Aliado do presidente, Castro afirma que não é seu papel ‘jogar lenha na fogueira’
Pré-candidato à reeleição no Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro (PL) disse não ver nenhum ato do presidente Jair Bolsonaro (PL), seu aliado e fiador de sua campanha, que indique uma eventual tentativa de golpe.
Questionado sobre a escalada antidemocrática de Bolsonaro, respondeu que não é papel de um governador colocar lenha na fogueira. Em sintonia com a estratégia de sua pré-campanha, disse que tem trabalhado como um mediador, apostando no diálogo.
Castro afirmou ter pacificado as relações do estado com o governo federal e com a Assembleia Legislativa, conflituosas no mandato de seu antecessor, o ex-governador Wilson Witzel, de quem foi vice.
“Não acho que agrego o país jogando lenha na fogueira. Tenho conversado com vários ministros, com o pessoal da Presidência, tentando agir como apaziguador”, disse.
O governador foi entrevistado em sabatina de Folha e UOL, na tarde desta sexta (20).
Evitando confronto com Bolsonaro, afirmou ainda que nunca questionou as urnas eletrônicas, mas que qualquer trabalho para melhorar a segurança é positivo.
Disse acreditar na reeleição do aliado e que não há “momento político e institucional” para um golpe de estado.
Sobre eventual aproximação com Lula —alguns apoiadores de Castro são favoráveis ao ex-presidente e estimulam o voto Castro-lula—, respondeu que seu candidato sempre foi Bolsonaro.
Criticado por supostamente lotear cargos no governo para aliados, afirmou: “O que eles chamam de loteado, eu chamo de governo de coalizão”.
Na próxima segunda-feira (23), o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro julga a validade da delação premiada de Bruno Selem, funcionário da Servlog, empresa que mantinha contratos com órgãos estaduais.
Em sua colaboração, Selem disse que Castro “recebia propinas e auferia vantagens políticas com o projeto Qualimóvel municipal”, desde quando era vereador até quando foi vice-governador, em 2019.
A delação conta, inclusive, com vídeos de Castro com uma mochila que, segundo o empresário, levava R$ 100 mil em propina. Na ocasião, ele encontrou-se com Flavio Chadud, dono da Servlog, em um shopping na Barra da Tijuca (zona oeste).
Questionado, o governador respondeu que sempre andou de mochila, que naquele dia foi apenas tomar um café da manhã com um amigo, e que não promoveu qualquer interferência nos contratos de Chadud com o estado.
No início do mês, a Folha mostrou que obras estaduais foram utilizadas para promoção da pré-candidata a deputada federal Danielle Cunha, filha do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Trabalhadores das obras vestiram camisas com os dizeres “equipe Dani Cunha”, em referência à aliada do governador.
Castro disse que “é radicalmente contra isso” e que a “Controladoria está em cima para entender o que houve”. “Se a empresa ou algum agente cometeu erro, vai ser punido com certeza.”
A respeito da segurança pública, o governador afirmou que em até 30 dias devem ser instaladas as câmeras nos uniformes policiais.
Ele negou que tenha comemorado as mortes no massacre do Jacarezinho, mas disse que, entre os 28 mortos, apenas o policial André Leonardo Frias era inocente. Na verdade, o Ministério Público constatou que duas das vítimas não eram ligadas ao crime e foram atingidas por acaso durante os confrontos.
“O papel de defender bandido é do meu adversário”, afirmou o governador, em referência ao deputado federal Marcelo Freixo (PSB).
Castro argumentou que tem investido na formação dos agentes de segurança e disse que seu governo tem uma política de segurança clara, que prevê punições aos maus policiais.
“É uma política de segurança pública que está avançando, não se resolve todo o problema que vem de décadas em 21 meses”, afirmou.
Castro lidera a disputa à reeleição no estado com 25% das intenções de voto em um cenário de primeiro turno, segundo a mais recente pesquisa Quaest/genial, divulgada em maio. Freixo (PSB) aparece em seguida, com 18%.
Em terceiro lugar, está Rodrigo Neves (PDT), com 9%. No pelotão seguinte aparecem André Ceciliano (PT), com 2%, Paulo Ganime (Novo), também com 2%, e Felipe Santa Cruz (PSD), com 1%. Branco, nulo e os que não pretendem votar somam 33%. Os indecisos são 10%.