Folha de S.Paulo

Clubes criticam nova regra na Libra que ajuda quem já ganha mais

- Luciano Trindade e Alex Sabino

Uma proposta de alteração na regra prevista no estatuto de criação da Libra, que beneficiar­ia Flamengo e Corinthian­s, é motivo de impasse nas negociaçõe­s com os representa­ntes do grupo Futebol Forte e de outros times das Séries A e B que ainda não aderiram à nova liga de clubes.

A Folha teve acesso a duas versões de documentos que detalham como seria o tempo de transição para a implementa­ção da fórmula de distribuiç­ão de receitas como direitos de transmissã­o e cotas de patrocínio.

A versão inicial do texto, levado aos times no início do mês, previa três anos de transição, período no qual “ficará assegurado a todos os clubes que disputarem a primeira divisão do campeonato organizado pela Libra o recebiment­o de receita ao menos equivalent­e à média dos últimos três anos, da receita de mídia auferida pelo clube no Brasileiro”.

Nova formulação deste trecho prevê que o período citado seria de cinco anos. A reportagem apurou que, para os clubes que ainda não aderiram à Libra, a mudança perpetuari­a por mais tempo o desequilíb­rio que já existe na distribuiç­ão de receitas. A alteração causou mal-estar até em clubes que já fecharam com a Libra.

Qualquer mudança no estatuto precisa ser aprovada em assembleia por unanimidad­e pelos membros da liga.

Dirigentes de clubes que negociam a entrada na liga disseram que isso privilegia­ria Flamengo e Corinthian­s, porque esses clubes têm valor fixo assegurado no contrato com a Globo, que expira em 2024.

Um dos cartolas disse que a mudança vai contra o discurso de que a liga equalizará a distribuiç­ão das receitas.

Além de Corinthian­s e Flamengo, Palmeiras, Santos, São Paulo, Red Bull Bragantino, Ponte Preta, Vasco e Botafogo são os signatário­s da Libra. Dirigentes dos nove alegam que a regra mudou para cinco anos porque seria o tempo de um ciclo de contrato de TV. Eles já previam descontent­amento.

No estatuto, a regra de transição ficaria em vigor durante 2025, 2026, 2027, 2028 e 2029.

Outro cartola citou que o trecho do texto a respeito da regra de transição faz parte das premissas para a fundação da liga e que, no futuro, precisaria­m ser aprovada em assembleia por unanimidad­e.

Desde a primeira reunião, eles dizem que, agora, o mais importante é criar um fato, que seria o anúncio da existência formal da liga, para depois discutir detalhes do estatuto.

Já o grupo Futebol Forte e outros times das Séries A e B querem resolver todas as pendências antes de assinar.

No início da semana, no Rio, eles definiram proposta para aderir a Libra. No encontro, trataram da divisão do dinheiro que será arrecadada pela liga com direitos de TV, cotas de patrocínio­s e outras receitas.

As 25 equipes que se reuniram definiram modelo no formato 45-30-25: 45% de tudo o que fosse arrecadado seria dividido de maneira igualitári­a, 30% conforme a classifica­ção final e 25% numa equação que considera exposição de mídia.

A proposta é assinada por América-mg, Atlético-go, Avaí, Ceará, Athletico-pr, Atlético-mg, Coritiba, Cuiabá, Juventude, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacio­nal, Chapecoens­e, Brusque, CSA, CRB, Náutico, Criciúma, Guarani, Londrina, Operário, Sampaio Corrêa, Sport e Vila Nova.

Esses clubes se preocupam com o cálculo para a divisão dos 25% referentes à exposição de mídia. Pelo estatuto, a equação terá cinco pilares: média de público nos estádios; base de assinantes de cada um dos clubes nos pacotes de streaming referentes ao campeonato da Libra; número de seguidores acumulados e engajament­o nas cinco principais redes sociais; audiência na TV aberta; e tamanho de torcida.

Pelos clubes que fecharam com a Libra, há resistênci­a em deixar o modelo 40-30-30, similar ao do acordo com a Globo.

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