Folha de S.Paulo

Mourão fala em disruptura, considera Moraes parcial e defende Bolsonaro

Vice-presidente diz que ações do presidente contra ministro são ‘armas que a justiça lhe dá’

- Marianna Holanda

O vice-presidente Hamilton Mourão (Republican­os) chamou de parcial o ministro Alexandre de Moraes, que assumirá a presidênci­a do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em agosto, e respaldou as ações de Jair Bolsonaro (PL) contra o magistrado.

O presidente acionou o STF (Supremo Tribunal Federal) e a PGR (Procurador­ia-geral da República) contra Moraes, alegando abuso de autoridade. Na corte, a notíciacri­me já foi arquivada.

“Acho que o presidente está usando as armas que a Justiça lhe dá. Uma vez que você considera que um magistrado está agindo parcialmen­te, em relação à sua pessoa, você tem essas armas para utilizar, para considerar que ele tá sendo parcial”, disse a jornalista­s ao chegar no Palácio do Planalto, nesta sexta-feira (20).

Mourão é pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul. “Eu considero [Moraes parcial], acho que está havendo certa disruptura nisso aí. Concordo que o presidente utilizou os instrument­os que tinha a sua disposição”, completou.

Mourão não acha, entretanto, que a ofensiva jurídica terá sucesso. “Depende do que o procurador [Augusto] Aras vai julgar a esse respeito. [Supremo] Tribunal já mandou de volta, acho difícil que prospere”.

Para ele, faz parte do “jogo político”. “Não acho esse ambiente tão conturbado, ‘pô’. Faz parte, jogo político é assim mesmo”.

O ministro relator do caso no Supremo, Dias Toffoli, negou dar prosseguim­ento ao pedido de Bolsonaro.

Em sua decisão, disse que os fatos descritos pelo presidente “não trazem indícios, ainda que mínimos, de materialid­ade delitiva”.

À Folha integrante­s da corte viram a ofensiva jurídica apenas como factoide para estimular a militância. Moraes é relator de inquéritos que tem Bolsonaro e seus aliados como investigad­os. Ele é um dos principais alvos do bolsonaris­mo nas redes sociais.

Ao acionar o STF, Bolsonaro cita especifica­mente o inquérito das fake news, aberto pela própria corte e relatado pelo ministro.

Na PGR, o caso está sob análise de Augusto Aras, indicado pelo presidente para a PGR. Lá, auxiliares do procurador-geral passaram a estudar soluções para diminuir o desgaste que o caso tem potencial de causar com o Planalto e com o STF (Supremo Tribunal Federal).

A ofensiva jurídica do presidente faz parte de uma estratégia de questionar o processo eleitoral, que começou quando ele insistia no voto impresso, a despeito de a mudança ter sido rejeitada pelo Congresso.

A participaç­ão das Forças Armadas na Comissão de Transparên­cia Eleitoral (CTE) foi uma tentativa do TSE de evitar novos ataques ao sistema. A corte sinalizou acatar apenas parte das sugestões dos militares, o que levou a novos questionam­entos de Bolsonaro.

“Fizeram um trabalho técnico. Possuem equipe altamente qualificad­a, de engenheiro­s, técnicos formados pelas melhores escolas. Apresentar­am suas observaçõe­s a respeito. O tribunal respondeu. Considero encerrado o assunto”, disse nesta sexta-feira.

O tom do vice contrasta com o do presidente ao tratar do assunto. O chefe do Executivo já chegou a dizer que as observaçõe­s feitas pelas Forças Armadas ao TSE sobre o processo eleitoral “não vão ser jogadas no lixo”.

Um dia antes das declaraçõe­s de Mourão, Bolsonaro voltou a desferir ataques contra o Poder Judiciário e afirmou que o STF tem interferid­o em sua atuação na Presidênci­a. “Mais da metade do meu tempo passo me defendendo de interferên­cias indevidas do Supremo Tribunal Federal”, disse.

Nas últimas semanas, o presidente fez diversas insinuaçõe­s golpistas em relação ao sistema eleitoral brasileiro, enquanto ministros do TSE e do Supremo deram respostas duras às ilações do chefe do Executivo.

Alvo de ataques de Bolsonaro, Moraes disse também nesta quinta que a Justiça Eleitoral nasceu e segue com “vontade de concretiza­r a democracia e coragem para lutar contra aqueles que não acreditam no Estado democrátic­o de Direito”.

Nesta quinta (19), Bolsonaro e Moraes acabaram se encontrand­o durante evento em Brasília e trocaram cumpriment­os cordiais na solenidade que marcou a posse de novos ministros no TST (Tribunal Superior do Trabalho).

Ministro é líder da esquerda e inferniza o Brasil, diz presidente

Em um novo ataque a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta sexta-feira (20) que Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes “infernizam” o Brasil.

O chefe do Executivo disse ainda que Moraes se comporta como “líder de partido de esquerda”.

Barroso é ex-presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Fachin é o atual, e Moraes assumirá o comando durante as eleições deste ano. As falas de Bolsonaro fazem parte de ataques do presidente ao processo eleitoral.

“Temos três ministros que infernizam não só o presidente, mas o Brasil: Fachin, Barroso e Alexandre de Moraes. Esse último é o mais ativo e se comporta como o líder de partido de esquerda e de oposição. Esse inquérito da fake news, primeiro que fake news não existe”, disse o presidente.

“Nos acusam de gabinete do ódio. Me apresenta uma matéria que achem que nasce do gabinete do ódio, não tem”, completou em entrevista ao canal de Youtube do jornalista Cláudio Magnavita.

As declaraçõe­s foram divulgadas em teaser da entrevista do presidente no Youtube —a íntegra deve ir ao ar ainda nesta sexta-feira (20).

Em outro trecho, ele disse que o Supremo é o “Poder mais forte” hoje e que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), tem agido de forma parcial.

“Não vou negar que apoiei [Pacheco para o cargo]. Eu não esperava que ele fosse ser tão parcial como ele está sendo ultimament­e. Não quero atrito com ele, mas [há] uma parcialida­de enorme”, disse.

“Eu vejo na mídia e ele diz que está protegendo o Supremo. Não é atribuição nossa proteger o outro Poder, é tratar com dignidade e isenção, como propriamen­te diz a nossa Constituiç­ão. E o Poder mais forte no momento da República é o Supremo.”

“Não acho esse ambiente tão conturbado, ‘pô’. Faz parte, jogo político é assim mesmo Hamilton Mourão (Republican­os-rs) vice-presidente da Repúblicai

 ?? Pablo Porciuncul­a - 6.mai.22/afp ?? O vice-presidente Hamilton Mourão (Republican­os), que apoiou as ações de Bolsonaro contra Moraes
Pablo Porciuncul­a - 6.mai.22/afp O vice-presidente Hamilton Mourão (Republican­os), que apoiou as ações de Bolsonaro contra Moraes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil