75% dos pacientes com Covid longa não foram hospitalizados
Mais de três quartos dos americanos diagnosticados com Covid longa não tiveram sintomas suficientemente graves para serem hospitalizados quando sofreram a infecção inicial. É o que concluiu uma nova análise, divulgada na quarta-feira (18), de dezenas de milhares de pedidos de pagamento de seguro particular.
Os pesquisadores analisaram dados dos primeiros meses depois de médicos começarem a usar um código especial de diagnóstico criado no ano passado para designar a Covid longa. Os resultados traçam um retrato preocupante do impacto sério e de longo prazo da Covid sobre a saúde das pessoas e sobre o sistema de saúde americano.
A Covid longa, uma constelação complexa de sintomas da Covid que persistem ou de sintomas novos que aparecem após a Covid e que podem perdurar por meses ou ainda mais, tornou-se um dos legados mais temíveis da pandemia. As estimativas sobre o número de pessoas possivelmente afetadas variam entre 10% e 30% dos adultos infectados.
Um relatório recente do Government Accountability Office, um órgão federal dos EUA, diz que entre 7,7 milhões e 23 milhões de pessoas nos Estados Unidos podem ter desenvolvido Covid longa. Mas ainda há muito que não é sabido sobre a prevalência, as causas, os tratamentos e consequências da condição.
O novo estudo vem somarse a um conjunto crescente de evidências de que, embora pacientes que foram hospitalizados corram risco maior de apresentar Covid longa, pessoas com infecções de coronavírus iniciais de leves a moderados — que compõem a vasta maioria dos pacientes com coronavírus— ainda podem sentir sintomas pós-covid debilitantes, incluindo problemas respiratórios, fadiga extrema e problemas cognitivos e de memória.
“Isso está gerando uma pandemia de pessoas que não chegaram a ser hospitalizadas, mas acabaram com incapacidade aumentada”, diz Paddy Ssentongo, professor assistente de epidemiologia de doenças infecciosas na universidade Penn State, que não participou do novo estudo.
Baseada no que o artigo descreveu como o maior banco de dados de pedidos de pagamento de seguros privados de saúde nos EUA, a análise descobriu que entre 1º de outubro de 2021 e 31 de janeiro de 2022, 78.252 pacientes foram diagnosticados com o novo código da Classificação Internacional de Doenças —código de diagnóstico U09.9, referente a “condição não especificada pós-covid 19”.
Claire Stevens, médica no King’s College London e não envolvida na nova pesquisa, disse que o número total de pessoas que recebe o diagnóstico é enorme, considerando que o estudo cobriu apenas os primeiros quatro meses após a introdução do código de diagnóstico e não incluiu pessoas cobertas por programas governamentais de assistência médica como Medicaid ou Medicare (se bem que incluiu pessoas com planos particulares Medicare Advantage).
“É provável que seja apenas uma gota no oceano em comparação com o número real”, disse Stevens.
Realizado pela Fair Health, ONG que trabalha com custos de assistência médica e questões de seguro, o estudo concluiu que 76% dos pacientes com Covid longa não precisaram ser hospitalizados pela infecção inicial.
Outra conclusão surpreendente foi que, embora dois terços dos pacientes tivessem problemas de saúde preexistentes, quase um terço não tinha —uma porcentagem muito mais alta do que Ssetongo disse que teria previsto.
Os pesquisadores pretendem continuar a acompanhar os pacientes para averiguar quanto tempo seus sintomas perduram, mas Robin Gelburd, presidente da Fair Health, disse que a organização decidiu divulgar os dados dos primeiros quatro meses agora, “dada a urgência” da questão.
A organização pretende analisar quantos pacientes no estudo foram vacinados e quando, disse Gelburd. Mais de três quartos dos pacientes no estudo foram infectados em 2021, a maioria deles no segundo semestre do ano. Em média, os pacientes continuavam a apresentar sintomas de Covid persistente que os qualificavam para o diagnóstico quatro meses e meio depois de infectados.
Quase 35% dos pacientes tinham entre 36 e 50 anos de idade, quase um terço, entre 51 e 64, e 17% estavam na faixa dos 23 aos 35 anos. Crianças também foram diagnosticadas com condições póscovid: quase 4% dos pacientes tinham 12 anos ou menos, e quase 7%, entre 13 e 22 anos. Seis por cento dos pacientes tinham 65 anos ou mais.