —Moore foi uma das poucas que abrilhantaram o tapete vermelho até agora.
Outra estreia simpática e honesta de um ator na direção foi “Le Otto Montagne”, ou as oito montanhas, que a belga Charlotte Vandermeersch assina com o veterano Felix van Groeningen. O longa concorre à Palma de Ouro com a história de uma amizade ao longo de duas décadas.
Pietro e Bruno são apenas crianças quando se conhecem nas montanhas da Itália e, com o passar dos anos, veem sua história se cruzar e se afastar. Tanto que o filme, às vezes, parece se perder.
Não deixa de ser uma história bonita e bem fotografada, que perpassa temas inerentes à inocência da infância e às turbulências de qualquer amizade. Em resumo, “Le Otto Montagne” é uma ode às amizades, e aos erros e acertos que cometemos enquanto tentamos manter esses laços.