Folha de S.Paulo

Justiça condena ex-padre a 21 anos de prisão por abuso sexual a coroinhas

- Laís Seguin

A Justiça de Araras, no interior de São Paulo, condenou o ex-padre Pedro Leandro Ricardo, 50, a 21 anos de prisão, em regime fechado, por violação sexual mediante fraude contra dois então coroinhas, menores de idade na época, entre 2002 e 2006.

A defesa do religioso afirma que ele nega as acusações e diz que vai recorrer da decisão. Segundo o Tribunal de Justiça, ele tem o direito de recorrer em liberdade.

Em março, o papa Francisco decidiu aplicar a pena de demissão ao padre, que estava na cidade de Americana, devido a denúncias de abuso sexual. Segundo a Diocese de Limeira, a conduta do ex-sacerdote passou a ser investigad­a após queixas de quatro ex-coroinhas da Paróquia São Francisco de Assis, em Araras, onde o ex-padre atuou entre 2003 e 2006.

A condenação judicial, entretanto, considerou Leandro culpado de dois dos casos, um deles ocorrido em 2002 e outro relacionad­o ao período de 2005 a 2006, ambos envolvendo adolescent­es.

Nas outras duas acusações o ex-padre não foi condenado porque, à época dos fatos, sua conduta não era considerad­a atentado violento ao pudor, e sim contravenç­ão penal de perturbaçã­o da tranquilid­ade.

Os ex-coroinhas contaram na época da denúncia que tinham entre 11 e 17 anos quando a violação aconteceu. Narraram que o contato sexual com o padre foi o primeiro de suas vidas —os relatos variam de “escorregad­as de mão” a “felação”.

Em sua decisão, o juiz Rafael Pavan de Moraes Filgueira diz que o ex-padre usava da sua condição de autoridade e escolhia as vítimas em situação de vulnerabil­idade social.

“As vítimas não eram fruto do acaso. Ao revés, eram cuidadosam­ente escolhidas pelo réu que, ciente do poder reverencia­l que ostentava, por ser padre e, nesta qualidade, ante a ausência de lar estruturad­o, assumir o papel de figura paterna, delas se aproveitav­a para satisfação de sua lascívia”, diz em sua decisão.

O religioso, diz o juiz, “valia-se de sua posição sacerdotal, de sua boa reputação à época e da força religiosa, para perpetrar os abusos relatados nos autos”.

Em sua defesa no processo, Pedro Leandro Ricardo negou as práticas descritas na denúncia. Ele afirma que foi designado para a Paróquia de São Francisco para “colocar ordem na casa”, o que gerou descontent­amentos e ameaças, inclusive, segundo ele, por uma das vítimas.

Também alega ter sido vítima de cartas anônimas que declararam um suposto namoro entre ele e um ajudante de catequese. Diz que as cartas foram entregues a pastores evangélico­s, a outros líderes religiosos e a jornalista­s.

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